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Robô Investidor: entenda como funciona e porque ele divide opiniões

Eles são responsáveis pela automatização de diversos processos no mercado financeiro. Mas vale a pena? Confira.

Ilustração de um homem vestido de social e um robô

Os robôs investidores são responsáveis pela automatização de diversos processos no mercado financeiro. Nos Estados Unidos, esse perfil de operador de mercado já movimenta cerca de 80% de todas as transações financeiras no país. No Brasil, apesar de menor, cerca de R$ 1 trilhão por ano são transacionados diretamente por esses robôs.

Atividades mais técnicas, como emissão de ordens, acompanhamento ao vivo do mercado e análises quantitativas podem ser executadas por um robô. Por isso, fundos e gestores de investimentos têm cada vez mais adotado os robôs traders para a parte prática da negociação de ativos em bolsa. 

No entanto, nem só para operações de trade cabe o robô. Serviços automatizados têm ajudado investidores a tomarem decisões, mantê-los atualizados de notícias do mercado financeiro ou alertarem para movimentos estranhos no mercado. No universo de robôs de investimentos, o que não falta é oportunidade para automatização.

O que é robô de investimento

Sim, os robôs investidores são bem reais e já fazem parte da rotina de grandes empresas profissionais de gestão de investimentos. Um robô investidor é um conjunto de softwares e sistemas que auxilia a tomada de decisão de investidores. Esse auxílio pode vir na forma de recomendações de compra, gerenciamento de carteiras ou operacionalização de ordens.

Segundo a CVM, em seu Portal do Investidor, os robôs de investimento são “(…) serviços que utilizam algoritmos para traçar o perfil e gerir o patrimônio do investidor, recomendar uma carteira de ativos ou o momento de entrar ou sair de determinada posição e, até mesmo, operacionalizar o envio e cancelamento de ordens aos sistemas de mercados organizados”.

Como funciona um robô de investimento

Por serem um conjunto de softwares, um robô investidor atua testando e replicando as condições a partir das quais foi programado. Os robôs aplicam as teses e teorias da análise técnica eou análise fundamentalista em sistemas automatizados. Consequentemente, eles são resultado do trabalho conjunto de dois profissionais: desenvolvedores e analistas financeiros.

Os robôs operam ou diretamente dentro das corretoras, podendo ser contratados pelos investidores (no caso de robôs para pessoas físicas, os robôs traders), ou podem estar alojados na nuvem. É o caso de plataformas de mercado. A MetaTrader, por exemplo, é considerada uma das mais resilientes, por ter o maior número de conexões com as corretoras nacionais, mas há também outros exemplos:

  • MetaTrader;
  • TradeStaton;
  • CMA;
  • NinjaTrader;
  • Amibroker;
  • WealthLab;
  • MetaStock;
  • SmarttBot (brasileira);

Como programar um robô de investimento

Caso o profissional ou investidor tenha perícia em programação, ele mesmo pode criar o seu robô de investimento, que pode então ser validado e negociado em marketplaces de robôs, como o da CodeTrading, ou operar seus ganhos pessoais. As principais linguagens de programação utilizadas são:

  1. MQL5, similar a C++ e usada na plataforma MetaTrader;
  2. EasyLanguage, adotada pela TradeStation;
  3. NinjaScript, linguagem própria da Ninjatrader.

Também é possível configurar robôs com as linguagens Python e R, sendo necessário pequenos ajustes para ligá-los às plataformas em nuvem.

Robôs de investimento para criptoativos

Os criptoativos possuem uma característica particular de não serem negociados na bolsa de valores. Consequentemente, robôs que operem nesse mercado não possuem certificação ou regulamentação junto à Anbima ou CVM, o que não impede que eles retornem bons resultados.

Um robô de investimento em criptoativos tem a vantagem de negociar em um mercado que “nunca dorme”, uma vez que plataformas como a Binance funcionam dentro e fora de dias úteis ao redor do mundo. Por outro lado, eles possuem a desvantagem de não existirem há tempo suficiente para que estratégias de backtesting sejam consideradas suficientemente válidas.

