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Finanças

Vale a pena investir em ativos de curto prazo atrelados à inflação?

Investidores encontram saídas em fundos que buscam bater a rentabilidade do IMAB-5 e ETFs.

Investimento

Enquanto a retomada econômica ainda é incerta, um dos principais fantasmas dos brasileiros voltou a crescer. A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou novembro em alta de 0,89%, maior resultado para um mês de novembro desde 2015. Nesse cenário, a dúvida que fica para os investidores é se os ativos atrelados a esse índice podem ser uma boa opção no curto prazo.

Segundo o último Boletim Focus do Banco Central, a projeção do mercado para o IPCA em 2020 é de 4,21%. A taxa Selic permanece na sua mínima histórica, em 2% ao ano. Especialistas lembram quem os juros mais baixos estimulam o consumo, o que pode acabar elevando a inflação.

Matheus Bicalho, sócio-fundador da Flip Investimentos, explica que, conforme a inflação avança, quem aplica em investimentos atrelados ao IPCA pode se beneficiar com ganhos no curto prazo. Outra vantagem é a proteção de patrimônio, porque ativos que têm atrelada sua rentabilidade à taxa Selic podem ser impactados pelo retorno real negativo – o que torna essa opção menos vantajosa na comparação com o retorno ligado à inflação.

Exemplificando: Suponhamos que um investidor comprou um ativo que entrega 100% da taxa Selic. O retorno anual será de 2%. Mas, se a inflação do período for descontada o dinheiro investido terá uma perda real de aproximadamente 2,12%.

Por isso, para proteger o patrimônio, muitos investidores recorrem a investimentos com rentabilidade atrelada à inflação. O mais comum é o Tesouro IPCA+, um investimento híbrido que paga ao investidor uma parcela de juros fixos mais a inflação até o vencimento do título público.

Segundo Murilo Breder, analista da Easynvest, investir no Tesouro IPCA+ pode ser uma excelente alternativa a longo prazo, especialmente para investidores conservadores. Mas, para garantir o retorno dos juros pré-estipulados e a inflação, é necessário esperar até o vencimento para fazer o resgate. Isso porque, no meio do caminho, o preço do título pode oscilar acompanhando as variações da curva de juros.

A marcação a mercado – que é quando o título muda de preço de acordo com fatores como a variação dos  juros – pode deixar até mesmo o Tesouro IPCA+ negativo no curto prazo, situação que pode assustar os investidores.

Para não se estressar tanto com estas oscilações, uma alternativa é optar por títulos públicos atrelados à inflação de até cinco anos. Isso porque eles representam melhor a realidade econômica atual e as variações nos juros e IPCA no curto prazo, segundo os especialistas. Bicalho explica que a diferença nas rentabilidades de um título Tesouro IPCA 2026 (2,5% + inflação) e outro com vencimento em 2045 (3,76% + inflação) é mínima. “Não compensa ficar mais tempo sofrendo oscilações de mercado, o prêmio pelo risco não vale”, afirma.

No site da B3, é possível encontrar seis tipos de Tesouro IPCA+ com vencimentos de 2026 até 2055.

Os títulos do Tesouro também tem outras particularidades. Uma delas é a rolagem dos ativos, caso o investidor opte por uma estratégia de investimento inferior aos 5 anos. Na B3, por exemplo, o menor prazo de vencimento é em 2026. Se o investidor quiser resgatar o título antes do vencimento, precisará fazer esta rolagem.

Bicalho exemplifica: se uma pessoa tem hoje um título do Tesouro comprado em 2016 com vencimento em 2022, ela pode vender o título e trocar por aquele com vencimento em 2026. E fazer a rolagem dos ativos. Mas o processo requer muito conhecimento técnico do investidor. Neste caso, uma alternativa que pode ser mais apropriada é optar por um gestor de fundos.

Entre os outros pontos de atenção ao investir diretamente no Tesouro IPCA+, os especialistas apontam a alíquota do Imposto de Renda. Caso o investidor resgate o títulos antes do prazo de 2 anos, pagará a maior taxa de 22,5%, segundo a tributação regressiva.

Além do Tesouro IPCA+, o investidor em busca de rendimentos ligados à inflação pode optar por outras duas alternativas: aplicar em um fundo de inflação ou investir em um ETF que replique o retorno do índice IMA-B.

O que é o índice IMAB?

O índice IMA-B é formado por títulos públicos indexados à inflação medida pelo IPCA, como o Tesouro IPCA+ e o Tesouro IPCA+ com juros semestrais.

Este reúne três categorias:

  • IMA-B 5: títulos do tesouro IPCA+ com e sem juros semestrais com vencimento de até 5 anos.
  • IMA-B5+: títulos do tesouro IPCA+ com e sem juros semestrais com vencimento superior há 5 anos.
  • IMA-B 5 P2: representa a evolução, a preços de mercado, da carteira de títulos públicos indexados ao IPCA (NTN-B) com prazos inferiores a cinco anos e controle de prazo médio de repactuação da carteira de, no mínimo, dois anos.

