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O que é bear market e bull market: entenda os impactos no mercado

Os termos bear market e bull market ajudam a entender as tendências do mercado financeiro.

Bear market x bull market (Foto: Wilfried Pohnke / Pixabay)
Bear market x bull market (Foto: Wilfried Pohnke / Pixabay)

A tendência de alta, baixa e até de estabilidade na bolsa de valores desperta nos investidores otimismo e pessimismo. Quando a expectativa é de alta, o investidor se anima com o ambiente favorável, compra mais ações e eleva o preço dos ativos, criando um movimento descrito como bull market. Se a perspectiva é negativa, há retração de preços, o chamado bear market. Mas, afinal, o que é bear market e bull market?

Os termos bear market e bull market ajudam a entender as tendências do mercado financeiro. Veja abaixo perguntas e respostas para entender melhor esse tema.

O que é bear market?

O bear market descreve momentos em que a bolsa opera em tendência de queda prolongada dos preços das ações aliada a um cenário de incerteza ou de pessimismo, afugentando os investidores. 

Eduardo Dotta, professor de Direito do Mercado Financeiro do Insper, explica que bear market acontece em “decorrência de uma série de fatores, como crises políticas e econômicas, queda no valor de commodities, alta taxa de juros, aumento da taxa de desemprego e queda do Produto Interno Bruto (PIB)”.

“Tivemos bear market durante a pandemia de Covid-19 em 2020 –não somente nos EUA, mas aqui no Brasil. O bear se configurou no momento em que a pandemia implicou o fechamento da economia. Teve um arrefecimento muito forte e os ativos caíram. O bear se associa a momentos de baixa nos mercados, de elevação do desemprego, de queda do PIB e de crises econômicas, políticas e geopolíticas.”

O que é bull market?

Já no bull market, o cenário é o oposto. Quando os preços das ações sobem, os investidores ficam mais confiantes com a perspectiva futura de valorização dos papéis. Há uma conjuntura econômica muito favorável, com alta taxa de emprego e de juros baixo, que representa acesso mais facilitado ao crédito.

“Ao favorecer o movimento econômico, automaticamente favorece as maiores empresas que compõe um índice. Com mais vendas, exportação, produção e um sistema financeiro mais robusto, as ações principais terão apreciação e, se mantiver por um tempo, considerando o patamar de dois meses ou mais superior ao seu valor normal, se configura o bull”, acrescenta Dotta.

O que fazer quando a bolsa está em queda?

Quando a bolsa de valores está em bear market, há uma tendência de migração mais intensa de investidores para ativos da renda fixa, categoria de investimentos com taxas de rentabilidade mais atraentes em momentos de Selic e inflação em alta. 

“Principalmente em ativos do Tesouro Direto ou em uma NTN-B, por exemplo. Vale a pena comprar para manter e segurar o valor de agora. Mas a bolsa também passa por um momento interessante para o investidor que quer expandir a carteira”, diz Rodrigo Cohen, da Escola de Investimentos.

Nesse cenário, o investidor também pode aproveitar para vender um ativo por um preço e recomprá-lo mais barato, obtendo lucro nessa diferença de preços, no chamado “short selling”. Se for mais ambicioso, pode adquirir mais ações ou cotas de empresas e/ou fundos a preços mais baixos e, assim, diversificar a carteira de ações – embora o retorno não seja imediato nem garatido. 

“Para quem tiver muito conhecimento de mercado e souber analisar balanço de empresa, pode encontrar boas oportunidades de compra de ações baratas de companhias que tendem a melhorar no futuro”, diz Eduardo Dotta, do Insper.

Para proteger um determinado investimento (como ações, moedas e commodities) contra grandes variações de preço e possíveis perdas em sua carteira de ativos, o investidor pode adotar a estratégia de hedge e comprar ações ou aplicar em produtos atrelados a um índice beneficiado pelo momento de queda do mercado.

