A semana foi recheada por balanços reportados pelas companhias brasileiras, especialmente pelas gigantes Vale e Petrobras – sempre os mais aguardados pelo mercado.
A Petrobras (PETR4 PETR3) reverteu o prejuízo de R$ 1,5 bilhão registrado no terceiro trimestre do ano passado, ao registrar lucro líquido R$ 31,14 bilhões no mesmo intervalo deste ano.
O resultado, segundo release de resultados da empresa, foi beneficiado por itens não-recorrentes. Excluindo os efeitos não recorrentes, o lucro líquido teria sido de R$ 17,4 bilhões. Em relação ao segundo trimestre, os ganhos da petroleira caíram 27,3%.
Em relatório, Regis Cardoso e Marcelo Gumiero, analistas do Credit Suisse, afirmaram que a companhia teve mais um trimestre de números sólidos. Os resultados vieram melhores do que o banco de investimento projetava, com Ebitda recorrente de US$ 12,2 bilhões superando suas estimativas em 6%. Para a equipe, embora os resultados tenham sido mais uma vez impressionantes, foi o anúncio da antecipação de remuneração aos acionistas em R$ 31,8 bilhões que “roubou a cena”.
A mineradora Vale, por sua vez, registrou lucro líquido de US$ 3,886 bilhões no terceiro trimestre de 2021, aumento de 34% em relação ao mesmo período de 2020 – números que decepcionaram o mercado.
Em relatório, os analistas da XP Investimentos afirmaram que a Vale reportou resultados operacionais piores do que o esperado no terceiro trimestre. “O Ebitda ajustado (excluindo despesas com doações de Brumadinho e covid-19) de US$ 7,1 bilhões foi 4% abaixo das nossas estimativas e 18% abaixo do consenso”, explicou o analista Thales Carmo.
O principal destaque negativo foram os preços realizados de minério de ferro abaixo do esperado: US$ 126,7 por tonelada (12% abaixo das estimativas da XP), embora os custos também tenham subido acima do esperado. “Em metais básicos, os preços realizados também decepcionaram, devido a uma greve de trabalhadores que impactou as operações no Canadá”, reiterou o analista da casa.
Ambev
Mas não foram só as gigantes que chamaram à atenção do mercado nesta semana. A Ambev (ABEV3) reportou ganhos de R$ 3,712 bilhões no terceiro trimestre de 2021, alta de 57,4% ante o mesmo período de 2020. Em relatório, os analistas do BTG Pactual afirmaram que o trimestre da companhia ficou na história para ser lembrado.
O Ebitda da fabricante ficou 10% acima das expectativas da casa de investimento, impulsionado por um forte crescimento de vendas de 18% ao ano, para R$ 18,5 bilhões, e um equilíbrio “saudável” de volume e preço médio de 8% e 12% ao ano, respectivamente.
“A continuidade do forte desempenho de receita da Ambev no Brasil tem dois aspectos que nos impressionam: o quão forte a indústria de cerveja parece ter se saído à medida que os ventos favoráveis diminuíram e o quanto a Ambev parece ter ganhado participação do mercado”, disseram os analistas Thiago Duarte e Henrique Brustolin.
Para Murilo Breder, analistas de investimentos do Nu invest, a companhia foi o grande destaque da semana. “A Ambev nunca vendeu tanto na vida dela, foi o melhor resultado em volume de vendas para um terceiro trimestre, com a receita líquida subindo 43% em relação a 2019″.
Embora os números da fabricante tenham sido pressionados pelo aumento do preço do dólar e de itens como o trigo, a empresa conseguiu, na avaliação de Breder, uma força de marketing ao ponto de acelerar as vendas e os resultados superarem as previsões do mercado.
O analista também lembrou que, durante teleconferência para apresentação dos resultados do período, os executivos da Ambev reiteram que a companhia tem um caixa líquido de quase R$ 17 bilhões, que deve ser reinvestindo em novos projetos. Porém, a diretoria indicou que a quantia pode ser direcionada como forma de remuneração aos acionistas. “Pode ser que, em breve, a Ambev passe a pagar dividendos mais robustos, como estava acostumada a pagar há algum tempo atrás”, explicou Breder.
Marfrig
Para Rodrigo Crespi, especialista de mercado da Guide Investimentos, a Marfrig (MRFG3) também foi um destaque semanal por registrar um desempenho muito forte impulsionado pela divisão norte-americana que representou 95% do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado que somou R$ 4,73 bilhões no período. “O que acabou permitindo que a Marfrig compensasse o alto custo de aquisição de gado, tanto aqui como na Argentina e no Uruguai, e apresentou um resultado bastante robusto”, complementou o analista.
