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Finanças

Apesar de alerta com crise de crédito, abertura de FIDC ao varejo é positiva

Avaliação é de especialistas para a modalidade de investimento que foi liberada para o investidor em geral nesta segunda-feira.

Passou a valer nesta segunda-feira (2) o acesso de investidores em geral aos Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC). Para especialistas, apesar de preocupações no primeiro semestre sobre crise de crédito no país, as perspectivas são positivas para essa modalidade de investimentos, tanto para os investidores quanto para empresas e para a indústria de fundos, embora alertem para riscos.

Antes permitido somente para investidores qualificados e profissionais, a abertura do FIDC para o varejo acontece em meio à entrada em vigor da  Resolução 175 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), ou “nova regulamentação de fundos”.

Investimentos (Imagem: Iqbal Nuril Anwar por Pixabay)
Investimentos (Imagem: Iqbal Nuril Anwar por Pixabay)

Ela é composta por uma parte geral, aplicável a todos os fundos de investimento, e regras específicas para os fundos de investimento financeiro (FIF) e FIDC.  A resolução foi editada pelo órgão em dezembro de 2022 com o objetivo de avanços para maior eficiência no funcionamento do mercado de fundos.

Angelo Paschoini, sócio-fundador do DeepBank, avalia que o primeiro grande impacto dessa mudança é a popularização desse investimento e, consequentemente, o aumento do fluxo movimentado pelos FIDCs

“Com a taxa de juros do Brasil, o FIDC tem se mostrado um excelente investimento. E, com a reforma tributária, ele é um dos poucos fundos de investimento que não vai ter come-cotas. Então, o FIDC é um investimento possível, palpável e que pode ser feito através de pequenos valores no mercado de varejo. Vai haver uma mudança de paradigma enorme, e com relação à percepção dos FIDCs perante à indústria fundos, o que deve aumentar enormemente a quantidade de dinheiro movimentado pelos FIDCs”

Angelo Paschoini, sócio-fundador do DeepBank

Maurício Kubota, head de produtos da RB Investimentos, avalia que trata-se de uma nova forma de o investidor diversificar sua carteira, além de conseguir ter exposição a riscos um pouco diferentes dos produtos de renda fixa já presentes no mercado.

Kubota alerta, no entanto, que o investidor precisar ter um conhecimento mais aprofundado da modalidade, que trata-se de produtos mais ilíquidos, e ter atenção com possíveis conflitos de interesse.

  • Veja que são assets e como funciona?

O que é FIDC

Os Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios são um veículo financeiro de renda fixa voltado para a realização de investimentos em dívidas e direitos de recebimento.

Na prática, exemplifica a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), quando uma pessoa compra algo, tem que pagar à empresa que vendeu o determinado bem ou serviço. Assim, pode-se dizer que a empresa tem o direito de receber pelo bem vendido ou serviço prestado.

Se pagar à vista, a relação encerra-se naquele momento. Porém, for parcelado, a empresa tem direitos creditórios a receber. Esses direitos creditórios podem estar em formato de duplicatas, cheques, boletos, cartão de crédito, entre outros.

O FIDC funciona como um condomínio, com diversos investidores adquirindo cotas e passando a ter o direito de participar dos resultados do fundo. O dinheiro é movimentado por um gestor profissional, que toma as decisões de investimento com base na estratégia definida no regulamento do fundo. O objetivo é investir em títulos de renda fixa que estejam atrelados a direitos creditórios e as rentabilidades podem ser prefixadas, pós-fixadas ou híbridas.

“É comum que esse fundo ofereça um retorno maior porque os riscos são mais elevados. Então, você pode ter a chance de conquistar um rendimento mais interessante com essa alternativa, caso esse tipo de fundo seja adequado ao seu perfil de investidor“, explica a Anbima.

Os FIDCs podem ser abertos ou fechados. Nos abertos, o investidor pode efetuar um resgate e receber o seu dinheiro de volta de acordo com as regras do fundo. Por outro lado, nos fundos fechados, as cotas só podem ser resgatadas no prazo final do fundo ou podem ser negociadas no mercado secundário. No entanto, por ser um investimento não muito comum no mercado, pode não ter demanda suficiente para as suas cotas.

Com a revisão da resolução 175 da CVM, foram implementadas as seguintes novidades para os FIDCs:

  • Atribuição de responsabilidade ao gestor pela estruturação do fundo, bem como pela verificação do lastro dos direitos creditórios;
  • Necessidade de os direitos creditórios serem submetidos a registro;
  • Possibilidade, sob certas condições, de realização das operações denominadas “originar-para-distribuir.

Adesão de investidores

Apesar da novidade, Thiago Figueiredo, diretor de investimentos do Intrabank, avalia que a adesão de investidores do varejo a esta modalidade deverá ser mais demorada, em virtude do desconhecimento do produto e seus riscos. Para Figueiredo, a transição irá ocorrer conforme a oferta de FIDC aumente nas plataformas de distribuição de fundos. 

“Quando bem estruturados, com acompanhamento de agências de rating e com gestão ativa,  são ótimos produtos de investimento, vide a quantidade de fundos multimercado que já investem em cotas deste tipo de fundo. O aumento de captação destes fundos será importante para diversificação da indústria de fundos e uma ótima opção de captação de crédito para empresas“, aponta o diretor de investimentos do Intrabank. 

