Vale a pena investir em criptomoedas agora? Essa é a principal pergunta que os investidores fazem após protocolos instáveis e retração do mercado de moedas digitais em 2022, com a crise da criptomoeda Terra (Luna) e com a falência da FTX, de Sam Bankman-Fried, por exemplo. No entanto, especialistas ouvidos pelo InvestNews afirmam que ainda existem criptomoedas promissoras, e listam algumas apostas para 2023.
Para Thiago Alves, analista da Titanium Asset, ethereum (ETH) e polygon (MATIC) são duas criptomoedas promissoras que o investidor deve observar em 2023, “por terem maiores expectativas de uso por usuários e mercado institucional graças aos recentes aportes de grandes empresas nesses protocolos”.
Além delas, uniswap (UNI), aave (AAVE), fido finance (LDO) e moedas do setor de finanças descentralizadas – as chamadas stablecoins, criptoativos criados para lastrear digitalmente moedas fiduciárias na proporção de 1 para 1 – estão bem posicionadas para um possível crescimento da demanda por esses serviços.
Já os protocolos chainlink (LINK) e cosmos (ATOM) oferecem projetos inovadores, com bons diferenciais e poucos competidores, opina Alves. “Por fim, mas não menos importante, temos o clássico bitcoin (BTC), que deve voltar a crescer ao final do ciclo do aperto monetário, levando todo o mercado consigo.”
Felipe Medeiros, analista e sócio da Quantzed Criptos, diz ainda que o investidor deve priorizar ativos mais conhecidos e seguros como ethereum, bitcoin, link e matic em 2023. “E no atual momento de crise de liquidez, deve priorizar corretoras descentralizadas e utilizar hot wallets, como Metamesk [a wallet mais popular do mundo] e Phantom.”
Quais criptomoedas evitar em 2023?
Para os especialistas, devem ser evitadas as criptomoedas especulativas, como memecoins, que geralmente chegam a rankings de maiores tokens sem possuir nenhum caso de uso real.
“Se ativos digitais comuns já são voláteis, o investimento nessas moedas é saber que a qualquer momento seu dinheiro pode virar pó”
Thiago Alves, da Titanium Asset
Alves afirma que moedas com fundamentos ruins, duvidosos, ou que apenas replicam mais do mesmo do que já existe não costumam durar muito, sobrevivendo apenas de ondas de euforia do mercado.
Já para Felipe Medeiros, da Quantzed Criptos, o investidor deve evitar tokens de corretora como cronos (CRO) e huobi token (HT), em função da desconfiança que paira sobre o mercado em 2023. “É importante evitar ativos com baixa liquidez e temáticas específicas, como fan tokens de clubes e a chiliz (CHZ), que após a Copa do Catar devem despencar.”
2022 foi ano difícil; mas e agora?
Medeiros diz que 2022 foi o pior da história do mercado, se considerar apenas a perda de Market Cap (capitalização de mercado) – termo usado para determinar o valor de uma empresa no mercado. “O maior impacto foi causado pelo stress macroeconômico de juros nos Estados Unidos e pelo crash da criptomoeda Luna, que deixou muitas institucionais nativos em cripto com problemas de insolvência.”
“O mercado teve que digerir a diminuição do alto apetite ao risco que levou as cripto para altas históricas em 2021. Mesmo com uma queda de preços, é possível dizer que 2022 foi teste de resistência em que o mercado cripto foi aprovado, resistindo a impactos que foram dolorosos, porém necessários, para livrar o setor de players desonestos e que influenciavam negativamente os usuários de criptomoedas”, acrescenta Thiago Alves, da Titanium Asset.
Para Alves, o balanço de preços pode ter sido negativo, mas as “teses dos criptoativos estão mais fortes do que nunca, deixando os ativos bem preparados para cenários mais positivos”. Apesar disso, o analista da Titanium Asset diz que 2023 será um ano de desafios para o investidor “como todo ano de novo governo, com o mercado tentando se situar em meio a um novo contexto político-econômico”.
“O cenário muda em 180º, com um governante que deve seguir de maneira muito diferente de Jair Bolsonaro. Apesar de Luiz Inácio Lula da Silva já ter governado o Brasil em outros dois mandatos, a situação atual do país tem pouco a ver com 2002 ou 2006, sendo muito difícil entender como um presidente se comportará nesse cenário de juros mais elevados em décadas”, complementa.
