As empresas de petróleo e empresas de varejo voltadas a consumidores de alta renda devem estar entre os destaques positivos da temporada de balanços do 2º trimestre de 2022, que começa nesta quarta-feira (20). Enquanto isso, os números devem mostrar mais obstáculos para empresas de e-commerce e do setor imobiliário.
Pelo menos essa é a avaliação de especialistas ouvidos pelo InvestNews sobre as expectativas para os resultados que as empresas irão divulgar ao mercado. Veja abaixo quais setores devem se destacar na temporada de balanços, segundo os seguintes especialistas:
- Vitorio Galindo, analista de investimentos CNPI e head de análise fundamentalista da Quantzed
- Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management
- Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos
- Murilo Breder, analista de investimentos da NuInvest
Commodities: trimestre movimentado
Em meio à forte volatilidade de diversas commodities no mercado internacional, empresas que trabalham com esse tipo de produto devem se destacar na temporada de balanços.
“Entre os principais destaques, temos as empresas de commodities que devem ter bom desempenho. Algumas abaixo do que foi no primeiro trimestre porque certas commodities caíram, mas ainda assim devemos ter resultado saudável. Então, ainda devem gerar caixa, lucro”, resume Galindo.
Do lado positivo, o analista destaca as empresas do setor de petróleo, que, para ele, devem apresentar números fortes. Entre as petroleiras da bolsa estão Petrobras (PETR3 e PETR4), PetroRio (PRIO3) e 3R Petroleum (RRRP3).
Gonçalvez concorda que “o setor de petróleo e gás pode mostrar bons números diante da alta dos preços do petróleo no mercado internacional no trimestre passado”. “O barril do petróleo tipo Brent, principal referência para as petroleiras brasileiras, foi negociado na banda de US$ 100 a US$ 120 de abril a junho”, lembra ele.
Varejo: alta renda x baixa renda
Breder e Komura comentam que, enquanto empresas varejistas voltadas aos consumidores de alta renda, como Arezzo (ARZZ3) e Centauro (SBFG3), devem apresentar resultados positivos, a expectativa para outras do setor, voltadas ao consumidor com menos poder aquisitivo – como Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3) -, não é tão animadora.
“Esse varejo de alta renda segue surpreendendo com resultados acima das expectativas, mesmo neste cenário econômico mais desafiador”, afirma Breder. “Isso já vem acontecendo, e a nossa expectativa é de que isso continue no decorrer do segundo trimestre.”
Sobre outras varejistas, Komura aponta que “papéis como Magazine Luiza e Via ainda têm uma parcela relevante que vem de eletrodomésticos – um segmento que não deve apresentar bons resultados agora nem no futuro”.
O analista acredita que, mesmo com o pagamento de benefícios como o Auxílio Brasil, o cenário é complicado para o segmento. “Porque grande parte da demanda já foi adiantada durante a pandemia, e deve demorar um tempo até ter a reposição, troca ou novas compras.”
Comércio físico x e-commerce
Há ainda uma diferença nas expectativas para o varejo físico, que deve se sair bem, e o e-commerce, que enfrenta dificuldades. “O setor do e-commerce deve continuar sofrendo por conta da recuperação do varejo físico”, prevê Breder.
“Lembrando que a gente teve notícias negativas do setor de varejo online recentemente”, aponta o analista. “O esperado era de que deveria ocorrer uma desaceleração do varejo online em 2022. Só que, para a surpresa do mercado e das próprias varejistas, apesar de ser esperado um desaquecimento, na verdade houve dois recuos mensais nas vendas seguidos, em abril e em maio. Isso estava totalmente fora do radar.”
Nesse cenário, Komura prevê bons resultados para empresas de varejo com foco em vendas nas lojas físicas, como Renner (LREN3), C&A (CEAB3), Guararapes (GUAR3). “A gente já vem acompanhando dados de alta frequência que mostram que está melhorando.”
De qualquer maneira, para Galindo, considerando o setor como um todo, o varejo deve figurar “entre os piores” desempenhos desta temporada de balanços. “A alta de juros contínua deve impactar bastante os resultados. O resultado das companhias também desacelerou, piorou a parte operacional.”
“As companhias do varejo, especialmente o e-commerce, devem continuar pressionadas pelo aumento do custo de capital e do crédito com o avanço dos juros, somados à menor capacidade de gasto dos consumidores pelos seguidos aumento dos preços — inflação. Boa parte desse movimento foi precificado nas cotações dos ativos, que caem forte no ano e figuram entre as maiores quedas do Ibovespa”, complementa Gonçalvez.
Shoppings: bons frutos da reabertura continuam
Analistas comentam que os balanços dos shoppings centers devem continuar mostrando uma recuperação após os meses de restrição pela pandemia de covid-19. Mas, novamente, as empresas voltadas para consumidores de classes mais altas devem se destacar sobre as demais.
“De shoppings, JHSF (JHSF3), Multiplan (MULT3) e Iguatemi (IGTI11) são shoppings expostos a alta renda, que teve uma volta muito forte, conforme as prévias operacionais já mostraram. Enquanto que, para BR Malls (BRML3) e Aliansce (ALSO3), a gente está um pouco mais pessimista, porque não vemos uma melhora tão rápida agora”, diz Komura.
“Quando a gente tem um cenário macroeconomicamente mais desafiador, a classe de mais alto padrão sofre menos”, explica Berder. “Nesse caso, além dos shoppings como um todo já estarem se recuperando por conta da reabertura do varejo físico, o alto padrão segue ainda mais blindado.”