Na mesma linha, Kubota também avalia que os FIDCs devem ganhar mais profundidade de interesse a médio e longo prazo, pois a taxa Selic ainda está em patamares elevados, e existem produtos mais atrativos e menos complexos do ponto de vista do investidor final para se alocar, além de que, segundo o head de produtos da RB Investimentos, o investidor está um pouco “machucado” em dois sentidos: 

  • Crise do começo de 2023 de Americanas (AMER3) e Light (LIGT3), que impactou crédito como um todo;
  • Questões envolvendo FIDCs de gestoras específicas, que apresentaram elevados níveis de inadimplência. 

“É um produto um pouco diferente, normalmente são carteiras um pouco mais pulverizadas. O ponto geral para analisar o produto é conhecer a carteira, o setor e, principalmente, analisar se não há muito conflito de interesse entre todas as partes, pois, nesse tipo de produto, tende a ser ter uma mesma figura que origina, faz a gestão, faz a consultoria, o services”.

Maurício Kubota, head de produtos da RB Investimentos.

Vantagens do FIDC

Segundo dados da Anbima, em agosto, os FIDCs registraram saques de mais de R$ 7 bilhões. Já em 2023 até agosto, os aportes totalizaram R$ 6,1 bilhões.

De acordo com a TC/Economatica, em 25 de setembro de 2023, os FIDCs somavam R$ 416,5 bilhões em patrimônio, com mais de 55 mil cotistas.

Dentre as vantagens dos FIDCS, Angelo Paschoini, do DeepBank, aponta que trata-se de um dos poucos fundos que não têm come-cotas, então a tributação é um pouco mais barata, e só incide o Imposto de Renda sobre ganho de capital, ou seja, só sobre o valor rendido. 

“Esse valor só é descontado quando há um resgate do dinheiro. Ou seja, o imposto é o que chamamos de imposto diferido, fica diferido para o resgate. Então, tem a vantagem tributária e tem a vantagem fiscal. Além disso, atualmente, o FIDC tem uma rentabilidade acima do CDI“, destaca Paschoini. 

O sócio-fundador do DeepBank alerta, no entanto, que é preciso o investidor olhar o rating do FIDC para ver qual é a classificação, se é um bom fundo ou não, pois o risco que se corre é o de crédito e o de gestão. 

Mulher branca, usando uma blusa listrada e óculos, observa gráficos de cotação representando operações swap na tela de um notebook prateado. (Foto: Shutterstock / Alex from the Rock)
Mulher branca, usando uma blusa listrada e óculos, observa gráficos de cotação representando operações swap na tela de um notebook prateado. (Foto: Shutterstock / Alex from the Rock)

Outra vantagem do investimento, segundo Maurício Kubota, da RB Investimentos, é que abre-se mais um leque de produtos com a finalidade de diversificação do portfólio do investidor, conseguindo ganhar exposição a novos temas e mecanismos de exposição a crédito, principalmente o mais pulverizado.

“Hoje em dia, os investidores, no que tange à parcela de crédito na carteira, estão muito concentrados em créditos corporativos, e o FIDC oferece uma forma de diversificar mais, pois são carteiras mais pulverizadas de recebíveis. Isso ajuda também a reduzir um pouco a marcação a mercado das carteiras dos clientes”, diz  Kubota.

Desvantagens

Figueiredo lembra que os FIDCs são fundos que necessitam de carência para potencializar seus ganhos e controle de riscos. Logo, segundo ele, essa categoria de fundo deve abdicar de liquidez em prol de retornos maiores e riscos menores. 

O diretor de investimento do Intrabank recomenda que o investidor deve considerar qual é a sua tolerância ao risco de crédito e a sua capacidade de liquidez.  

“Os Fundos de Direitos Creditórios, em sua maioria, têm como principal risco as operações de antecipação de crédito. Analisar qual é a política de investimento do fundo e o histórico do dele são essenciais para a compreensão dos riscos envolvidos na aplicação”.

Thiago Figueiredo, Diretor de Investimentos do Intrabank.

Figueiredo também faz alerta à liquidez deste tipo de investimento, já que, geralmente, os FIDCs são fechados, pois a gestão de carteira de direitos creditórios depende da liquidação financeira desses direitos para que o cotista possa ser remunerado.  

“Com a oferta destes produtos para pessoas físicas, é importante encontrar um fundo que ofereça liquidez de acordo com as expectativas do investidor. Fundos com maior liquidez para o cotista serão obrigados a ter mais ativos líquidos em sua carteira, refletindo diretamente em sua rentabilidade”, aponta o diretor de investimento do Intrabank.  

Perspectivas

Kubota diz ter perspectivas positivas para os FIDCs, pois se ganha nas duas pontas, tanto as empresas, que precisam captar recurso no mercado, antecipando, assim, alguns recebíveis, além do crescimento no universo de captação, aumentando os recursos disponíveis para financiamento.

“É mais um fonte de recursos para as empresas. E para o investidor, é mais um produto que se adiciona na prateleira que ele pode alocar e servir como diversificação na carteira e melhorando perfil de risco e retorno”.

Maurício Kubota, head de produtos da RB Investimentos.

Figueiredo também diz estar otimista com a possibilidade de oferta dessa modalidade de investimento para  uma nova gama de investidores. 

“É um produto que requer conhecimento não só para novos investidores, mas também para a gestora que vai administrar esses recursos. Poder alinhar as expectativas deste investidores, entregando a rentabilidade para esse novo produto e, ao mesmo tempo, administrar as demandas destes cotistas com relação à janela de liquidez e risco, será um grande desafio, mas acreditamos que o produto será um sucesso ao longo do tempo”, projeta o diretor de investimento do Intrabank.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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