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Finanças

Mercado de inteligência artificial: ‘modismo’ é visto como sinal de alerta

Avaliação é de especialistas que mencionam os riscos em investir em ações do segmento, apesar do bom momento.

A disputa de companhias por cada vez mais espaço no aquecido mercado da inteligência artificial tem puxando para cima as ações de empresas de capital aberto desenvolvedoras de produtos baseados nessa tecnologia. De fato, especialistas apontam que é um bom momento para investir em companhias do setor, mas eles alertam que é preciso atenção com o “modismo” que pode envolver o assunto. O investimento é considerado de risco.

Na esteira do sucesso do ChatGPT, a Microsoft  (MSFT34) e o Google (GOGL34), por exemplo, vêm anunciado serviços semelhantes à ferramenta, bem como mais produtos tendo a inteligência artificial como base. 

O lançamento pela OpenAI do ChatGPT, sistema que tem como base a inteligência artificial e que permite conversa em texto por chat com um robô, aconteceu em novembro de 2022 e ganhou as atenções de usuários e gigantes de tecnologia. Foi o aplicativo com o maior alcance de público no tempo mais curto de toda a história, atingindo 100 milhões de usuários após 2 meses do seu lançamento.

Meses depois, em março, a Microsoft revelou um “copiloto” de inteligência artificial para escritórios, expandiu integração do ChatGPT para ferramentas de desenvolvedor e lançou ferramenta com tecnologia da OpenAI para criar imagem a partir de texto. Já o Google liberou o lançamento antecipado concorrente do ChatGPT.

A startup OpenAI, por sua vez, informou que está começando a lançar um poderoso modelo de inteligência artificial conhecido como GPT-4, preparando o terreno para mais competição entre seu patrocinador, a Microsoft, e o Google.

Marco Saravalle, analista e sócio-fundador da Sara Invest, acredita que esse é o momento de investir em ações de empresas de inteligência artificial, pois o segmento de tecnologia está buscando se reinventar e, por isso, pode haver um bom retorno. Ele alerta, no entanto, que é necessário cuidado com os modismos.

“Sempre vamos ter vários modismos que podem, realmente, fazer sentido, mas, ao mesmo tempo, podemos estar entrando em algo muito arriscado ou que já esteja no preço. Exemplos: a indústria farmacêutica no momento da covid, e a indústria da maconha, que teve um boom muito forte e depois uma grande desvalorização dos ativos do setor na sequência.”

Marco Saravalle, analista e sócio-fundador da Sara Invest

“Esse é o momento da inteligência artificial, esse é o debate, mas, talvez, fique o alerta para o tamanho das posições nestes investimentos, pois ainda temos muitos questionamentos em relação ao segmento”, diz Saravalle.

Salto nas ações de inteligência artificial

Em meio a este cenário, ações dos desenvolvedores de produtos baseados em inteligência artificial têm registrado fortes ganhos em 2023. Veja abaixo:

Eduardo Ibrahim, expert da Singularity Brazil e especialista em inteligência artificial, explica que a área tem experimentado um crescimento acelerado nos últimos anos, mas é algo que já vinha sendo desenvolvido há muitas décadas

O especialista acredita que o setor parece ter encontrado um nível de amadurecimento que deve fazer com que continue a crescer. Isso é redultado, segundo o especialista, em grande parte, do aumento da adoção da inteligência artificial em diversas indústrias, como finanças, saúde, transporte, varejo e mais.

“Há inúmeras oportunidades para investimentos no setor de inteligência artificial, mas o seu ritmo de mudanças requer do investidor maior conhecimento e apetite ao risco”

Eduardo Ibrahim, expert da Singularity Brazil

Ibrahim explica que o aumento no preço das ações relacionadas à inteligência artificial no início deste ano tem múltiplos fatores: alta da demanda por tecnologias de inteligência artificial em meio à pandemia de covid-19 e perspectivas do governo de Joe Biden nos Estados Unidos de aumento nos investimentos em novas tecnologias, incluindo a inteligência artificial. 

“Em termos do desempenho futuro das ações de empresas de inteligência artificial, é difícil fazer previsões específicas. O sucesso de uma empresa do segmento depende de muitos fatores. No entanto, a inteligência artificial é uma tecnologia que continuará a crescer no futuro próximo, e investidores com apetite ao risco e bem posicionados podem lucrar”, diz Ibrahim.

Mas ele alerta que o mercado de ações é sempre volátil, e as empresas de inteligência artificial podem ser particularmente suscetíveis a flutuações de mercado devido à natureza inovadora e às constantes mudanças.

Paulo Albuquerque, analista de investimentos e sócio da Quantzed, avalia que as ações do segmento estão refletindo exatamente o bom momento do setor. Ele lembra que há, ainda, algo indireto no bom desempenho das ações que é a não exclusividade. 