A maioria desses índices tem mudanças abruptas a curto prazo, exceto o IMA-B5, que acompanha mais de perto as variações do IPCA. Por este motivo, é considerada por muitos especialistas como a melhor opção para proteção de patrimônio. Segundo Bicalho, esse índice representa melhor a realidade da inflação e as projeções dos economistas, por se tratar de um período mais próximo. O IMAB-5 também é a escolha de muitos gestores de fundos de inflação que investem em títulos do IPCA+ na tentativa de superar os retornos.

Isso porque, a curto prazo, o IMA-B5 tem o maior retorno entre seus pares, com alta de 7,13% no acumulado de 2020. Enquanto o IMA-B teve variação de 3,66%. Compare:

ÍndiceAcumulado do ano
IMA-B3,66%
IMA-B57,13%
IMA-B5+1,24%

*Dados Anbima de 01/01/20 até 08/12/20

Fundos de inflação de curto prazo

Uma alternativa para quem busca ganhos com títulos atrelados à inflação no curto prazo sem ter que esperar até o vencimento é aplicar em fundos de renda fixa que tenham o IMA-B5 como benchmark (índice de referência utilizado para avaliar a rentabilidade de um investimento). A opção pode ser uma estratégia para proteger ativos contra a inflação do período.

Murilo Breder explica que os fundos adotam uma estratégia de gestão ativa, ou seja, não se limitam apenas a replicar o IMA-B5. Os gestores fazem movimentos diversos na procura de uma performance que bata ou seja superior ao do benchmark. Estes fundos investem em títulos do Tesouro IPCA de até 5 anos.

“Os gestores escolhem aplicar nos títulos do IPCA+ que acreditam vão render mais. Quando você aplica diretamente no Tesouro IPCA+, o rendimento só é garantido se ficar até o vencimento, mas, no meio do caminho tem as mudanças na curva de juros”, afirma Breder.

Ele explica que, num fundo de inflação com essa estratégia, o gestor avalia qual é a tendência da curva de juros, a perspectiva do mercado e o que pode mudar no preço do título público no curto prazo. Com estas percepções, o gestor pode até mudar as alocações para ganhar mais do benchmark. “Se ele achar que o título que vence em 2021 vai andar mais do título que vence em 2023, então pode concentrar mais no primeiro ativo”, exemplifica.

Segundo Bicalho, da Flip Investimentos, entre as vantagens de investir neste tipo de fundos estão:

  • Os gestores são mais capacitados para fazer a rolagem dos fundos.
  • O cotista vai pagar apenas 15% de imposto de renda, mesmo que resgate o patrimônio do fundo em um prazo inferior a 2 anos.
  • O fundo faz com que qualquer título vença em um período inferior a 5 anos, mesmo que faltem 4 anos para o vencimento.

Já entre os pontos de atenção, o especialista alerta sobre a taxa de administração que o fundo cobra, e alguns podem cobrar também taxa de performance. É importante também que o investidor avalie o tempo de existência do fundo, o retorno médio ao longo dos anos e o risco.

Outra desvantagem é o chamado imposto come-cotas, cobrado geralmente duas vezes por ano, nos meses de maio e dezembro. O imposto é conhecido por esse nome porque, na prática, a cobrança acaba diminuindo o número de cotas que a pessoa possui no fundo.

Além dos fundos de renda fixa indexados ao IMAB-5, alguns fundos de previdência podem ter essa estratégia de alocação para uma parcela dos ativos.

ETFs

Outra alternativa para acompanhar a inflação de até 5 anos é investir em ETFs que repliquem o rendimento do IMAB-5. A diferença em relação aos fundos é que os ETFs possuem gestão passiva, ou seja, vão entregar o mesmo retorno do índice. E, muitas vezes, a taxa de administração é menor.

Um ETF deste tipo lançado em novembro ao mercado foi o B5P211 do Itaú. Na sua composição, ele tem títulos do Tesouro IPCA+ de até 5 anos que acompanham a inflação.

A aplicação mínima é inferior a R$ 100 e dá direito a uma cota. O fundo possui liquidez diária. A taxa de administração é de 0,2% ao ano e não tem incidência de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) ou come-cotas. A alíquota do Imposto de Renda é de 15% para qualquer tempo de aplicação.

Segundo Chrystopher Marinho, consultor da Flip Investimentos, esse tipo de ETF faz a rolagem dos títulos do Tesouro IPCA+ com vencimento de até 5 anos. “Eles mantém os títulos sempre com um prazo superior a dois anos no fundo e fazem a rolagem dos restantes”, explica.

Entre as vantagens deste tipo de aplicação, Marinho também destaca a alíquota de 15% no Imposto de Renda, não importando quanto tempo o investidor fique no fundo, além da proteção do patrimônio contra a inflação.

No entanto, ele avalia que a grande desvantagem para esse tipo de alocação é a marcação a mercado, com a possibilidade de o investimento entregar retornos negativos.

Ainda para os investidores que não pretendem investir apenas em Tesouro IPCA+ de até 5 anos mas procuram se expor à inflação de forma geral, existem alternativas nos fundos de crédito privado. E também em títulos atrelados à inflação como CDBs, CRIs e CRAs e debêntures, embora alguns tenham prazos de vencimento longos, reduzindo a liquidez do patrimônio.

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