Construção: tempos desafiadores – de novo
“O setor de construção civil é outro que deve vir ruim”, prevê Galindo. “Não tão ruim como no primeiro trimestre, mas ainda fraco. Ainda sem retomar e com juros e inflação atrapalhando.”
Komura cita que, assim como no varejo, deve haver diferença nos resultados de empresas voltadas aos consumidores de renda mais alta na comparação com as que focam mais no mercado de pessoas com menor poder aquisitivo.
“O setor de baixa renda não deve vir com números muito bons. As empresas que atuam nesse segmento devem estar sofrendo bastante ainda com custos e juros subindo. Por exemplo, Tenda (TEND3), MRV (MRVE3) e Direcional (DIRR3) não devem ter resultados tão animadores”, prevê.
“Os ajustes que a gente viu no programa Casa Verde e Amarela devem começar a fazer efeito mais para frente. Mas não deve ajudar tanto assim o setor, dado que a gente continua vendo uma deterioração da conjuntura. Isso quer dizer que a população no geral continua perdendo poder de compra, os alimentos continuam ficando muito caros e, com esse cenário, é muito difícil as pessoas pensarem em comprar um imóvel, quando o principal problema continua sendo as coisas mais básicas, como alimentação.”
Já para o segmento de média e alta renda, ele afirma que será possível ver alguma melhora. “por mais que as vendas não sejam tão animadoras assim.”
“Desde o final do ano passado, muitas empresas como Cyrela (CYRE3) e Eztec (EZTC3) já sinalizaram que iam colocar um pouco o pé no freio com lançamentos e estavam, na verdade, à procura de oportunidade de comprar terrenos mais baratos, essa ideia continua. Por isso a Cyrela deve se destacar nesse segmento. Já apresentou prévias operacionais”.
“A Eztec teve um resultado muito pior, principalmente por causa de problemas regulatórios, de licenças para lançar alguns projetos. Isso acabou prejudicando bastante a empresa. Isso vai ser confirmado agora no resultado do segundo trimestre”, compara Komura.
Bancos: sem grandes expectativas?
Galindo acredita que os “resultados dos bancos devem se manter”. “Acredito que não veremos crescimento, mas também não teremos piora muito grande. Acho que os principais destaques vão ser aqueles que não pioraram.”
Komura concorda que os resultados do setor bancário não devem ser tão animadores. “Banco do Brasil (BBAS3) é nossa principal escolha porque está barato, mas o restante dos bancos ainda devem sofrer um pouco porque, por mais que a gente já tenha visto um ajuste na carteira por causa dessa deterioração do cenário, a inadimplência deve continuar subindo e isso deve ser uma fonte de preocupação, sim, para a maioria dos investidores.”
Por sua vez, Gonçalvez acredita que “os bancos devem apresentar resultados sólidos pela capacidade de repasse da alta dos juros, via spread, custo de captação dos recursos e margem para empréstimos, financiamentos e outros produtos.”
“A perda de poder de compra da população impulsionou a oferta de crédito e isso deve aparecer nos resultados do trimestre. Cabe avaliar qual será a inadimplência do período”, comenta ele.
Estradas: lado ruim e lado bom
Komura comenta que empresas de concessão, como CCR (CCRO3) e Ecorodovias (ECOR3), devem ser prejudicadas pela aula de juros, já que “é um setor muito alavancado”.
Mesmo assim, ele aponta que, “com a reabertura, as pessoas estão viajando mais, consumindo mais serviços, e isso normalmente significa uma boa movimentação nas rodovias, o que vai ajudar empresas como CCR e Ecorodovias.”
Ainda falando sobre o movimento nas estradas, ele comenta as expectativas em relação à Vamos (VAMO3), locadora de caminhões e equipamentos. “Em relação à Vamos, que também é do setor de transportes, ela deve apresentar um resultado muito bom, dado que a gente teve a reabertura, volta do consumo etc. Teve uma demanda bastante forte para logística. A Vamos acaba se beneficiando. Ela faz a locação de caminhões, que é o principal modal para logística no Brasil.”
Aéreas não decolam
Komura prevê mais um trimestre negativo para as companhias Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4). Um dos principais motivos é o aumento de custos, puxado por fatores como a alta do dólar e dos combustíveis.
“Os combustíveis, no geral, representavam cerca de 30%, hoje já representam quase 50% dos custos. E dado que o cenário macro não está ajudando muito, fica difícil para as aéreas conseguirem repassar esse aumento dos custos. Isso acaba resultando em uma compressão de margem”, diz o analista.
Ele cita ainda o impacto negativo da alta dos juros. “O setor é extremamente alavancado. Com a Selic subindo tanto, isso acaba machucando os resultados. Então, a gente não está muito otimista com as empresas aéreas.”
Balanços do 2º trimestre: o que não perder de vista
Os balanços financeiros trazem uma variedade muito grande de informações, mas algumas podem ser mais decisivas para que o investidor decida se vale a pena comprar uma determinada ação.
Galindo aponta que o “investidor precisa observar bem se as empresas estão conseguindo manter a margem bruta, se estão conseguindo repassar a inflação de custos, se estão perdendo receita.”
“Também olharia bastante para a desalavancagem operacional. O lucro bruto está diminuindo e as receitas aumentando? O que mais o investidor tem que ficar atento é a parte do resultado financeiro por conta do aumento de juros Então, para empresas endividadas, o custo da dívida deve aumentar muito”, ensina ele.
Galindo finaliza acrescentando que é preciso “observar também o estoque: se o estoque está ficando parado, se o fluxo do capital de giro está piorando ou não”.
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