As falas de Lula que foram interpretadas como uma oposição à responsabilidade fiscal, diz Alves, acendem lembranças dos períodos de inflação elevada e recessão econômica que marcaram os governos de Dilma Rousseff (2011-2014/2015-2016), momentos em que houve alta corrosão de patrimônio. “Esse pode não ser o caso para o terceiro governo Lula, mas o investidor deve sempre ficar atento ao cenário político, independentemente de seu viés ideológico.”
Para evitar turbulências, ele diz que o investidor deve diversificar seu capital para reduzir sua exposição no Brasil. “Devemos ter um aumento dos aportes de brasileiros em criptomoedas, que não possuem exposição regional, elevando ainda mais o já acelerado percentual de investidores nacionais que possuem ativos digitais”, prevê Alves.
Já Medeiros, da Quantzed Criptos, acredita que a previsão é que o mercado de criptomoedas tenha uma estabilidade nos níveis de preços atuais até que a curva de juros nos EUA fique mais clara. “O mercado também precisa estancar a sangria institucional causada por má gestão e alavancagem excessiva. Mas, para quem tem um horizonte de investimento de longo prazo e não está fazendo só um trade, vale a pena investir neste momento.”
O analista recorda da tese de que, em um cenário de juros reais altos, as criptos não sobreviveriam por serem ativos sem valor e que nunca haviam enfrentado um momento em que o mundo vivesse com juros reais nos EUA. “Mas isso já aconteceu e está acontecendo. A curva de juros está prestes a se inverter. O final da alta da curva de juros está perto do fim e a cripto está relativamente bem.”
Quais foram as melhores e piores criptos de 2022?
A elevação das taxas de juros e a saída de capital fizeram com que os ativos digitais tivessem uma tendência para baixo, na totalidade. Apesar disso, Thiago Alves diz que existem projetos que se destacaram por “novas atualizações ou resiliência, mesmo nesse cenário negativo”. Mesmo com performance, no geral, não muito boa, o analista destaca duas moedas digitais positivas em 2022:
Ethereum (ETH): Por executar The Merge com sucesso e iniciado uma nova era, mesmo em mercado de baixa, e apresentar uma comunidade de desenvolvedores ativa e compromissada com os planos da rede no futuro.
Polygon (MATIC): A rede foi criada para estabelecer um ecossistema escalável e compatível com o ethereum. A visão positiva de tantos agentes institucionais comprovou os fundamentos sólidos da rede.
Mas muitos projetos fracassaram em 2022. Entre os piores, para Alves, estão:
Terra (LUNC): O ecossistema do desenvolvedor coreano Do Kwon ruiu em maio de 2022, levando uma parte do mercado. A criptomoeda, que chegou a estar entre as maiores do mercado, mostrou que ideias ruins muitas vezes podem acabar surfando em ondas de euforia, mas não podem esconder para sempre seus fundamentos duvidosos.
FTX Token (FTT): O token de uma das maiores corretoras do mundo desabou com o império do agora ex-bilionário Sam Bank-Friedman. Resultado de uma série de irresponsabilidades quanto a alocação institucional em cripto e uma tentativa de controlar o mercado utilizando o token como uma garantia que, na verdade, não era.
Já para Felipe Medeiros, analista e sócio da Quantzed Criptos, as piores criptos foram àquelas ligadas a “esquemas” fraudulentos e de alavancagem, como o esquema Ponzi – troca de dinheiro em ofertas atrativas, mas sem qualquer produto ou serviço entregues. Entre as que tiveram as piores performances em 2022 estão Luna (-100%), UST (-98%), Spell (-97%), Raydium (-97%) e FTT (-96%).
Quais as criptomoedas mais valorizadas do mercado?
Thiago Alves explica que as criptomoedas mais valorizadas são aquelas que possuem fortes diferenciais e/ou buscam oferecer soluções efetivas para problemas ou demandas que ainda não eram atendidas. “Foi assim com o bitcoin, que trouxe o primeiro meio de pagamentos descentralizado, com o ethereum, que trouxe os contratos inteligentes, e com a uniswap, que entregou um sólido token de governança para a maior exchange descentralizada do mercado.”
Segundo o analista, essas moedas são as mais valorizadas de suas categorias, porque foram ideias funcionais – são constantemente desenvolvidas para serem melhores que seus pares. “Atualmente, temos ideias semelhantes que ainda tem se consolidado, como as chainlink e cosmos, que trazem ideias únicas. Caso esses protocolos consigam realizar o que seus roadmaps estabelecem, e seguir em melhoria constante, podem ter o reconhecimento necessário para entrar no grupo de criptomoedas mais valorizadas.”
