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Economia

Com deflação, Selic deve estacionar em 13,75% em 2022, apontam casas de análises

Além da queda do IPCA, especialistas também repercutem a ata da última reunião do Copom.

Abastecimento de combustível em posto
Abastecimento de combustível no posto REUTERS/Marcelo Teixeira

O Brasil acordou nesta terça-feira (9) com uma notícia bastante aguardada pelo mercado. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação do país, recuou 0,68% em julho, abaixo das expectativas do mercado que apontava redução de 0,64%. O dado ajuda a sinalizar como o Banco Central poderá se posicionar em relação a taxa básica de juros do país, a Selic, em sua próxima reunião em setembro.

Após registrar alta de 0,67% no mês de junho, o IPCA atingiu em julho a menor taxa desde o início da série histórica, em janeiro de 1980. A queda foi ocasionada especialmente pela redução nos preços dos combustíveis – a gasolina caiu 15,48% e o etanol, 11,38% – e da energia elétrica – que recuou 5,78%. As baixas vieram após aprovação da lei que estabelece um teto para as alíquotas de imposto sobre esses itens.

Também nesta terça, o Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central divulgou a ata da reunião realizada na última semana, quando elevou a Selic em 0,5 ponto percentual, para 13,75% ao ano.

No documento, o BC informou que vai avaliar a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião. “O Copom enfatiza que seguirá vigilante e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas”.

Deflação = queda nos juros?

Embora a ata não tenha trazido uma definição de qual vai ser a decisão do Copom na próxima reunião, especialistas repercutiram o documento em busca de pistas sobe o fim do ciclo de alta dos juros. Eduardo Perez, analista de investimentos da NuInvest, diz que o IPCA negativo deve acirrar apostas por fim da alta da Selic.

“Com a deflação de julho em linha com as expectativas, são grandes as chances do Copom resolver encerrar a alta de juros em 13,75%, taxa atual, sem a necessidade de mais uma elevação em setembro para 14%, como havia ficado em aberto no comunicado da última reunião de agosto”, afirma Perez,

Para analistas de pelos menos seis casas investimentos, o BC deve estacionar os juros em 13,75% em 2022

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, que estima a manutenção da Selic em 13,75%, lembra que até a próxima reunião do Copom, em setembro, serão divulgados o IPCA-15 (prévia da inflação) e o IPCA de agosto de 22, que devem balizar a decisão.

“Mas o IPCA de hoje, deflacionário e com abertura melhor que a dos últimos meses, e os últimos índices de inflação antecedentes, que sugerem continuidade do movimento de queda dos preços, nos levam a crer que o Copom terá argumentos suficientes para não alterar a taxa Selic”

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos

Essa também é a visão de Eduardo Vilarim, economista do Banco Original. “Em nossa visão, o colegiado optará por findar o ciclo de alta da Selic em 13,75%, mantendo o juro nominal neste patamar por pelo menos um ano”.

Vilarim mencionou ainda que o Banco Central se mostra mais preocupado com o crescimento global, que tem desacelerado, o que pode gerar efeitos desinflacionários sobre as commodities.

Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, por sua vez, lembrou que o cenário ainda é de bastante incerteza e requer cautela nos próximos passos da política monetária. Por outro lado, a especialista afirmou que o IPCA de julho, além do efeito da queda dos impostos, traz uma leitura mais “benigna” do processo de desinflação.

“O Copom indica que a taxa de juros deve permanecer alta por um período ‘suficientemente’ prolongado, mas a desinflação em curso pode indicar que no primeiro trimestre de 2023 podemos já estar discutindo a normalização dos juros”.

Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter

David Beker, do Bank of America (BofA), também aponta para uma Selic de 13,75% ao fim do ano “dadas as expectativas de desaceleração do crescimento global e os impactos defasados ​​da política contracionista”. Para o analista, o Banco Central deve cortar os juros para até 10,5% no final de 2023.

Thomaz Sarquis, economista da Eleven, reiterou que a deflação no IPCA de julho reforça a leitura da casa de permanência da Selic em 13,75% nas próximas reuniões do Copom.

No entanto, o economista informou que se manterá atento à evolução destas medidas, “assim como o comportamento dos serviços intensivos em mão de obra nos próximos meses, que no momento reflete o aquecimento do mercado de trabalho”. O setor de serviços teve avanço de 0,8%, contra expectativa de alta de 0,7% da Eleven.

Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú BBA, também escreveu em relatório que a ata do Copom indica que a elevação mais recente da taxa Selic foi provavelmente a última do ciclo de aperto, ao mencionar que as projeções de inflação para o início de 2024 estão ao redor da meta.

“Além disso, as autoridades mencionam que os efeitos defasados da política monetária devem se intensificar no segundo trimestre de 2022, mas destacam que estímulos fiscais de curto prazo podem confundir a interpretação dos efeitos cumulativos da política monetária. A nosso ver, isso contribui para a decisão de manter a taxa de juros estável à frente”, afirmou.

Nem tudo caiu

Embora a queda nos preços dos combustíveis e energia tenham contribuído para a queda do IPCA, outros itens aceleraram no mês de julho. A maior alta no mês veio de alimentação e bebidas, com forte peso no bolso do consumidor, para 1,3%, contra 0,8% em junho.

“Chama atenção como choques pontuais da cadeia produtiva continuam incorrendo sobre o consumidor. Em alimentação, a variação de 25,48% do leite longa vida (e demais produtos laticínios) é fruto da alta dos custos de produção (em especial dos fertilizantes)”, explicou Vilarim do Banco Original.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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