“Empresas de capital aberto de inteligência artificial puras ainda são raras. Então, o que estamos vendo é um bom momento de empresas de tecnologia que também estão envolvidas com inteligência artificial, o que já é um grande feito se considerarmos o momento atual de alta dos juros em todo o mundo, o que leva os investidores a fugirem de ativos de risco, como as empresas de tecnologia”

Paulo Albuquerque, analista de investimentos e sócio da Quantzed

Riscos e vantagens de investir

Eduardo Ibrahim defende que as empresas de inteligência artificial estão na vanguarda da inovação tecnológica e podem ter um grande potencial de crescimento a longo prazo, especialmente à medida que a adoção da tecnologia continua a aumentar. 

“O campo é vasto e diversificado, com empresas que trabalham em diferentes áreas atuando com foco em indústrias diferentes que ainda têm muito a crescer, oferecendo aos investidores a oportunidade de diversificar seu portfólio”, diz Ibrahim. 

O especialista em inteligência artificial lembra, no entanto, que o investidor deve estar ciente de que tecnologia de inteligência artificial ainda está em desenvolvimento e que há muitos desafios técnicos que precisam ser superados antes que as ferramentas possam se tornar mais amplamente adotadas. Com isso, empresas que não conseguem superar esses desafios ficarão pelo caminho. 

“Essas empresas estão enfrentando cada vez mais questões éticas e de privacidade em torno do uso de dados e da inteligência artificial em geral. As companhias que não conseguem lidar adequadamente com essas questões podem enfrentar sanções regulatórias e perda de confiança do público. É importante que os investidores considerem tanto as vantagens quanto os riscos ao decidir investir em ações de empresas de inteligência artificial”

Eduardo Ibrahim, expert da Singularity Brazil

Já Albuquerque aponta que, por um lado, as vantagens de investir nas ações do setor são  desde a possibilidade de participar dessa revolução que está acontecendo até poder “surfar” bons lucros, caso o investidor acerte os cases de sucesso. Já entre os riscos, segundo o sócio da Quantzed, está o de perder o investimento feito.

Saravalle, por sua vez, diz preferir investimentos em ações de empresas que estão participando ou se saindo bem no mercado de inteligência artificial e que não necessariamente atuem exclusivamente nesse segmento. Ele cita como exemplo as grandes multinacionais americanas, incluindo a Microsoft, que tem uma vertente no segmento, mas não depende exclusivamente desse mercado.

Segmentos de destaques

Inteligência artificial
Inteligência artificial. Crédito: Adobe Stock

Saravalle acredita que o segmento que pode despontar dentro da inteligência artificial, tendo maior perpetuidade, é o de cibersegurança.

“Talvez seja um tema menos volátil, mais previsível, com grande potencial de receita, mas que, talvez, não tenha tantos riscos como outros projetos. É um segmento necessário”, afirma o sócio-fundador da Sara Invest.

Já para Ibrahim, são três os principais segmentos de destaque:

  • Processamento de linguagem natural: uma sub-área da inteligência artificial que se concentra em permitir que computadores entendam e processem a linguagem humana;
  • Visão computacional: que se concentra em permitir que os computadores “vejam” e entendam imagens e vídeos;
  • Aprendizado de máquina: é um campo da inteligência artificial que se concentra em permitir que sistemas computacionais aprendam e se adaptem a partir de dados sem a necessidade de serem explicitamente programados.

Paulo Albuquerque, da Quantzed, aposta no segmento de infraestrutura essencial para inteligência artificial, ou seja, semicondutores.

“Semicondutores não estão relacionados apenas como inteligência artificial, mas, também, com toda a cadeira produtiva de alta tecnologia, incluindo bens industriais, como automóveis, até mineração de criptomoedas”, avalia Albuquerque.

Perspectivas

Marco Saravalle, sócio-fundador da Sara Invest, avalia que o segmento precisa ainda de uma certa dose de regulação, vai passar por alguns questionamentos, mas tem grande potencial de crescimento.

“Esse é o momento para conhecer mais do setor. Só é preciso cuidado com a concentração do investimento, pois podemos ter ações subindo muito forte no curto prazo, mas também de poder se desvalorizar lá na frente por causa de algum risco ou mudança no cenário”, recomenda Saravalle.

Eduardo Ibrahim, da Singularity Brazil, explica que, à medida que a tecnologia continuar a evoluir e a se tornar mais acessível, mais empresas buscarão maneiras de integrar a inteligência artificial em seus negócios, o que significa que há muitas oportunidades para companhias crescerem e se expandirem.

No entanto, segundo o especialista, também há desafios, como a concorrência intensa, a complexidade técnica e a regulamentação governamental

“O setor de inteligência artificial é emocionante e em constante mudança. As empresas que conseguem se adaptar e inovar podem ter um grande potencial de crescimento, mas é importante lembrar que investir em ações de empresas de inteligência artificial ainda tem riscos envolvidos e deve ser feito com cautela e após uma análise cuidadosa”, orienta  Ibrahim.

Albuquerque, da Quantzed, diz que suas as expectativas são as maiores possíveis com o setor. “Esse movimento é irreversível. Não é mais uma discussão hipotética sobre quando estaremos usando inteligência artificial no cotidiano, mas, sim, uma discussão de quando iremos incorporar isso no dia a dia. Veremos cada vez mais produtos, aplicações com uso intensivo perto da pessoa comum, muitas vezes se beneficiando da inteligência artificial sem nem mesmo saber”, analisa.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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