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Finanças

Ibovespa na semana: mercado questiona governança de estatais, siderúrgicas caem

Índice da B3 teve o pior desempenho dos últimos três meses, com queda acumulada de 3,78%

B3 e Ibovespa

Semana de muitas emoções para os investidores, apesar da vacinação contra o coronavírus ter começado em alguns países, o mundo ainda precisa encarar os efeitos de uma crise econômica global. Com mais incerteza do que otimismo, o Ibovespa oscilou entre os 120 mil e 123 mil pontos nos últimos cinco dias.

O índice da B3 fechou a semana nos 120.348 pontos, com queda acumulada de 3,78%. Este foi o pior desempenho desde a semana terminada em 30 de outubro de 2020.

As consequências desta crise global foram sentidas aqui no Brasil, com grandes companhias fechando as suas operações, entre estas a Ford, que após 100 anos produzindo no país anunciou na segunda-feira (11), o encerramento da sua produção de veículos em território nacional. A decisão afeta as fábricas de Camaçari (BA), Taubaté (SP) e Horizonte (CE) e deixará mais de seis mil funcionários sem emprego.

Outra companhia que não está nada bem é o Banco do Brasil (BBAS3), que atravessa momentos de crise e reestruturações. Após abraçar o cargo por quatro meses, André Brandão, presidente do BB, pediu demissão em meio a desgastes por atritos políticos com Jair Bolsonaro. Mas com receio da reação do mercado financeiro, o ministro deve ficar no comando do banco.

O coronavírus também não da trégua aos brasileiros, o avanço das infecções no país preocupa. Pesam as dúvidas em relação ao calendário de vacinação contra a covid-19 no Brasil.

O Itamaraty confirmou hoje que a entrega dos 2 milhões de doses da vacina AstraZeneca/Oxford adquiridas de um laboratório indiano vai atrasar. Em Manaus, o sistema de saúde entrou em colapso, com pacientes morrendo por falta de oxigênio. E em São Paulo, o governo colocou sete regiões em fase vermelha, após a disparada de novos casos.

O analista José Falcão, da Easynvest, avalia que “a má gestão da pandemia traz insegurança e falta de credibilidade, não é de hoje”. Mas aponta que a queda desta semana também é fruto de correção, com companhias realizando o lucro das últimas semanas.

Engana-se quem pensa que as más notícias são privilégio dos brasileiros. No cenário externo também surgem novas preocupações em relação a dificuldade de aprovação do novo pacote de estímulos americano.

Na quinta-feira (14), o novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden apresentou uma proposta de estímulo econômico de US$ 1,9 trilhão – um investimento ambicioso para impulsionar a economia e acelerar a distribuição de vacinas. No entanto, os investidores duvidam e enxergam dificuldades para este plano passar no Congresso.

O mercado está desconfiado dos possíveis efeitos inflacionários e aumento de impostos. Mesmo com a maioria democrata na Câmara e Senado, os EUA vivem um momento de tensão política.

Estresse que foi provocado quando a Câmara aprovou, pela segunda vez, o impeachment do presidente norte-americano, Donald Trump, situação nunca antes vivida na terra do Tio Sam. Agora a decisão está nas mãos do Senado.

Sem folga para ter um pouco de paz, o Ibovespa encerra uma das semanas mais tristes do ano nos 120.348 pontos. No radar para os próximos dias, o componente político pode impactar no índice com a volta do embate entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Dória.

Além da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que deve decidir sobre a taxa Selic. Embora o consenso ainda seja pela estabilidade dos juros em 2% ao ano, não faltam otimistas e pitaqueiros pressionando por mudanças a partir de maio.

Maiores altas

A maior alta da semana foi da B2W (BTOW3) que valorizou 12,92%. Segundo Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, a companhia se beneficiou após firmar uma nova parceria com a Johnny Rockets – uma das maiores redes de franquia de restaurantes e fast food. A marca está presente em oito estados do Brasil operando 25 restaurantes.

“A B2W quer aumentar a sua presença em todos os segmentos do varejo, essa diversificação é bem vista pelo investidor”, explica. Com a nova parceria, a companhia pode ter melhorias notáveis também na sua logística, possibilitando entregas rápidas.

Após ter ficado no esquecimento nos últimos 3 meses com a penalização do varejo, a B2W finalmente experimenta um movimento de correção nos mercados.

Subiu também a Embraer (EMBR3) com alta acumulada de 8,06%. A fabricante de aviões permanece esperançosa na retomada econômica e no avanço das vacinas, ignorando até mesmo a falta de oxigênio em Manaus.

Nesta semana, a companhia aérea Congo Air encomendou dois jatos da Embraer, ampliando um pedido antigo. O contrato total é de quatro aeronaves, com valor de US$ 272 milhões. “Mesmo sendo incluída na carteira do 4º trimestre de 2020, a Embraer vai reconhecer isso como um dado positivo”, avalia Komura.

Na terceira posição da semana, a termoelétrica Eneva (ENEV3) subiu 6,95%. Para o analista, a natureza contribui com bons negócios para a companhia. Isso porque em um cenário de escassez de água e falta de chuva, as hidroelétricas diminuem sua produção e é a vez das termoelétricas entrarem no jogo. “Eneva está bem posicionada para este momento e pode se beneficiar com isso”, reforça.

Veja as cinco maiores altas da semana  

Ação Alta
B2W (BTOW3)12,92%
Embraer (EMBR3)8,06%
Eneva (ENEV3)6,95%
Rumo (RAIL3)6,05%
MRV (MRVE3)5,78%

Maiores quedas

No lado oposto do Ibovespa, o avanço de casos de coronavírus no mundo pode afetar a demanda por commodities.

É o caso das siderúrgicas, que figuram entre os destaques negativos da semana. A maior queda foi da CSN (CSNA3) que recuou 11,35%, seguida da Gerdau (GGBR4) que desvalorizou 10,38%.

Komura explica que o principal motivo da queda foi a demanda global de minério de ferro e aço que sofre os impactos do avanço da covid-19. Segundo dados da Universidade Johns Hopkins, o mundo superou os 2 milhões de mortes pela pandemia.

O analista também destaca outros fatores que podem pressionar o setor a longo prazo, um deles são as novas restrições de empréstimos na China para atividades na construção civil, com incidência no preço do aço.

Na 3ª e 4ª posição entre os piores desempenhos da semana, preocupam os níveis de governança corporativa no capital aberto, com o governo Bolsonaro como principal ameaça de interferência nas companhias estatais.

Na Copel (CPLE6) que caiu 9,97%, o pedido do governo de Paraná de exigir a melhor distribuição de dividendos possível, foi recebido de forma indigesta pelo mercado especialmente pelos acionistas minoritários. “Isso é prejudicial para os investidores, situação semelhante ao que aconteceu na Sanepar”, comenta o analista.

Outra estatal com este tipo de conflito é a Petrobras (PETR4), após o vaivém do Banco do Brasil há muito receio de outra intervenção do governo acontecer. Com os caminhoneiros ameaçando com fazer uma nova greve, este medo pode se concretizar com pressões de Bolsonaro sobre o valor do diesel.

A nível global, a demanda por combustível tem risco de ser afetada pelo coronavírus, com redução da mobilidade. Com baixa demanda os contratos de petróleo podem retomar o ritmo de queda.

Veja as cinco maiores quedas da semana:

AçãoQueda
CSN (CSNA3)11,35%
Gerdau (GGBR4)10,38%
Copel (CPLE6)9,97%
Petrobras (PETR4)9,64%
Ultrapar (UGPA3)9,21%

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