Pandemia mundo afora. Inflação nos EUA. Guerra na Ucrânia. Mísseis norte-coreanos. Terremoto no Japão. Alguém sabe me dizer a que horas vem o Godzilla?
Longe de mim fazer chacota de qualquer uma dessas situações. Meu intento aqui é outro – e, francamente, o melhor possível: compartilhar com você algo que aprendi a duras penas ao longo de meus 15 anos de caminhada no mercado.
Entenda: sempre haverá alguma coisa. Se você está esperando o segundo sol chegar para realinhar as órbitas dos planetas… não vai acontecer.
É da natureza do negócio: uma crise sucede outra crise que sucede outra crise – por vezes, entremeadas por períodos de bonança que ficam para sempre eternizados em nossos corações, mas que por definição também chegam ao fim.
Mas o estado normal das coisas é incerteza, é volatilidade, é pancadaria. E é assim porque sempre há, em algum lugar, algo se passando que merece a atenção da turma. Este é um mundo grande e conectado.
Por que é importante reafirmar isto? Porque olho à volta e não faltam investidores que estão no aguardo de tudo ficar bem para, então, fazerem alguma coisa.
O que tem no futuro?
Pois bem: para esses, trago notícias.
A primeira: quando os temas que dominam o mercado hoje forem superados, é muito mais provável que já estejamos de olho em novos impasses do que vivamos um novo período de bonança despreocupada. Não afirmo isso tendo em mente o contexto específico no qual nos vemos, mas sim revendo todas as semelhantes situações vividas até aqui.
É mais ou menos como um joguinho de roleta de prêmios: de vez em quando cai na casa que paga uma bolada, mas a tendência é, na maioria das vezes, o desfecho não mudar a vida de ninguém.
A segunda: vivemos em um país que é uma verdadeira aula a respeito da inépcia de se esperar pela calmaria, pura e simplesmente porque essa é uma noção estranha ao ethos brasileiro. Sempre tem um problema – e isso faz parte da nossa brasilidade. Se esperássemos tudo estar bem para fazer alguma coisa no Brasil… nunca faríamos nada.
A afirmação não é minha: é uma paráfrase do Isaac Peres, da Multiplan (MULT3), que ousou abrir shopping em meio à pandemia.
Então, meu convite é na direção oposta: ao invés de aguardar por um futuro messiânico no qual tudo faça sentido, aceite as coisas como elas são. No que concerne especificamente aos mercados, aceite que sempre terá um porém – e que nossas decisões sequer são tomadas apesar desse porém, mas sim abraçando-o como parte do processo. A realidade é rica em enredos para o mercado – e, na ausência dela, nunca faltou à turma criatividade para suas próprias narrativas.
Em meio a isso tudo, muito mais sentido faz cunhar uma estratégia de construção de patrimônio consistente ao longo do tempo do que tentar microgerenciar os soluços que, inevitavelmente, ocorrerão jornada afora – e que, invariavelmente, tiram o sono da maioria dos pequenos investidores, que insistem em tentar jogar esse jogo de uma maneira que, se não inviável para todos os participantes do mercado, no mínimo é inviável para eles próprios.
Do lado de cá, há muito tempo já aceitei isso. E digo, com tranquilidade, que a vida fica muito melhor quando paramos de almejar por um futuro virtuoso e simplesmente encaramos o presente como, efetivamente, um presente.
Ainda tem guerra? Enquanto escrevo essas linhas, a resposta ainda é sim. Ainda tem pandemia? Tem – e, aparentemente, há um novo ciclo de piora na China. Inflação, míssil, terremoto… e tudo isso é apenas a antessala de tantas outras tribulações que, inevitavelmente, virão. E virão pura e simplesmente porque as coisas são assim.
Muda algo na minha maneira de investir? Absolutamente nada: sigo focado em tentar identificar teses de baixo para cima; de dentro para fora. Quando consigo, regozijo-me; quando não, volto a trabalhar. Uma olhada aqui e outra ali nos preços para ver se faz sentido fazer algo ou não – e na maioria das vezes a resposta é não – e seguimos em frente. Não perco um minuto de sono sequer preocupado com o rumo das coisas. Não gasto um minuto sequer tentando adivinhar para onde o mercado vai em seguida.
Acredite: é uma boa maneira de se viver. E é mais acessível a todos do que parece.
Mas exige que você aprenda a desplugar. A abstrair dessa torrente de ruído misturado com informação que virou nosso tempo.
Tente. Vale a pena.
Com essa reflexão despeço-me deste espaço que tão gentilmente me foi cedido pelo InvestNews ao longo dos últimos 6 meses. Foi um privilégio para mim estar com vocês. Até a próxima.
*Ricardo Schweitzer é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional. Twitter:@_rschweitzer; Instagram:@ricardoschweitzer |
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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