A companhia reportou lucro líquido de R$ 1,67 bilhão no terceiro trimestre, alta de 148,7% ante o mesmo período do ano passado.
Aluguel de carros
Crespi, da Guide também incluiu a Vamos (VAMO3), que atua com aluguel de caminhões, na lista de destaques. A companhia registrou um avanço de 125% no lucro líquido, para R$ 110,4 milhões, enquanto a receita subiu 78,7%, para R$ 830,3 milhões.
Em sua avaliação, a empresa apresentou números bem positivos nas principais linhas de operação, com destaque para o aumento da frota locada que atingiu por volta de 20 mil unidades, além do crescimento de portfólio de clientes, com diversos contratos novos no trimestre. “Além disso, houve uma redução da alavancagem financeira de 2,4 vezes para 1,5 vez, depois do follow-on“, explicou.
Ainda no setor de locação, a Movida (MOVI3) também apresentou números positivos, de acordo com o analista da Guide, puxada pelo forte aumento da diária de aluguel (RAC) e do crescimento da terceirização de frotas. A margem Ebitda dos carros seminovos foi recorde, em razão da falta de peças, especialmente os semicondutores, no caso dos veículos novos. A empresa de aluguel de carros registrou um avanço de 597% no lucro líquido, para R$ 259,38 milhões, enquanto a receita subiu 52,1%, para R$ 1,57 bilhão.
Gerdau
A Gerdau (GGBR3) foi outra empresa a divulgar um resultado bastante “robusto” na avaliação de Crespi. Segundo ele, a própria companhia demonstrou otimismo “observando que a forte demanda de novos projetos de estrutura poderia compensar o declínio potencial do varejo em 2022”. Para ele, a lucratividade no trimestre foi forte e deve permanecer em níveis interessantes nos próximos períodos.
A siderúrgica atingiu lucro líquido de R$ 5,59 bilhões no terceiro trimestre, salto de 604% em relação a igual período do ano passado, impulsionada por um forte desempenho da construção nos mercados norte-americano e brasileiro e por níveis historicamente elevados dos preços globais do aço. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado avançou 228% no período, para R$ 7,023 bilhões.
O Investnews separou um resumo dos principais balanços divulgados na semana. Confira abaixo:
Resumo da semana
Hypera
A empresa farmacêutica Hypera Pharma (HYPE3) registrou avanço de 50% na receita líquida em relação ao mesmo período do ano passado, para R$ 1,63 bilhão. Em compensação, o lucro líquido atribuído aos acionistas controladores caiu 41,7%, para R$ 345,6 milhões. As casas de investimentos consideraram os resultados positivos e em linha com o esperado.
Em relatório, os analistas do Bank of America (BofA) afirmaram que a inovação está atingindo novos patamares e que percebem um portfólio forte de novos produtos, sucesso prolongado em vitaminas e suplementos, oportunidades promissoras em terapias crônicas e novas e o “rejuvenescimento” das propriedades adquiridas.
Para a equipe do banco de investimento, as aquisições recentes feitas pela companhia (portóflio da Takeda e Buscopan) parecem ter um desempenho acima do planejado e devem adicionar quase 28% ao crescimento das vendas em 2021. “Os aumentos de preços para 2021 também estão permitindo que a Hypera recupere uma parte substancial da perda recente de margem bruta”, afirmaram os analistas.
A equipe do banco de investimento também espera que o mercado comece a reconhecer o valor na joint venture de biossimilares, a Bionovis, com participação de 25% da Hypera.
Neonergia
A elétrica Neoenergia (NEOE3) registrou lucro líquido de R$ 1,3 bilhão, alta de 57% ante o mesmo período do ano passado. A receita também subiu 53,5%, para R$ 12, 2 bilhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) avançou 62%, para R$ 2,9 bilhões.
Para a equipe do Credit Suisse, a companhia reportou fortes resultados regulatórios em uma base anual e em comparação às previsões do banco de investimento, beneficiada pela recuperação econômica, “que suportou volumes robustos e índice de inadimplência normalizado, enquanto também foi impulsionada por ajustes tarifários positivos”.
Banco Inter
O Banco Inter (BID11) registrou lucro líquido de R$ 19,2 milhões no terceiro trimestre. Um ano antes, a empresa havia tido prejuízo de R$ 8,1 milhões.
No fim de setembro, a carteira de crédito ampliada do Banco Inter somava R$ 15,9 bilhões, alta de 116% ano a ano.
