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Short selling vale a pena? As visões antagônicas de 2 value investors

Guilherme Aché defende que o short selling é fascinante. Por sua vez, Florian Bartunek cita os motivos pelos quais decidiu abandonar essa ferramenta.

Tiago Reis

Entre investidores com perfil fundamentalista, um dos temas que causam mais divergência é a atratividade do short selling. Também conhecida como venda a descoberto, a operação consiste na venda de um ativo sem tê-lo de fato, visando lucrar com uma possível queda da ação alvo.

Tal tipo de operação é possibilitada pela ferramenta do aluguel de ações. Basicamente, o investidor aluga e posteriormente vende essas ações, tendo a obrigação de recomprá-las para a devolução ao término do prazo do aluguel.

Assim, se a cotação das ações caírem, ele poderá recomprá-las por um preço abaixo do que arrecadou com a venda, auferindo lucro considerando que os custos operacionais (como as taxas de aluguel) sejam cobertos.

Durante um evento da Liga de Mercado Financeiro da PUC-Rio, dois reconhecidos value investors brasileiros debateram e manifestaram opiniões opostas sobre a atitude de “apostar contra” determinados ativos.

Guilherme Aché, da Squadra Investimentos, defende que o short selling é fascinante. Por sua vez, Florian Bartunek, da Constellation Asset, citou os motivos pelos quais decidiu abandonar essa ferramenta na gestão dos fundos da casa.

Para Aché, o mercado de venda a descoberto ainda é pouco explorado na bolsa de valores brasileira, o que gera uma gama substancial de discrepâncias entre preço e valor que podem ser exploradas em ativos supervalorizados.

O gestor cita que um dos motivos para tal dinâmica é o fato da identificação de oportunidades para venda a descoberto exigir habilidades diferentes dos investidores – como uma boa leitura das entrelinhas –, uma vez que a maioria das empresas não fazem questão de evidenciar seus pontos negativos.

Como outro ponto atrativo do short selling, argumentou que o mercado tende a ser mais ágil para precificar o pessimismo: “Quando você descobre uma coisa que está indo errado, o ajuste de mercado costuma ser rápido. O otimismo vem com o tempo, o pessimismo tem um impacto mais incisivo no preço das ações no curto prazo.”

Já Bartunek, fundador de um dos primeiros fundos Long & Short do Brasil, argumenta que a ideia foi abortada na medida em que descobriu que esse tipo de operação não condizia com seu perfil.

Para o gestor da Constellation, o grande problema da venda a descoberto abriga em que, ora você decide apostar contra excelentes empresas pelos preços aparentemente elevados, ora está apostando contra empresas que passam por maus momentos, mas que contam com cotações condizentes com tais situações:

“Eu tenho medo de shortear coisa cara porque é boa. Eu tenho medo de shortear coisa ruim porque é muito barata, e pode aparecer alguém e comprar.”

Complementando, Bartunek argumenta que em short sellings a perda é exponencial quando sua análise está errada. Diferentemente da compra de ações, em que a perda é limitada a 100%, nas vendas a descoberto as perdas podem ultrapassar essa linha. Isso acontece pois a possibilidade de alta para esses ativos é teoricamente ilimitada.

Com bons argumentos em ambos os lados do debate, o que se pode concluir é que não há apenas uma forma de ter sucesso nos investimentos. Até mesmo entre dois grandes investidores que adotam a filosofia do value investing, as diferenças de perfil podem guiar para diferentes posturas vencedoras no longo prazo.

As performances dos principais fundos dos gestores em questão não mentem. Iniciando em período semelhante, entre a metade de 2007 e o início de 2008, ambos multiplicaram o capital de seus cotistas em aproximadamente 8 vezes (ante menos de 1,5 vezes do Ibovespa).

Fundamentalmente, o investidor deve ater-se a desenvolver a sua própria estratégia dentro de seu círculo de competência, além de sempre estar ciente de todos os riscos envolvidos nas operações que visa realizar.

*A Suno é uma casa de análise especializada em conteúdo sobre investimentos e educação financeira para o pequeno investidor pessoa física.

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