“Quando a bolsa sobe, todo mundo que comprar, porque ninguém quer ficar de fora da alta. Na verdade, o pensamento é ao contrário. A gente tem que comprar quando ninguém quer comprar. Quem é paciente compra na hora certa. Compra no fundo, quando as ações estão lá embaixo e espera a bolsa subir para vender para quem está comprando lá em cima”, alerta Cohen ao reforçar que investir na bolsa é “sempre a longo prazo e comprar quando ninguém quer comprar”. 

O que causa um bear market?

Há alguns sinais para o investidor poder identificar o bear market. O principal deles se refere à queda e à lateralidade dos preços dos ativos na bolsa de valores. 

Em 2022, por exemplo, o cenário de incerteza econômica no âmbito interno (eleições para Presidência da República) e externo (guerra entre a Rússia e Ucrânia, aumento da inflação no mundo) também ajuda a manter o preço das ações em baixa e afastar o investidor da renda variável para a fixa. 

O professor do Insper avalia que as causas do bear market são, classicamente, as crises econômicas e políticas. Ele recorda a crise do subprime nos EUA, em 2008, quando houve forte depreciação dos ativos devido à crise bancária que afetou toda a economia norte-americana e de outros países, como no Brasil, que forçou a bolsa a acionar o mecanismo de circuit breaker (interrupção das negociações) por seis vezes entre 29 de setembro e 22 de outubro.

Portanto, as causas de bear market se referem a um momento em que a economia de um país está fraca ou em desaceleração, há bolhas de mercado, guerras, crises geopolíticas e pandemias, como a da covid-19. A intervenção do governo na economia também pode desencadear um mercado em baixa, além da recessão. 

Em consequência, boa parte das principais ações, fundos imobiliários, BDRs ou mercados futuros entram em uma tendência de queda mediante a uma onda de negatividade e de clima de incerteza dos ativos da renda variável e da perspectiva futura do rumo da economia. 

Como identificar um bear market?

Identificar o início e término de um ciclo de bear market é um dos grandes desafios dos investidores, porque nem toda queda de curto prazo caracteriza o mercado como bear market.

Tecnicamente, o bear market se configura quando determinado mercado ou índice geral, como o S&P 500, nos EUA, ou Ibovespa, no Brasil, sofre declínio de 20% ou mais em relação ao pico mais alto do ciclo anterior durante um período sustentado de tempo –normalmente dois meses ou mais. 

“Uma depreciação maior que 20% do valor normal, uma queda na cotação de 20% que dure pelo menos uns dois meses ou mais podemos falar em bear market. Isso não é um consenso, não é um absoluto, não é uma norma econômica, mas uma consideração mais tradicional para falar que aquele mercado está em bear market. É necessário ter um índice de referência, um representativo na maioria das ações ou das companhias mais importantes, como Ibovespa, que reflita isso”, diz Dotta.

Rodrigo Cohen, da Escola de Investimentos, acrescenta que a tendência de queda é representada “estatisticamente por topos e fundos descendentes de preço por dias seguidos, em que as máximas dos dias sempre são menores que as máximas anteriores” e que a média móvel dos preços de duzentos períodos é usada como um indicador técnico para determinar o bear market. “Se o preço estiver abaixo da média móvel de duzentos períodos, quer dizer que está no bear market.”

Quanto dura um bear market? 

Os dois especialistas ouvidos pelo InvesNews afirmam que não tem como determinar o tempo de duração de um bear market ou de um bull market. O período de baixa no mercado financeiro pode durar dias, semanas, meses e até anos – o que não impede de haver momentos de picos de alta durante o momento de bear market, e vice-versa. “Não tem como precificar porque não é medido por tempo, mas por percentual ou valores relativos absolutos de queda (bear market) ou de alta (bull market)”, diz Rodrigo Cohen, da Escola de Investimentos.

Já Eduardo Dotta, do Insper, acrescenta que a duração também “dependerá da instabilidade política, dos fatores econômicos que justificaram ele estar em bear ou bull”. “Se a indefinição durar muito tempo, pode ter a mesma durabilidade do bear ou do bull.”

