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O momento da renda fixa para o investidor

Com a alta da Selic, taxa básica de juros do país, investimentos ligados a ela se tornam mais atrativos.

Fabio Zenaro, diretor de Produtos de Balcão e Novos Negócios da B3 (Foto de divulgação da B3)

O roteiro é sempre o mesmo. Quando a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, entra em tendência de alta, os olhares dos investidores se voltam para a renda fixa

E isso não é por acaso: nas situações em que o juro sobe, os investidores tendem a ter retornos maiores aplicando nessa classe de ativos — e normalmente correndo menos riscos do que na renda variável.

É exatamente o que está acontecendo no Brasil. Para se ter uma ideia de como o aumento da taxa básica tem sido significativo por aqui, em janeiro do ano passado ela estava em apenas 2% anuais, contra 13,75% agora. Vale destacar que o movimento de aumento das taxas de juros tem sido observado ao redor do mundo e não apenas no Brasil, por conta sobretudo do ambiente inflacionário.

Renda fixa é tudo a mesma coisa?

Definitivamente não. Há vários aspectos que diferenciam os investimentos em renda fixa.

O primeiro aspecto está relacionado ao risco do emissor do título de renda fixa (sim, renda fixa tem risco!). Trata-se do risco mais básico que é o do emissor do papel não pagar seu investimento no vencimento (ou os juros/amortizações ao longo do investimento). 

Como regra geral, quando há maior percepção de risco do emissor do título, há também uma maior remuneração. Essa é a contrapartida que o investidor espera por aceitar o maior risco. Importante notar que alguns títulos de emissão bancária contam com a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), uma espécie de seguro caso o banco quebre, hoje limitado a R$ 250 mil por CPF por instituição. Os títulos mais populares como CDBs, LCIs e LCAs contam com essa proteção. Títulos mais sofisticados como COEs, LFs e LIGs não possuem cobertura do FGC, nem os títulos corporativos como debêntures, CRIs e CRAs. Por isso, fique atento a esse aspecto quando for investir.

Também há diferentes índices de remuneração, que podem ser prefixados, ou seja, você sabe de antemão a remuneração final de seu investimento (taxa PRÉ), pós-fixados, em que a sua remuneração está vinculada a um indicador que flutua conforme as oscilações nas taxas de juros no Brasil (taxas CDI e Selic) ou ainda pós-fixados indexados à inflação, normalmente utilizados para manter o poder de compra do dinheiro (IPC-A e IGPM, por exemplo). 

Outro aspecto a ser considerado é a liquidez do papel. Alguns investimentos costumam possuir a alternativa de resgate diário por parte do investidor (caso da maioria dos CDBs), outros têm um prazo mínimo de carência para resgates (casos da LCI, LCA e LIG) e outros podem não ter a possibilidade de resgate antecipado. 

Nesse último, caso o investidor precise dos recursos, deve encontrar um comprador para o papel, no que é conhecido como negociação no “secundário”. A depender do papel pode haver dificuldade de se encontrar um comprador ou um pênalti grande para a operação. Como regra geral, títulos mais longos e com mais restrição ao resgate costumam pagar taxas mais altas. Assim, é muito importante entender essa característica do investimento para que não haja surpresas em caso de necessidade dos recursos.

Por fim, uma outra característica de diferenciação diz respeito à tributação do título. Como regra geral, investimentos em renda fixa estão sujeitos à tributação na fonte segundo uma alíquota regressiva, de acordo com o prazo da operação, que começa em 22,5% e termina em 15%. Mas alguns títulos temáticos possuem isenção de imposto para a pessoa física, como os LCIs, LCAs, CRIs, CRAs e debêntures de infraestrutura. Dessa forma, o investidor deve olhar a remuneração líquida do papel, e não a bruta para fins de comparação entre os investimentos.

Enfim, renda fixa não é tudo a mesma coisa, mas também não é um bicho de sete cabeças.

