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Economia

Brasil deve permanecer com a 4ª maior taxa de desemprego do G20 até 2028

Segundo estimativas, a África do Sul, Turquia e Itália vão registrar os maiores percentuais nos próximos anos.

Em 2022, o Brasil registrou a 4ª maior taxa de desemprego do G20, grupo das maiores economias do mundo, com 7,9% de desocupados em relação ao total da força de trabalho, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). De acordo com a estimativa do órgão, divulgada no mês de abril, o país deve permanecer na posição até 2028, passando para 8,1%. 

Especialistas apontam diversos fatores para a presença do Brasil no topo do ranking do desemprego, citando problemas estruturais da economia.

Para Sillas Cezar, professor de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), a posição do Brasil no ranking justifica-se por várias razões. As principais, segundo ele, seriam:

  • baixo investimento em setores empregadores;
  • precarização acelerada da produtividade média decorrente de cada vez menos investimento em capital humano e educação;
  • marcos regulatórios confusos;
  • incertezas tributárias;
  • incertezas políticas;
  • elevada taxa de juros. 

“O significado disso, em termos internacionais, é ruim sob uma perspectiva política, pois sinaliza uma gestão macroeconômica ineficiente, incapaz de reverter uma realidade que há décadas afeta a qualidade de vida de seus cidadãos. Baixa renda e baixa empregabilidade pressupõem baixa autonomia individual e dependência do setor público. Isso cria ambientes propícios para ideias anti-republicanas e aventuras populistas, cujas quais já vimos por aqui.”

Sillas Cezar, professor de Economia da Faap.

Na mesma linha, Eduardo Maróstica, professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), menciona que esse patamar de desemprego em que o Brasil se encontra é muito em função da desindustrialização e da crescente informalidade, que é atrelada à falta de capacidade de mão de obra. “Tudo isso contribui para um crescente índice de desemprego no Brasil”, diz o professor. 

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de informalidade no mercado de trabalho estava em 39% até o fim do 1º trimestre de 2023.

“Falta muito investimento na profissionalização e capacitação. A preparação e a educação são as únicas coisas que podem mudar esse extrato em termos de mercado”, pontua Maróstica, acrescentando que “esse avanço (%) denota que o governo, cada vez mais, vai ter que ser assistencialista”.

Questões estruturais

Mulher coloca currículo em caixa no centro de São Paulo
Mulher coloca currículo em caixa no centro de São Paulo 06/10/2020 REUTERS/Amanda Perobelli

Ao longo das últimas décadas, a taxa de desemprego do Brasil oscilou bastante, mas sempre se manteve em patamares elevados quando comparada a outros países. 

Para Cezar, da FAAP, esse cenário pode ser justificado por diversos fatores. “A produtividade do trabalhador brasileiro é abaixo da média, ou seja, um trabalhador brasileiro leva mais tempo do que outros trabalhadores para executar a mesma tarefa”, comenta.

“Se somarmos isso ao fato de que nossa legislação trabalhista não é das mais ágeis e nem das mais baratas, temos que o custo médio da mão de obra é mais caro que em outros lugares. Temos aqui um agravante, que é a pouca atenção do setor público com a educação média dos brasileiros. Está consolidado na literatura econômica que baixas produtividades estão associadas a baixos níveis de escolaridade ou baixa qualidade média do ensino.” 

Mais uma razão levantada pelo professor seria que a atual dinâmica da economia brasileira está fortemente concentrada nos setores de serviços e da agricultura, que enfrentam diversas complexidades.

Salão de cabeleireiro em São Paulo 06/07/2020 REUTERS/Amanda Perobelli

Para ele, o setor de serviços, em geral, “tem uma elevada rotatividade e é bastante afetado pelas sazonalidades econômicas, sobretudo o subsetor do comércio”. Ainda neste contexto, o subsetor bancário “traz bons empregos e é fortemente informatizado, mas absorve cada vez menos mão de obra”. Já no caso do setor agrário, “apesar dos fortes investimentos que tem recebido ultimamente, não é um grande empregador e, ainda assim, boa parte da mão de obra que ele emprega é em posições de baixa qualificação”. 