Tipos de robô de investimento

A noção da CVM abarca muitas modalidades diferentes de robôs, mas é importante entender que cada uma delas é entendida de uma forma específica no mercado. Para isso existem diferentes classificações de robôs de acordo com as normas da CVM e das diferentes empresas que vendem os seus serviços.

O que é um Robô trader

Um robô trader está dentro do que a CVM informa como “operacionalizar o envio e cancelamento de ordens aos sistemas de mercado organizado”. Seu papel no mundo dos investimentos é o de enviar ordens nos momentos precisos, com uma agilidade que um humano não consegue alcançar.

O robô trader é ainda subdividido, de acordo com seu uso, em três subcategorias: o Black Box, Grey Box e White Box.

Black Box

Esse é o tipo mais comum para quem quer comprar um robô para ganhar dinheiro. Os robôs Black Box nada mais são do que estratégias de investimento automatizadas para clientes. Robôs Black Box têm esse nome devido à caixa-preta de aviões: impenetrável, para guardar o segredo de negócios da empresa.

Negociados por empresas como a Magnetis, uma das pioneiras no país, os robôs Black Box podem ser entendidos como automatização do raciocínio de um analista de investimentos.

Normalmente, os robôs Black Box são utilizados por fundos de investimento que querem manter suas diretrizes como uma propriedade intelectual. É possível comprar cotas desses fundos nas corretoras, e ter acesso a essa informação ao ler o regulamento dos fundos. 

Para os fundos, a vantagem de um robô Black Box é a diminuição das taxas de administração, uma vez que esse robô pode operar sem necessidade de remuneração, 24/7. 

Entretanto, há também outros formatos de compra para robôs Black Box, de estratégia pronta. É possível adquiri-los diretamente com empresas fornecedoras. Sobre o assunto, Alexander Barros, CEO da CodeTrading, afirma:

“É necessário lembrar que rentabilidade passada não é promessa de rentabilidade futura, e que os robôs traders operam no mercado de renda variável. Logo, não há promessa de ganhos. Dito isso, é importante para o investidor verificar se a empresa que fez o robô possui certificações como Anbima e APIMEC para a criação desses sistemas”.

Nesses robôs, não há autonomia para o investidor: ele confia que o robô irá gerar os melhores resultados e na habilidade do analista que o homologou. A partir disso, tomará as decisões de investimento por ele.

Grey Box

Robôs grey box, por outro lado, são robôs que permitem algum grau de adaptação por parte dos investidores. “70% do robô, por regulamento, não pode ser customizado,” explica Barros. “Esses 70% incluem sobretudo a parte operacional. Porém, alguns aspectos cabem customização, como o stop loss, valor alocado etc.”

Esse robô é mais indicado para perfis de investidores com algum conhecimento, mas que preferem terceirizar o grosso da análise. Eles também precisam de homologação e certificação CVM para funcionar de acordo com as normas, o que significa que há um analista por trás.

Regulamentação de robôs Grey Box e Black Box

Os robôs Black Box e Grey Box, por replicarem uma estratégia de investimento, precisam ser homologados por um analista CNPI ou equivalente. Regulamentados pelo Ofício-Circular nº 2/2019/CVM/SIN, os robôs Black Box e Grey Box equivalem ao serviço de análise imobiliária, próprio para analistas. Logo, ele ou ela colocará o seu “selo de garantia” que irá ratificar que aquela estratégia faz sentido de um ponto de vista da análise técnica.

White Box

O robô trader White Box é um robô sem nenhum setup configurado – isto é, ele não possui nenhuma estratégia prévia de investimentos. Diferente do Black Box, seu único objetivo é o de agilizar as atividades do investidor no dia a dia. 

Com isso, o robô White Box não precisa de uma regulamentação da CVM para funcionar, pois o investidor que o configura está lidando diretamente com os seus investimentos.