Vamos aos números

Os números mostram o aumento da procura dos investidores pelos investimentos em renda fixa. No primeiro semestre de 2022, os títulos de renda fixa corporativos, ou seja, de emissão de empresas não financeiras registrados na B3 que incluem debêntures, Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), Certificado de Recebíveis (CR) e Notas Comerciais, alcançaram estoque no valor de R$ 996,5 bilhões. O número é 31% maior do que o registrado no primeiro semestre de 2021. 

O mesmo movimento pode ser observado nos registros de produtos de renda fixa emitidos por instituições financeiras, incluindo Certificados de Depósito Bancário (CDBs), Recibos de Depósito Bancário (RDBs), Depósitos Interfinanceiros (DIs), Letras Financeiras (LFs), Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras Imobiliárias Garantidas (LIGs). No total, os ativos fecharam o semestre com estoque de R$ 3.283 bilhões, volume 24% maior do que no mesmo período do ano anterior.  

De janeiro a junho deste ano, os maiores registros foram de CDBs, o que elevou o estoque desses títulos para R$ 1,6 trilhão — aumento de 13% na comparação com o primeiro semestre de 2021.

Também se destacaram no período as LCIs e as LCAs: os registros desses dois tipos de títulos mais que dobraram: juntos, alcançaram estoque de R$ 448 bilhões no fim de junho passado, sendo R$ 180 bilhões de LCIs e R$ 268 bilhões de LCA. As altas foram de 56% (para LCIs) e de 74% (para LCAs). Um avanço e tanto.

Variedade de investimentos na palma da mão 

A maioria desses produtos mencionados normalmente podem ser comprados em poucos cliques diretamente no banco de sua preferência ou em uma corretora. 

Você está familiarizado com todos eles? Se ainda não, vale conhecer o funcionamento de cada produto e verificar se ele está de acordo com seus objetivos e perfil de risco.

  • CDBs: São títulos de renda fixa emitidos por instituições financeiras e oferecidos aos investidores/clientes. Nessa operação, na prática o banco está tomando um dinheiro emprestado do investidor, prometendo pagar uma determinada taxa de juros em um período. Costuma ter a possibilidade de recompra pelo investidor a qualquer momento. 
  • Tesouro Direto: É a plataforma em que estão disponíveis títulos emitidos pelo governo federal, por meio do Tesouro Nacional. Quando compra um título público, o investidor está fazendo um empréstimo para o governo, pelo qual vai receber um rendimento no futuro — uma taxa de juros, que pode ser fixada no momento da compra (prefixado) ou depois (pós-fixado). No caso do pós-fixado, o valor investido é corrigido por um indexador, que pode ser a Selic ou o IPC-A. Uma das vantagens do Tesouro Direto é o baixo investimento inicial, a partir de apenas R$ 30.
  • Letras de crédito (LCs) — LCIs e LCAs: As letras de crédito são títulos emitidos por instituições financeiras que estão necessariamente lastreadas em empréstimos e financiamentos concedidos por essas instituições na cadeia imobiliária ou do agronegócio. Como forma de incentivo a essas emissões, esses investimentos são isentos de Imposto de Renda para a pessoa física, o que aumenta a atratividade junto aos investidores.
  • Debêntures, CRIs e CRAs: Títulos de emissão corporativa (empresas não-financeiras) para captação de recursos para financiamento de suas necessidades. Costumam ter taxas mais atrativas que as dos títulos bancários, mas em contrapartida não possuem as facilidades de resgate antecipado, sendo necessário recorrer ao mercado secundário para encontrar um comprador, em caso de necessidade de venda do investimento.

Fique atento às informações para conhecer melhor o mercado e investir com cada vez mais qualidade e consciência. No cenário atual, existem ótimas oportunidades no mercado de renda fixa ao seu alcance!

*Fabio Zenaro é diretor de Produtos de Balcão e Novos Negócios da B3.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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