“Então, temos que os dois setores mais fortes de nossa economia não são os que reservam os melhores empregos”

Sillas Cezar, professor de Economia da Faap.

Por último, o professor ainda cita os problemas comuns, como “elevada taxa de juros, marco tributário confuso, crises políticas geradoras de instabilidades e incertezas, mercado de capitais atrofiado, e bastante corporativismo no enfrentamento político desses problemas”. 

Outros países

Pelo ranking do FMI, África do Sul, Turquia e Itália tiveram percentuais ainda maiores que o Brasil no ano passado, registrando taxas de desemprego em 33,5%, 10,5% e 8,1%, respectivamente. Os países também devem manter suas posições no ranking até 2028. Cezar, da FAAP, explica que razões das posições desses países são individuais e não possuem relação entre si. 

Na contramão, os países que se destacaram no ano passado foram Japão, Coreia do Sul, Alemanha e México, registrando taxas em 2,6%, 2,9%, 3,1% e 3,3%, respectivamente. Para 2028, espera-se que, novamente, o Japão tenha o menor percentual de desemprego, seguido de Alemanha, China e Coreia do Sul. 

África do Sul

No caso da África do Sul, existem alguns problemas parecidos com o Brasil, como “produtividade média baixa e dependência do setor agroexportador que, por natureza, é dependente das volatilidades dos mercados internacionais. Se o preço das commodities não vai bem, o emprego também não vai”, diz o professor. 

De modo parecido, Maróstica, da FGV, afirma que a África do Sul está no topo do ranking por ser um local de extrema pobreza e falta de desenvolvimento. 

Turquia

Falando da Turquia, Cezar menciona que o país localiza-se num contexto geopolítico de incertezas, com proximidade do Oriente Médio, e alguma tensão de fronteira com a Síria. “Além disso, os últimos anos foram marcados por políticas de extrema direita, que afastaram investidores internacionais, enfraqueceram a moeda e levaram inflação ao país”, pontua. 

Maróstica também aponta um contexto extremamente complexo, tanto religioso quanto de geolocalização. “O regime ainda é muito fechado e inibe relações com outros países”, sinaliza o professor. 

Itália

Já a Itália se debate com problemas estruturais, como “rigidez burocrática e marco regulatório confuso em alguns setores de sua economia, o que afasta investidores internos e externos de setores estratégicos”, segundo Cezar.

Ele ainda acrescenta que já faz algum tempo que o país tem um endividamento elevado, assim como uma produtividade média que não é das maiores da Europa e um crescimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) pequeno. 

A tecnologia vai aumentar o desemprego?

Entre as diversas discussões sobre o que pode elevar o desemprego, uma delas é o crescimento do uso de diferentes tecnologias no mercado de trabalho – um exemplo seria o tão falado Chat GPT

No entanto, Cezar, da FAAP, acredita que isso, na verdade, não foi um agravante ao longo da história, pelo contrário. “É fundamental entender que, historicamente, a tecnologia criou riqueza e, consequentemente, criou empregos. Podemos pensar que os países mais desenvolvidos tecnologicamente são os que detém menores índices de desemprego o que contraria o senso comum que as ‘máquinas roubam empregos”, diz

Mas ele ainda acrescenta que, dada a velocidade atual dessas novas tecnologias, alguns economistas trabalham com a hipótese de que, dessa vez, não dê tempo desse ganho de produtividade transbordar para outros setores. 

“Há muita discussão sobre isso, algumas bastante abstratas e filosóficas. Mas em termos práticos, jamais poderemos dizer que a culpa do nosso desemprego são as novas tecnologias. Ao menos não ainda…”

Sillas Cezar, professor de Economia da Faap.

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