O que é um Robô advisor

Diferente do robô trader, o robô advisor é uma categoria de software de investimento que analisa diferentes cenários e, como o nome diz, busca dar informações aos investidores. Ele pode atuar na recomendação de carteiras e no cálculo de probabilidades de perda para cada tipo de produto.

Embora o investidor pessoa física possa adquirir um desses para informar melhor sua jornada de compra, o robô advisor é comum entre corretoras de investimento e fundos de investimento, auxiliando pessoas com grande capital a tomar decisões importantes. O robô advisor ainda é dividido em duas subcategorias: robôs de gestão e robôs consultores.

Robô consultor

Robôs consultores usam dados como perfis de clientes, objetivos de investimento e apetite para risco para munir o investidor de informações relevantes. No entanto, eles não são responsáveis pela tomada de decisão: esse passo ainda fica na mão do investidor, que irá tomar a decisão final, podendo ou não ser influenciado pelas informações.

Thiago Artese, assistente de fundos de investimento na InvestSmart XP, foi responsável pela programação de um robô neste perfil para sua corretora: “A ideia era fazer um disparo semanal, uma espécie de morning call personalizado, para todos os corretores. Como eles são a linha de frente, levam o produto ao cliente final, precisam estar informados de tudo que está acontecendo”.

O robô consultor também precisa seguir uma orientação da CVM para funcionamento, a Resolução 19/21, que fala sobre as responsabilidades de quem envia recomendações. 

Robô gestor

Por outro lado, os robôs gestores são mais ativos ao rebalancear carteiras e na indicação de investimentos. Nesse quadro eles se aproximam dos serviços ofertados por empresas como a Magnetis, fazendo a gestão de carteiras administradas. O regulamento que os normaliza é a instrução CVM 558, que os iguala aos gestores de carteiras.

Qual a diferença entre um robô investidor e um robô trader

A principal diferença entre robô investidor e robô trader é que o segundo é um subgrupo do primeiro. Enquanto o robô investidor é qualquer forma de automatização de processo que exige certificação pela CVM, o robô trader será a aplicação de um robô investidor em um contexto específico.

Porém, muitas vezes o termo “robô investidor” é usado, de modo leigo, para se referir aos Robôs advisors, subdivididos entre robô consultor e robô gestor. 

Perfil do investidor que usa robôs

Os robôs de investimento não são para qualquer um – e o perfil de cada é completamente diferente, segundo o CEO da SmarttBot, Paulo Gomide. “O que a gente observa é que o investidor CNPJ – gestores de fundos e afins – colocam uma parcela muito menor do capital em robôs traders do que o investidor PF”.

De acordo com Gomides, ainda não está internalizado no investidor pessoa física que o robô pode comprometer todo o seu patrimônio. “Assim como é possível zerar o patrimônio investido, o robô trader também pode dobrá-lo em um dia. Nada disso é promessa de rendimento, mas possibilidades. O problema é quando se investe querendo um resultado com todas as economias: nós desencorajamos fortemente esse movimento”.

Tanto Gomides quanto Barros concordam: o perfil do investidor que usa robôs é o arrojado, um investidor sem medo de correr riscos. Ambos também afirmam que o recomendado é que apenas uma pequena parcela do seu capital esteja alocado em robôs de investimento, uma vez que os resultados não são garantidos.

Vantagens de usar um robô de investimento

Analista CNPI e autor do livro “Análise Técnica do Mercado Financeiro”, André Lemos, lista as principais vantagens do uso de robôs de investimento e os chamados trade systems – termo científico para os setups de investimento:

Minimizar emoções

A principal vantagem destacada é a minimização das emoções nas decisões. Um bom plano não precisa ser movido pela tensão ou excitação do investimento. “Além de ajudar os traders que têm medo de ‘puxar o gatilho’, a negociação automatizada pode refrear aqueles que estão aptos à superprodução”. Eles permitem maneiras mais inteligentes de se investir em ações.

