O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) divulga nesta quarta-feira (3) sua decisão para a Selic, taxa básica de juros da economia brasileira. A expectativa do mercado é de que o BC acelere o ritmo de alta, passando de uma sequência de 3 aumentos de 0,75 ponto percentual para uma elevação de 1 ponto percentual desta vez. Atualmente, a taxa Selic está em 4,25% ao ano.
Se a previsão se confirmar, esse será o primeiro aumento de 1 ponto percentual da Selic desde 2003, e o maior para uma reunião do Copom desde 2002. Veja abaixo:
Aperto da inflação
A expectativa por um aumento maior da taxa Selic ganhou força em meio às preocupações com a inflação, em um cenário com pontos de alerta como conta de luz pressionada pela crise hídrica e aumento das commodities.
“Na última ata, o Banco Central anunciou uma nova alta de 0,75 p.p. em agosto, mas a nossa expectativa é de um aumento de 1 p.p. para Selic”, comentou em relatório o economista Gustavo Sung, da Suno Research.
“Com a piora dos índices de inflação e possível desancoragem das expectativas, acreditamos que o Banco Central deve ser mais ativo e elevar a taxa de juros de forma mais significativa. Esse comportamento evitaria uma perda de credibilidade e reduziria uma contaminação dos preços deste para o próximo ano”, diz Sung.
Analistas do Itaú Unibanco também esperam uma alta de 1 ponto percentual, pois, conforme pontuou o banco em relatório, “o risco para inflação continua sendo de alta, justificando um ajuste mais tempestivo”.
O economista João Beck, sócio da BRA, também acredita em um aumento de 1 ponto. “O atraso na subida dos juros pós pandemia foi proposital e claramente mencionado nos comunicados. O motivo foi – palavras do comunicado – manter os juros em níveis estimulativos. Agora, no último comunicado, a mensagem mudou. Os juros serão de equilíbrio e, como se diz no mercado, a meta é buscar a meta de inflação“, diz ele.
As projeções do mercado para a inflação vêm subindo consecutivamente: nesta segunda-feira (2), o Boletim Focus trouxe a 17ª elevação seguida da estimativa dos analistas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2021, para 6,79%.
Considerando os números oficiais, o IPCA acumula um avanço de 8,4% em 12 meses até junho, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). É a maior taxa desde setembro de 2016, e vai ainda mais além do teto da meta oficial do BC para este ano – inflação de 3,75%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Maior alta da Selic desde 2003
A última vez em que o Copom elevou a Selic em 1 ponto percentual foi em 19 de fevereiro de 2003, quando a taxa passou para 26,3% ao ano. Desde então, o comitê nunca promoveu aumento maior. Uma elevação de 1 ponto agora também seria a maior desde 18 de dezembro de 2002, quando a Selic subiu 3 pontos percentuais, para 25%.
Naquela época, a Selic viveu um ciclo intenso de alta. Entre outubro de 2002 e fevereiro de 2003, o Copom elevou a Selic em 5 reuniões e manteve em 1. Isso levou a taxa a subir de 18% para 26,5% nesse intervalo.
O aumento aconteceu em meio à disparada do dólar, em uma reação do mercado financeiro às incertezas sobre o cenário político. De olho nos impactos do câmbio sobre a inflação, o BC então começou a elevar a Selic para tentar garantir o cumprimento da meta de 3,5% para o IPCA em 2002.
Quando as altas começaram, a inflação em 12 meses já estava em 8,45%. Terminou o ano em 12,53% – bem acima do teto da meta, de 5,5%. Depois, em 2003, com uma meta ajustada para 8,5%, a inflação ficou em 9,3%.
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