Em relatório, a equipe de research da Levante afirmou que, em linhas gerais, vê o resultado como levemente positivo e acima do esperado, especialmente por conta do crescimento da linha de receitas. A casa também afirmou ainda ter “dificuldade” para justificar a precificação atual da companhia julgada como “próxima à perfeição”. “
“Em outras palavras, não enxergamos margem de segurança no patamar atual. Ainda assim, temos recomendação neutra para as units BIDI11. Além disso, acreditamos que o fator preço é condição necessária, mas não suficiente para posições vendidas no ativo. Neste tipo de operação, o mercado pode demorar a reconhecer algum possível desvio na relação preço-valor do negócio. Ademais, caso estejamos errados em nossa análise, iremos promover uma perda permanente de capital para as nossas estratégias”, disse.
Telefônica
A Telefônica Brasil (VIVT4) registrou lucro líquido atribuível aos acionistas controladores de R$ 1,327 bilhão no terceiro trimestre deste ano, o que representa uma alta de 8,7% ante o mesmo intervalo do ano passado. Segundo relatório de resultados, o avanço se deve principalmente ao crescimento da receita e controle dos custos da operação.
A receita operacional líquida subiu 2,2%, para R$ 11 bilhões. O lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda, na sigla em inglês) avançou 11,8%, para R$ 4,8 bilhões.
Em relatório, os analistas do Goldman Sachs afirmaran que a receita e o EBITDA ficaram em linha com suas estimativas. Já o lucro líquido reportado de R $ 1,3 bilhão superou a previsão de R$ 1,11 bilhão do banco de investimento, principalmente devido a efeitos não recorrentes relacionados ao negócio da FiBrasil.
Santander
O Santander Brasil (SANB11) teve lucro líquido gerencial de R$ 4,340 bilhões no terceiro trimestre de 2021, alta de 12,5% no comparativo anual. No período de três meses encerrado em setembro, a carteira de crédito ampliada do Santander foi a R$ 526,488 bilhões, alta de 13,1% na comparação anual. Em relação ao segundo trimestre, houve alta de 3,2%.
Alpargatas
A fabricante de calçados Alpargatas (ALPA3) registrou lucro líquido 29 vezes maior no terceiro trimestre, para R$ 156,3 milhões, ante o mesmo intervalo do ano passado, e uma receita 12,7% maior, para R$ 1,06 bilhão.
Usiminas
A Usiminas (USIM5) reportou lucro líquido de R$ 1,82 bilhão no terceiro trimestre, montante quase 10 vezes maior ante os R$ 198 milhões reportados no mesmo período do ano passado. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado disparou 249% no comparativo anual, para R$ 2,89 bilhões de reais. Em relação ao segundo trimestre, porém, os ganhos caíram 43%.
Por outro lado, o BTG Pactual ponderou que o segmento de mineração entregou Ebitda de R$ 685 milhões, 50% menor na variação trimestral e bem abaixo de suas estimativas, o que foi explicado por preços realizados de minério de ferro mais baixos, chegando a US$ 108 por tonelada, número 20% menor às previsão da casa de investimentos.
Fleury
O Grupo Fleury (FLRY3) registrou uma queda de 28% no lucro líquido durante o terceiro trimestre de 2021, para R$ 95 milhões, ante o mesmo intervalo do ano passado. Segundo relatório de resultados, excluindo os efeitos não recorrentes, principalmente o incidente cibernético (que afetou os sistemas da empresa em junho deste ano) e a restruturação organizacional, o lucro líquido ajustado totalizou R$ 103,5 milhões no período.
O Credit Suisse elevou o preço-alvo das ações da companhia de R$ 23 para R$ 28 ao incorporar dos resultados do terceiro trimestre e projetar os novos negócios que agora estão discriminados no release de resultados da empresa. O novo lucro por ação projetado para 2021 é de R$ 1,09 (ante R$ 0,78). A casa manteve classificação neutra para os papéis.
Para a equipe, os sinais de crescimento e lucratividade da companhia parecem encorajadores. No entanto, a pandemia ainda não ficou para trás e ainda existe a possibilidade de alguma demanda reprimida. “Ainda acreditamos que a preparação para o crescimento impõe uma estrutura mais pesada, enquanto os serviços ambulatoriais e diagnósticos complexos diminuem as margens em relação ao negócio base de diagnóstico. Por outro lado, as otimizações de custo no negócio base (por exemplo, serviços em casa, melhor utilização da área) podem ajudar a empresa a construir uma ponte sobre o ramp up de diversificação”, afirmou a equipe do Credit.
Assaí
A rede de atacarejo Assaí, companhia controlada pelo grupo francês Casino, somou lucro líquido de R$ 538 milhões entre julho e setembro, crescimento de 33,8% ante um ano antes. A receita líquida cresceu 17,5% no comparativo anual, para R$ 10,845 bilhões.