Pergunta: Como autônomos devem formar sua reserva de emergência?
Resposta de Lécio Simões*:
Dia 11 de Março de 2020. Você se lembra do que aconteceu nesse dia? Você pode até não lembrar, mas a partir desse dia a nossa vida nunca mais foi a mesma.
Essa é a data oficial do anúncio da pandemia devido o SARS-CoV-2, ou covid-19. E nos dias que seguiram esse anúncio, praticamente tudo fechou e expôs todos os que não estavam preparados para uma emergência.
A pandemia fechou diversos estabelecimentos e os autônomos foram muito prejudicados. Muitos deles até hoje estão em situação complicada. Mas o que isso tem a ver com reserva de emergência?
Nós devemos estar cientes que imprevistos, desastres e reveses financeiros podem vir a qualquer momento, seja sobre o indivíduo ou o negócio em que ele está inserido, realizando negócios. Tendo isso em vista, ter uma reserva de emergência capaz de servir como uma caixa d’água em tempo de seca é fundamental.
Profissionais autônomos têm uma sensibilidade muito grande sobre a sua renda, as oscilações são causadas por diversas coisas, desde a sua saúde até uma mudança nos hábitos de consumo dos clientes.
Tanta oscilação na renda, faz com que o autônomo tenha um estoque financeiro (Reserva de emergência) condizente com a sua necessidade e a duração.
Além da questão da sobrevivência, a reserva financeira entrega uma tranquilidade mental para que o autônomo consiga trabalhar sem ficar preocupado com o dia a dia do negócio, pode até ter preocupação, mas não será uma preocupação do tipo de quem não sabe se terá dinheiro pra ir ao supermercado ou pagar sua moradia.
Explicado os motivos para se ter uma reserva de emergência, como montar uma?
O processo de dimensionamento da reserva de emergência é algo simples, porém não é fácil. Um planejador financeiro pode ajudar a identificar primeiramente a sua necessidade de dinheiro mensal, ou seja, a quantidade de dinheiro que você precisa por mês.
Essa conta é simples de fazer, basta levantar todas as despesas que você sabe que não pode adiar e que têm importância na sua vida. Muitos acabam considerando a renda mensal como um valor de referência.
O próximo passo é definir a quantidade de meses que você deve ter em estoque para garantir a sua sobrevivência e tranquilidade caso algum evento venha ocorrer. Infelizmente, durante a pandemia uma pesquisa do Datafolha indicou que 60% dos entrevistados só tinham reservas para apenas 60 dias caso ficassem sem suas rendas. Esse estoque é muito baixo.
A quantidade de tempo que um autônomo precisa ter em reservas irá variar entre 6 a até 15 meses. Nesse ponto, um planejador financeiro é fundamental, pois um dimensionamento desproporcional pode prejudicar e muito a sua vida financeira.
Mas o que faz com que oscile entre 6 e 15 meses de estoque financeiro (reserva de emergência)?
- Sua organização financeira pessoal: quanto mais organizado você for, menor a quantidade de reserva dentro dessa escala (6 a 15). O inverso também é verdadeiro, pior organização, maior deve ser a reserva de emergência
- A quantidade de seguros para proteger o seu patrimônio (casa, carro e você): se você tiver boas apólices de seguro, bem dimensionadas, menor será a quantidade de meses da reserva de emergência. Essa gestão de risco, assim chamada pelos profissionais de planejamento, é fundamental, pois há a possibilidade de adicionar até uma cobertura similar a auxílio afastamento do INSS, cobertura essa fundamental para autônomos que dependem da sua atuação direta.
- Complexidade do negócio: negócios complexos demandam maior estoque financeiro, pois em caso de qualquer oscilação, leva muito mais tempo para restabelecer a renda original.
Esses são apenas 3 fatores, mas é bem provável que em uma conversa com um Planejador de sua confiança, mais fatores venham a surgir, e juntos vocês terão como mensurar um valor ideal para sua reserva de emergência.
Além desses fatores, você tem que responder a questões como: Estou tranquilo com esse valor? Quanto tempo eu já fiquei sem renda? Geralmente, autônomos acabam por utilizar o valor de 12 meses de reserva de emergência como uma regra de bolso, mas como mostrei, não é uma regra geral, cada autônomo deve avaliar a sua necessidade.
E onde manter a reserva de emergência? Poupança? Tesouro? Ações? Criptomoedas?
Lembre-se do motivo da reserva de emergência que é garantir reserva em momentos inesperados. Logo, a reserva de emergência deve ser mantida em algum lugar que ofereça alta liquidez, ou seja, do momento que você precisar até receber o dinheiro o prazo tem que ser o menor possível, até dois dias é um prazo aceitável.
Além disso, o risco tem que ser baixo, ou seja, não pode ter alta oscilação. Você quer previsibilidade.
Essas características afunilam as opções de tal forma que os destinos mais indicados acabam sendo a poupança (com a pior rentabilidade), fundos DI, Tesouro Selic e CDBs com liquidez diária. Outros investimentos com muita oscilação e risco não devem ser utilizados como reserva de emergência.
- Saiba mais: Como fazer um comprovante de renda para autônomo
- Veja também: o que é comprovante de renda
E como formar a reserva? Talvez leve anos até conseguir juntar os 6,9,12 ou qualquer outra quantidade de meses de renda necessária para você. Seguem aqui algumas dicas que eu acho úteis:
- Reavalie imediatamente o seu orçamento juntamente com um planejador para que você consiga ter maior capacidade de poupança e assim antecipar a formação da sua reserva
- Busque vender artigos ou bens que talvez não faze mais sentido na sua vida. Plataformas como OLX, Mercado Livre (MELI34) e Enjoei (ENJU3) podem ajudar nesse processo de geração de recursos para criar a sua reserva de emergência.
- Não invista antes de criar a sua reserva de emergência, investir sem ter uma reserva de emergência é como ir para a guerra sem um colete a prova de balas.
Espero que essas dicas lhe sejam úteis, mas reforço que o sucesso aumenta a partir do momento que você compartilhar com um planejador financeiro a situação. Ele(a) está preparado para te ajudar a tomar boas decisões e lhe ajudar em diversas outras áreas.
*Planejador Financeiro na Fiduc.
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