O professor cita o movimento da bolsa brasileira um dia após o primeiro turno das eleições presidenciais de 2022. Principal indicador da bolsa, o Ibovespa fechou em alta de 5,54%, aos 116.134 pontos. Foi a maior valorização desde 14 de abril de 2020. O índice também foi beneficiado com as altas dos mercados no exterior.

“Houve apreciação elevada do mercado. Provavelmente, uma leitura de que o cenário constituído poderia, enfim, ser favorável. Quando a gente fala em durabilidade, portanto, não tem um tempo ótimo, um tempo certo para durar. O que faz ele durar ou não são os fatores que justificaram a existência dele. Se melhorar a economia, a tendência é melhorar. Se melhorar o cenário político, a tendência é sair do bear market”, acrescenta Dotta. 

“Há a questão de oportunidade, com ativos que num cenário econômico melhor tendem a ser apreciados. O bear market gera muita necessidade de cautela. A pessoa não deve se desfazer daquele ativo que desvalorizou para não ter perda, exceto se for reversível, quando a empresa caminha para recuperação oficial”, complementa Eduardo Dotta, do Insper.

Qual a origem do termo bear e bull market?

The Charging Bull ou Touro de Wall Street, no distrito de Manhattan, Nova York, EUA, 16 de janeiro de 2019. REUTERS/Carlo Allegri

Essa tendência de baixa (bear market) e de alta (bull market) do mercado financeiro é usada não apenas como simbologia para marcar a ascensão ou descensão na bolsa, mas serve como característica para identificar perfis de investidores – o termo bullish designa os otimistas com o mercado, e bearish, os pessimistas. 

A explicação mais aceita para terminologia desse jargão financeiro é a do professor da Harvard Business School, Richard S. Tedlow. Os termos fazem referência às estratégias de ataque do touro e do urso (bull e bear, respectivamente, em inglês). O touro levanta sua presa de baixo para cima ao atacar, simbolizando um mercado em ascensão. Já o urso impulsa a presa para baixo, sufocando com suas patas ao atacar, o que caracteriza um mercado em descensão.

“É muito mais simbologia do que qualquer outra coisa. As pessoas não usam muito para poder ganhar dinheiro. Serve apenas para sinalizar quando o mercado está em alta ou em queda”, diz Rodrigo Cohen, da Escola de Investimentos, ao recordar que há uma estátua do touro (Charging Bull) em Wall Street, em Nova York (EUA), e uma do urso com touro em frente à bolsa de Frankfurt, na Alemanha. 

Quais são os outros ‘símbolos’ do mercado?

Cohen explica que há outras metáforas para se referir a perfis de investidores ou comportamento do mercado financeiro. “Há o tubarão do mercado, termo usado para as grandes movimentações. Os tubarões são os que movimentam o mercado e os investidores pessoas físicas são as sardinhas. No mercado de criptomoedas, os tubarões são substituídos pelas baleias, que movimentam o mercado de cripto, enquanto a sardinha só segue o rastro das baleias.”

"Tubarão" e "sardinha" são jargões do mercado financeiro. (Foto: Antonio Jose Cespedes por Pixabay)
“Tubarão” e “sardinha” são jargões do mercado financeiro. (Foto: Antonio Jose Cespedes por Pixabay)


Em novembro de 2021, a B3 (B3SA3) inaugurou uma escultura de um touro dourado em frente a sua sede, no centro histórico da capital paulista. A obra do artista plástico Rafael Brancatelli foi alvo de protestos até ser removida pela Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU), da Secretaria Municipal de Urbanismo, por ser considerada uma publicidade irregular e sem licença urbanística.

Touro dourado inaugurado em frente à sede da B3. (Foto: Divulgação)
Touro dourado inaugurado em frente à sede da B3. (Foto: Divulgação)

Dias depois, a artista plástica Márcia Pinheiro decidiu expor uma escultura de uma vaca magra amarela no mesmo lugar. A obra, que representa a fome no país, ficou apenas quatro horas em exibição até ser retirada pela própria artista. 

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