Finanças

CDBs devem continuar atrativos em 2023, avaliam analistas

Perspectiva é que Selic se mantenha elevada, favorecendo pré-fixados de médio prazo.

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Um dos investimentos mais populares da carteira de renda fixa, o Certificado de Depósito Bancário (CDB), superou as aplicações em ações e surfou na alta da Selic em 2022. Para o ano que vem, a perspectiva é que a taxa básica de juros se mantenha elevada, favorecendo investimentos de CDBs em ativos pré-fixados de médio prazo. Especialistas ouvidos pelo InvestNews explicam se já dá para definir quais os melhores CDBs para se investir em 2023.

Com o fim do governo Jair Bolsonaro e o retorno do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para um terceiro mandato de presidente, analistas da Toro Investimentos afirmam que o próximo chefe do Executivo terá grandes desafios, como manter inflação controlada e estimular crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), sem descuidar das contas públicas.

Crédito: Adobe Sotck

Assinado pelos analistas Lucas Carvalho (CNPI-P), João Freitas (CNPI-P), Paloma Brum (CNPI-T) e Lucas Serra (CNPI-T), o relatório sobre a melhor estratégia de alocação para 2023 ressalta que Lula terá que lidar com a alta de juros em diversos banco centrais, em especial o do Fed (Federal Reserve, dos Estados Unidos), com a instabilidade energética e geopolítica na Europa, com a redução da atividade econômica da China e com a economia global arrefecendo. 

“É possível que tenhamos medidas fiscais expansionistas nos próximos anos, que podem beneficiar alguns setores, porém, podem trazer pressão nas taxas de juros futuras (DI’s).”

Vale a pena investir em CDB em 2023?

Para os especialistas ouvidos pelo InvestNews, a aquisição de CDB vale a pena. Ricardo Teófilo, Head de renda fixa da Órama, afirma que o CDB é um excelente produto, principalmente para os investidores mais conservadores. 

“Além da segurança de saber em quanto será remunerado desde o momento da aplicação, o investidor conta com a segurança adicional do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que garante o retorno dos valores aplicados, e seus juros, em caso de liquidação do emissor até o limite de R$ 250 mil.”

Já Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT Capital, complementa que os CDBs são aplicações muito tradicionais e amplamente realizadas no mercado financeiro. “Para bancos de segunda linha (bancos médios), sugiro ficar sempre enquadrado ao FGC.”

Quais os melhores CDBs para investir em 2023?

Ricardo Teófilo, da Órama, afirma não ser possível definir quais os melhores CDBs para investir em 2023, pois as taxas dos produtos dependem de muitos fatores. “Hoje, acreditamos que os ativos pré-fixados de médio prazo apresentam bons níveis de taxas que não devem se repetir quando a taxa Selic começar a cair. Ativos mais longos, indexados ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), também apresentam cupons interessantes, além de serem mais defensivos.”

“Nossa projeção é que a Selic comece a cair já em 2023. No entanto, a postura da equipe econômica do novo governo deve influenciar na velocidade dessa queda. Caso o novo ministério adote postura de financiamento da aceleração da economia, sem cuidar do fiscal, as taxas de juros mais longas devem seguir pressionadas, juntamente com a inflação. Isso mantém as elevadas taxas que vemos atualmente nos títulos de renda fixa, favorecendo essa classe de ativos”, acrescenta Teófilo. 

Marcus Labarthe, da GT Capital, segue a mesma linha e ressalta que, no momento, a expectativa da taxa Selic não se alterou nem para fim de 2022, nem para 2023. “No relatório Focus, a mediana das perspectivas de mercado foi mantida para 2023, com a Selic em 13,75%. A pesquisa é um termômetro do mercado para previsões futuras.” 

Pesquisa Focus divulgada pelo Banco Central, em 21 de novembro, mostra que o mercado projeta Selic mais alta em 2023 em meio ao aumento das expectativas para a inflação e para o dólar. Para o fim de 2022, a expectativa para a taxa de juros está em 13,75%, mas para 2023 passou de 11,25% para 11,50%. Esse percentual elevado impulsiona investimentos em CDBs.

A mudança ocorre na esteira de aumentos nas estimativas para a inflação. A projeção para a alta do IPCA em 2022 agora é de 5,88% e, para 2023, de 5,01%. No levantamento anterior, a inflação calculada era, respectivamente, de 5,82% e de 4,94%. O centro da meta oficial para a inflação em 2022 é de 3,5%, e para 2023 é de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Como funciona investir em CDB?

O CDB é um título privado emitido por uma instituição financeira, autorizada pelo Banco Central, para captar recursos e financiar suas atividades. Considerada uma aplicação mais segura, por ter proteção do FGC até limite de R$ 250 mil por instituição e R$ 1 milhão por Cadastro de Pessoa Física (CPF), o investidor recebe o pagamento de juros acordado no ato da compra.

Tanto pessoas físicas quanto jurídicas podem adquirir CDBs. Para isso, o investidor deve estar com CPF regularizado e ter conta ativa em uma corretora ou banco de investimentos regulamentada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

“A única diferença é que as corretoras podem ter mais opções de investimentos em diferentes instituições financeiras”, diz Marcus Labarthe, da GT Capital. “Ao abrir uma conta, o investidor tem acesso a uma ‘prateleira’ com todos os produtos disponíveis para o seu perfil de risco”, complementa Ricardo Teófilo, da Órama.

