A Copa do Mundo no Catar, acompanhada da Black Friday e do Natal, devem trazer reflexos positivos para diferentes setores da economia. Na avaliação de especialistas ouvidos pelo InvestNews, os eventos devem impactar especialmente para as companhias que atuam com vestuário, alimentos e bebidas.
Entretanto, os especialistas alertam que o investidor deve evitar especulações, ou seja, comprar ações destes setores com o objetivo de obter retornos rápidos e que visam somente a boa performance das companhias durante os jogos.
Embora possa acrescentar receita ao balanço das companhias listadas em bolsa, o evento esportivo é temporário e não necessariamente vai mudar os fundamentos dos negócios no médio e longo prazos
Confira abaixo empresas que devem se beneficiar do evento esportivo, segundo analistas e bancos de investimentos:
Ambev
Ariane Benedito, economista especialista em mercado de capitais, mencionou que o consumo maior em bares e restaurantes durante os jogos deve impulsionar negócios no setor.
“Uma empresa que se destaca é a Ambev (ABEV3), que é líder de distribuição de bebida no país, e que deve ter seus pedidos aumentados para o suprimento desses eventos”, disse.
O Bank of America (BofA) avaliou em relatório, divulgado ao mercado no início de outubro, que a Copa do Mundo de 2022 deve ajudar nas vendas de cervejas pela companhia, “mas não deve ser um divisor de águas”. Em 2014, o Brasil sediou o evento e a companhia vendeu o equivalente a 1,5% das vendas anuais de cerveja no país.
Os analistas Isabella Simonato, Guilherme Palhares e Fernando Olvera esperam que o evento seja sólido para a Ambev em termos de volumes, já que será realizado durante o verão (no Hemisfério Sul), em contrapartida as despesas de marketing devem aumentar durante o período. A expectativa da casa é que “as vendas adicionais tenham um efeito marginal com contribuição limitada para a lucratividade”.
Magalu, Via e Americanas
Na visão de Heitor de Nicola, especialista de renda variável da Acqua Vero, as ações de Magalu (MGLU3), Via (VIIA3) e Americanas (AMER3), que estão atualmente bastante descontadas também podem ter algum benefício temporário, em especial com as vendas de eletroeletrônicos durante a Copa, mas também na Black Friday e no Natal.
“Os eventos podem ser um catalizador principalmente para o e-commerce que sofreu bastante depois da pandemia, com margens apertadas”, disse Nicola. O especialista reiterou que a melhora do ambiente macroeconômico, em especial o fim do ciclo da alta de juros, também devem contar a favor dessas empresas.
Em contrapartida, o Goldman Sachs avalia que para varejistas discricionários baseados em shoppings, como Lojas Renner e Arezzo, a Copa do Mundo pode ser negativa para tráfego e vendas, ainda que seja pontual.
“O grau em que o tráfego do shopping pode ser impactado negativamente pelas reuniões sociais dos consumidores dependerá do horário dos jogos do Brasil e até que ponto a equipe avança na competição”, analisaram Irma Sgarz, Felipe Rached e Gustavo Fratini, do Goldman.
Assaí e Carrefour
Os analistas do Goldman Sachs avaliaram que a Copa do Mundo deverá ser potencialmente mais benéfica para os varejistas que atuam com cash & carry (pegar e levar), como Assaí (ASAI3) e Carrefour Brasil (CRFB3), dono do Atacadão, “pois atendem a encontros sociais em ambientes privados ou restaurantes/bares”.
“Isso também deve impulsionar uma recuperação na demanda de clientes empresariais que estão focados em desestocagem (devido a oportunidades deflacionárias) e sofreram com um clima adverso (chuvoso) no terceiro trimestre de 2022”, avaliou o trio.
Grupo SBF
O varejista esportivo Grupo SBF (SBFG3), controlador da rede de lojas Centauro e da Fisia (distribuidora oficial da Nike no Brasil), estima a venda de mais de R$ 250 milhões em itens da Copa do Mundo.
Ao afirmar que a companhia deve se beneficiar da demanda adicional por produtos relacionados à Copa do Mundo, analistas do Golman Sachs estimaram em relatório que as vendas incrementais pela companhia podem adicionar de 600 a 700 pontos bases de crescimento ao faturamento no quarto trimestre de 2022 deste ano. O banco disse que projeta crescimento de receita líquida em 19% no comparativo anual.
“Na medida em que as vendas e as margens podem apresentar um impulso melhor no quarto trimestre de 2022, acreditamos que isso possa impulsionar o desempenho das ações, especialmente considerando a avaliação descontada”.
Vale investir?
Mesmo com a expectativa positiva para essas companhias, especialistas alertam sobre o risco para os investidores que querem investir em ações visando os ganhos no curto prazo.
“É uma operação mais especulativa e pode trazer maiores perdas. É aconselhado que quando o investidor compre uma ação, ele olhe para empresas mais perenes e busque as que tenham uma recorrência de receita, excluindo esses choques pontuais”, avaliou Ariane.
Nesse sentido, o analista da Acqua Vero acrescenta que os fundamentos de uma empresa não mudam por conta desses eventos.
“O investidor precisa entender a tese de investimento da empresa e analisar se o investimento se adequa a sua estratégia”, afirmou.
Ariane lembra ainda que é provável que no momento da divulgação dos balanços financeiros do quarto trimestre, que vão incorporar os resultados de vendas durante o período de Copa, Black Friday e Natal, “o mercado já tenha antecipado as expectativas”, o que pode significar uma queda nos preços dos ativos no momento de apresentação dos resultados. “Vai ter o investidor que já se antecipou e comprou na baixa esperando a valorização do papel”.
Veja também:
- Ações mais recomendadas em novembro por 14 bancos e corretoras
- Veja as 32 seleções que disputam a Copa no Catar
- Dividendos de FIIs e ações podem ser tributados com governo Lula?