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Finanças

Selic esfria procura por private equity, mas especialistas ressaltam longo prazo

Os fundos de private equity investem em empresas que não têm capital aberto.

Com a taxa Selic passando de 2 para 13,75% ao ano em cerca de 2 anos, investimentos considerados mais arrojados como private equity podem perder a atratividade para investidores. No entanto, especialistas apontam que é preciso avaliar se, no longo prazo, esse tipo de escolha pode ser mais vantajosa.

A estrutura e funcionamento do private equity é semelhante aos fundos de ações tradicionais. Os fundos de private equity investem em empresas que não têm capital aberto (ou seja, que não têm ações listadas na bolsa de valores).

Em geral, eles costumam oferecer menos risco ao investidor que a bolsa de valores. O motivo: a aplicação de recursos é feita diretamente nos projetos e não nas empresas. A ideia é que as empresas alavanquem recursos pela participação privada (private equity) para expansão ou recuperação dos negócios. De qualquer forma, são investimentos considerados de risco – logo, costumam perder atratividade para produtos de renda fixa, mais seguros, em tempos de juros altos.

Luis Filipe Lomonaco, sócio do fundo TreeCorp, explica que o investimento em empresas fora da bolsa ainda é bem restrito e desconhecido do investidor brasileiro se comparado com o mercado norte-americano, por exemplo, mas apresenta uma sólida e constante evolução desde o final dos anos 2000.

“Nos Estados Unidos, a indústria de private surgiu na década de 1980 e se sofisticou mais rápido que no Brasil. Aqui é uma classe que começa a ficar mais conhecida, principalmente no período de baixa da Selic. Quando a taxa de juros se aproximou dos índices aplicados por países como os Estados Unidos, o investidor decidiu diversificar sua carteira”, diz Lomonaco em referência à mínima histórica da Selic de 2% ao ano registrada em agosto de 2020.

Nesse cenário de baixa de juros, o sócio do fundo TreeCorp afirma que o investidor optou por captar rendimentos com taxas de retorno fora da renda fixa e da bolsa para ter melhor rentabilidade do patrimônio líquido, o que alavancou o investimento em empresas de capital fechado. Dois anos mais tarde, o cenário é inverso. Com Selic em 13,75% ao ano em agosto de 2022, o investidor tende a evitar alocar recursos em private equity.

“É muito a dinâmica do país. Se o país mantiver juros alto por muito tempo, ele desincentiva o gestor que busca por retornos maiores. É um trabalho relativamente difícil. A Selic deve chegar a 14% na próxima reunião do Copom e deixa de ser atrativa para esse tipo de investimento. Hoje em dia investir em fundo de private não é muito bom. Não é que não é bom, mas é menos atrativo. Vai depender muito do gestor do fundo na busca por retornos atrativos”, pondera Lomonaco. 

Márcio Barea, gerente executivo da ABVCAP, destaca que a pandemia de covid-19 também fomentou investimentos em private e em venture capital (investimento em empresas de capital privado, mas com foco em startups).

“A pandemia impulsionou o avanço tecnológico nos últimos anos, com surgimento de diversas empresas de tecnologia. A mesma tendência foi observada no resto do mundo. O Brasil foi afetado positivamente com o surgimento dessas empresas, com registro de recordes de investimentos em empresas iniciantes (venture capital).” 

Avaliação de oportunidades

Homem faz análise de investimentos

Mesmo com a alta de juros invertendo o cenário, Lomonaco afirma: “quem nunca aplicou em um fundo e quer investir, este ano é um bom ano. A bolsa está ruim. O fundo dá garantiria de um investimento mais estável quando se olha para uma curva longa, com boa taxa de retorno.”

O sócio do fundo TreeCorp ressalta que o atual processo eleitoral brasileiro e a Selic em patamar elevado prejudica as possibilidades de liquidez de saída, como fazer um IPO. Nesses casos, o especialista afirma que orienta os cotistas a esperar por um momento melhor, o que pode esticar o fundo por mais um ou dois anos. 

“Tenho empresa pronta para IPO, mas não vamos fazer agora porque o mercado está fechado. Dinheiro gringo não vem. Mas daqui a um ano pode vir. Daqui a dois anos, provavelmente. Gerir bem o fundo faz você passar bem por essas crises. Não temos pressa. Por isso, o investidor precisa ter claro que private é um investimento que demanda tempo”, diz Lomonaco.

Ele afirma que os retornos elevados são os atrativos dessa modalidade de investimento. “O retorno que se busca é na casa de 30% ao ano. Imagina um retorno sobre o teu capital de 30% ao ano num período de seis, sete anos. É muito forte. A ideia é você ganhar muito mais retorno que os índices das empresas listadas na bolsa. No private você tem sempre que olhar no mesmo horizonte de tempo e buscar taxas de retornos elevadas. Por isso, a importância de saber o perfil do gestor.” 

De forma semelhante, Barea, da ABVCAP, aponta que o investimento em private equity “pode gerar retornos superiores em relação a outras classes de investimentos”. “No Brasil, temos estudos que demonstram que estes investimentos alcançaram historicamente retornos superiores ao mercado de ações, assim como se comparados a outros indexadores de renda fixa.”

Números

Levantamento da pesquisa trimestral realizada pela KPMG e ABVCAP, divulgada no final de julho, mostra que os investimentos dos fundos de private e venture em empresas brasileiras avançaram 17,8% no segundo trimestre de 2022 em comparação com o mesmo período em 2021. 

A quantia passou de R$ 14 bilhões para R$ 16,5 bilhões, sendo o aporte principal em private (R$ 11,3 bilhões, alta de 2,725%). As empresas que receberam investimentos das duas modalidades estão ligadas ao setor de serviços financeiros, de tecnologia da informação e de varejo.

Já o volume de investimentos da indústria de janeiro a junho de 2022 alcançou R$ 28,1 bilhões –13,8% maior que no primeiro semestre de 2021. 

Embora o volume de investimentos em private equity tenha sido expressivo no primeiro semestre de 2022, Barea ressalta que o “volume se justifica por alguns investimentos pontuais, com valores acima de R$ 3 bilhões, ou seja, a posição se destaca não pelo número de transações, mas pelo montante dos investimentos realizados”. 

Sobre os investimentos reduzidos em venture capital, o gerente da ABVCAP afirma que os “cenários estão sendo atualmente ajustados, uma vez que com mudanças nos cenários global e local, ocorrem reajustes no valuation das empresas [valor justo de uma empresa], e um movimento na preservação de seus caixas, o que explica este momento de retração dos investimentos”.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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