Ao comprar um CDB, o investidor empresta dinheiro para uma instituição financeira e corre risco de crédito. Embora o CDB ofereça baixo risco, se o banco emissor do título entrar em falência, o investidor pode levar alguns meses para receber o recurso investido e, nesse período, o dinheiro fica parado. 

Por isso, o investidor deve verificar a solidez do banco emissor (risco de liquidez) para evitar perdas na hora do resgate ou calote da instituição financeira. Para amenizar o risco de crédito, é importante diversificar a carteira de investimentos. 

Também existe a opção de CDB com liquidez diária. É uma alternativa a quem quer investir e resgatar a aplicação a qualquer momento. Na transação, o investidor recebe juros proporcionais ao período em que aplicou o dinheiro, sem penalidades, e no prazo de um dia útil. Entre as opções de CDBs, a modalidade pós-fixada é uma das mais usadas nos CDBs de liquidez diária. 

Alguns investimentos em renda fixa, como o CDB, segue a tributação regressiva do Imposto de Renda (IR). Quanto menor o tempo, maior a alíquota a ser paga pelo investidor: 22,5% (até seis meses), 20% (de seis meses a um ano), 17,5% (de um ano a dois anos) e de 15% (acima de dois anos). Também há cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para resgate inferior a um mês. 

Quais são os melhores rendimentos para o CDB?

“O melhor CDB é aquele que oferece boa rentabilidade dentro de um conjunto de características que satisfazem a sua necessidade. Há disponibilidade de CDBs de todos os tipos (liquidez diária ou com diferentes prazos de resgate) e com variedade de indexadores (IPCA+, CDI+, pós-fixado e pré-fixado)”, diz Ricardo Teófilo, da Órama.

Marcus Labarthe, da GT Capital, explica que na renda fixa, na maioria dos casos, é preciso “analisar prazo (quando vence a aplicação), carência (caso possa antes do vencimento resgatar sem ônus), taxa pactuada (taxa que será empregada nesta renda fixa), indexador (se aplicação será pós-fixada, prefixada ou mista envolvendo taxa pré-fixada + indexador, que na maioria das vezes é a inflação) e o emissor (instituição que emite o CDB)”. “Após isso, você poderá avaliar e comparar”, afirma. 

Portanto, há vários tipos de CDBs, com diferentes prazos de vencimento, de valores de aplicação mínima, de garantias e de taxas em função da instituição que faz a emissão e do perfil de relacionamento que o cliente tem com o banco. Antes de escolher um CDB, o investidor deve avaliar o emissor da dívida, a taxa paga e o prazo do título, que varia entre 30 dias e 5 anos. 

Como comparar o rendimento do CDB?

A rentabilidade do CDB é calculada conforme a modalidade de investimento e pode ser verificada na corretora ou no banco. Marcus Labarthe, da GT Capital, sugere que o investidor compare ativos a partir de um “filtro fundamentado, principalmente, no que tange prazo versus taxa e sempre fazer aplicações condizentes com sua necessidade de liquidez.” 

São três tipos de rendimentos do CDB:

  • prefixado
  • pós-fixado
  • híbrido

No prefixado, a taxa de juros é definida no ato da compra, sem se preocupar com as oscilações na economia. Os CDBs prefixados não sofrem influência direta de nenhum indexador. Contudo, se a expectativa da Selic for de queda, o investidor pode ter melhor remuneração se aplicar em CDB pré-fixado a um CDB pós-fixado a curto prazo. 

Já no pós-fixado, a rentabilidade acompanha algum índice. O mais comum é atrelar o título a um percentual do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), com lastro em operações entre instituições bancárias. Monitorado pelo Banco Central, a transação consiste em empréstimos diários para garantir o saldo positivo dos caixas dos bancos. 

Nessa operação, a taxa de juros cobrada é chamada de CDI ou taxa DI, calculada diariamente a partir das taxas médias dos empréstimos pela Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos Privado (Cetip), operada pela B3. Ainda no pós-fixado, o CDB pode ser atrelado ao IPCA. 

No híbrido, o investidor combina parte prefixada e outra pós-fixada –normalmente atrelada ao IPCA. A vantagem dessa aplicação é a garantia do poder de compra, pois o investidor sempre busca ganho real (acima da inflação). Essa modalidade tem características de NTN-B, Notas do Tesouro Nacional de série B ou Tesouro IPCA+, com cupom de juros mais variação do IPCA daquele período da aplicação.

Portanto, os títulos pós-fixados e híbridos são suscetíveis à taxa Selic e ao IPCA. A taxa básica de juros da economia impacta diretamente o CDI (taxa DI) e o IPCA, ambos usados na rentabilidade das duas modalidades. É mais comum o investidor optar por CDBs pós-fixados com taxa DI para avaliar a performance da carteira de investimentos, pois o percentual está atrelado à Selic. 

Antes de investir em CDBs, o investidor pode comparar a rentabilidade com a Poupança e com as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), duas modalidades isentas de IR. Entre os produtos de renda fixa, a letra tem rentabilidade melhor que a poupança, mas pode ter retorno inferior a um CDB. Para ser vantajoso ao investidor, o CDB deve pagar mais que uma LCI. Se a LCI remunerar 5% ao ano, por exemplo, o CDB deve pagar taxa de 6,45% para tabela regressiva de seis meses e, assim, valer a pena.

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