Backtesting

Outra vantagem é a possibilidade de testar sistemas em cenários simulados, os chamados duplos-digitais. Esse tipo de sistema coloca a sua teoria em prática, vendo se ela sobrevive ao teste do mercado. Assim, “os traders podem tomar esse conjunto de regras precisas e testá-las em dados históricos antes de arriscar o dinheiro na negociação ao vivo”.

Disciplina e consistência

Além disso, por funcionar a partir de algoritmos, os robôs de investimento permitem que disciplina e coerência nas operações sejam seguidos à risca, minimizando o risco da ganância do investidor. Eles também evitam que algumas perdas – naturais a todo sistema – sejam motivo para “desligar a máquina” e perder oportunidades futuras.

Diversificar as operações

Uma vez que ele facilita a parte técnica de se investir em múltiplos cenários, os robôs de investimento dividem e espalham o risco com base na teoria da diversificação. Assim, é criado um hedge contra operações perdedoras – uma margem de segurança. 

Desvantagens dos robôs

Nem tudo são flores, e não é diferente com os robôs de investimento. Algumas desvantagens listadas pelo pesquisador e economista também devem ser levadas em conta na hora de optar por um ou outro modelo. 

Falhas mecânicas

Sobretudo em robôs que usam inteligência artificial e aprendizado de máquina, as falhas mecânicas devem ser esperadas nesses robôs. Eles possuem uma “curva de aprendizagem”, o que faz com que seja melhor começar a operá-los com valores menores até que se sinta confortável com o retorno médio das operações.

Também é necessário verificar a hospedagem desse robô – caso seja no seu computador, há o risco da sua máquina. Mas caso esteja hospedado em uma VPS ou servidor, é possível que a conexão sofra instabilidades.

Monitoramento

Embora diminuam a necessidade do “cara-crachá” dos investimentos, os robôs também pedem por monitoramento constante. Caso haja alguma falha no sistema, é possível que ordens venham duplicadas, com uma casa decimal errada ou não sejam executadas.

Otimização em excesso

A frase “jogo é jogo, treino é treino” vale também para os robôs traders. Muitas vezes testados em modelos históricos, eles podem acabar sendo perfeitos para o que aconteceu no passado, mas serem falhos para o que ocorrerá no futuro. São os robôs “perfeitos no papel”, que acabam tendo performances terríveis no dia a dia.

Quanto custa um robô de investimento

Os valores dos serviços oferecidos pelos robôs de investimento para pessoas físicas vão desde gratuitos, para backtesting de estratégias, até R$ 5.000,00 ao mês, mais taxas de gestão. Isso não leva em consideração os fundos que usam robôs de investimento, cujas cotas variam de R$ 1,00 até R$ 5.000,00 com rendimento das cotas. É possível adquiri-los em sites especializados ou dentro das próprias corretoras de investimento.

Os flash-crashes dos robôs

Há uma série de problemas que levou a críticas dos robôs investidores relacionadas aos flash-crashes recentes de bolsas ao redor do mundo. Como os robôs são programados com parâmetros específicos, qualquer movimento anormal de mercado pode fazer uma reação em cadeia desses operadores automatizados.

É o caso do flash-crash, ou “dedo gordo”, de 2010. Na ocasião, foi apontado como “gatilho” para o crash das bolsas europeias a crise da Grécia. Noticiado em diversos portais, a responsabilização foi atribuída a um trader da CitiGroup (CTGP34) que teria lançado uma ordem de bilhões de dólares, ao invés de milhões.

Como reação, diversos robôs programados para derrubar o ativo foram acionados, executando ordens de venda a mercado. Essas ordens serviram como um efeito dominó, derrubando outros ativos e desesperando outros investidores, que viram suas economias reduzidas.

Alguns analistas também atribuem as falas recentes de Warren Buffett sobre a transformação do mercado em “cassinos” devido à presença exacerbada desses robôs.  

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