Para Felipe Medeiros, as criptomoedas que mais se valorizam são as atreladas a wallets, como TWT e SafePal, além dos fan tokens. “Mas essas tendências são passageiras, pois foram impulsionadas pela quebra da FTX e pela Copa do Mundo.”
Como escolher um bom projeto de criptomoedas?
Criptomoedas são ativos semelhantes a ações, e requerem do investidor cautela na hora de aplicar o dinheiro. O investidor deve sempre pesquisar sobre o que levou a criação da moeda a ser analisada e entender quais são seus possíveis casos de uso, um conceito que no mundo cripto é tokenometria (tokenomics), explica Thiago Alves.
Para entender com mais profundidade, o investidor deve solicitar e ler o whitepaper, documento que traz todas as informações importantes sobre o ativo, além de verificar o histórico de desenvolvimento do protocolo, a equipe responsável por ele, os fundos que já investiram no ativo, o problema que a criptomoeda soluciona, a porcentagem de participação que ficou com a equipe fundadora, entre outros.
Alves afirma que o investidor deve entender a dinâmica de oferta do criptoativo para compreender como é feita a emissão de novos tokens e qual é a quantidade total no mercado. “Uma oferta inflacionária ou problemática em um mercado já saturado pode impedir que bons ativos tenham valorização expressiva. Realizar essa análise foi o que levou muitos investidores a não investir em protocolos que implodiram em 2022, como a criptomoeda Terra (Luna) e FTT, o token da FTX.”
Felipe Medeiros cita a ethereum e o bitcon. “A ethereum é uma grande rede de computadores que cria aplicações de uso geral através de contratos inteligentes. Ela pode servir para criar uma aplicação de finanças descentralizadas, aplicações de games, de NFTs, de mídias sociais e de data managers. Já o bitcoin é uma reserva de valor, uma moeda emitida com emissão limitada, com uma inflação já delimitada até o seu final. Serve para controle monetário, para se opor a má gestão monetária do estado.”
“Escolher um bom projeto passa por entender o que aquele projeto faz e entender se isso faz sentido para você. Se o bitcoin tem valor no seu ponto de vista, é o bitcoin que você deve comprar. Se for o ethereum, é o que tem que comprar. Nunca comprar nada porque acha que vai subir, porque alguém disse isso, ou porque tem um bom marketing. Mas, sim, porque você entende o que aquilo faz”, completa.
Quais os cuidados ao investir em novas criptomoedas?
Para saber sobre novas criptomoedas, o investidor pode consultar plataformas que reúnam informações de preços e volumes, classificados de agregadores, como CoinMarketCap e Coingecko. Também há corretoras (exchanges) em que o investidor pode comprar, vender e guardar criptomoedas, além de eventos do setor cripto e em redes sociais com informações sobre as novas moedas.
Thiago Alves alerta que o investidor deve ter a certeza de que está investindo em criptomoedas porque realmente acredita que aquele projeto deve se valorizar, “não apenas por especulação ou por medo de que você esteja perdendo ‘o novo bitcoin’”.
“Investimentos não são realizados apenas para obter lucro, mas também para proteger o próprio patrimônio. Um verdadeiro investidor sempre se mune de paciência, estudo e análises de mercado constantes para entender os possíveis riscos dos investimentos, sempre mantendo a razão em primeiro lugar para que a emoção não o faça tomar atitudes desesperadas de que se arrependa depois.”
As criptomoedas podem ter as mesmas finalidades que a moeda física. Entre as principais estão ethereum (ETH), bitcoin (BTC), tether (USDT) e litecoin (LTC). Com a evolução do número de criptos, porém, as moedas digitais desenvolveram funções distintas, como ser um meio de troca para facilitar transações, reserva de valor para manter poder de compra no futuro, unidade de conta ou ser usada para outras aplicações de formas descentralizadas. Entre os principais tipos, estão:
- Payment currencies: Ser um meio de pagamento digital para a troca de bens e serviços e realizar transações financeiras de forma rápida, prática, além de ser aceita como moeda e representar segurança. Destacam-se: bitcoin, litecoin e XRP.
- Blockchain economies: Ser uma plataforma de aplicações descentralizadas e soluções inteligentes através de tokens que usam blockchain como base. Permite desenvolver outras criptomoedas e tokens.
- Utility tokens: Utilizado para realizar a troca por um bem ou serviço, sendo baseado em uma blockchain economy. Basicamente, esses ativos são o resultado das aplicações descentralizadas criadas através da moeda digital ethereum. Podem ser utilizados para remunerar algum tipo de serviço.
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