As ações que pagam dividendos com regularidade vêm ganhando espaço na carteira de quem busca obter uma renda passiva. Com a taxa de juros no menor patamar histórico, de 2% ao ano, o CDI (Certificado de Depósito Bancário) — um importante parâmetro para a renda fixa — perdeu da inflação em 2020. Para este ano, o cenário não é muito diferente: segundo projeções do último Boletim Focus do Banco Central, os juros devem permanecer em um patamar baixo, de 3% ao ano.
Em consequência, a cultura do “rentismo” baseada no CDI passou a “respirar com ajuda de aparelhos”. Aplicações que remuneram 100% do CDI, por exemplo, entregaram em 2020 retorno de 2,77% no acumulado do ano. Para garantir uma rentabilidade melhor sem muita oscilação, os investidores enxergaram na renda passiva uma alternativa interessante, aplicando seu dinheiro em companhias que costumam distribuir os lucros com o acionista na forma de proventos.
Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo Investimentos, explica que além de garantir um bom retorno no longo prazo, muitas são as vantagens deste tipo de investimento se comparado com a renda fixa.
A primeira é o retorno. A companhia com maior retorno em dividendos (dividend yield) de 2020, a Industrias Romi (ROMI3), entregou ao investidor 14,62%. O DY é o quanto uma ação pagou nos últimos 12 meses em relação ao preço atual do papel.
Outra vantagem dos dividendos são os benefícios fiscais, já que eles ainda não sofrem tributação do Imposto de Renda, enquanto na renda fixa os rendimentos seguem a tabela de tributação regressiva que vai de 22,5% até 15% (se a aplicação permanecer acima de 720 dias).
Além disso, mesmo com as projeções de diversas casas de análise esperando uma leve alta da taxa Selic a partir do segundo trimestre de 2021 – especialistas projetam os juros entre 3,5% e 4,75% para o final deste ano – Madruga lembra que os juros ainda continuarão historicamente baixos, enquanto o mercado de ações deve valorizar com a retomada econômica. “Com o crescimento do PIB, a lucratividade destas companhias será maior e em consequência teremos mais dividendos”, afirma.
As top 10 pagadoras de dividendos em 2020
É importante lembrar que na renda variável e até mesmo nas companhias que pagam dividendos, retorno passado não é garantia de retorno futuro. Contudo, muitas companhias que são reconhecidas por ter uma boa política de distribuição de lucros apresentam um bom histórico de dividend yield nos últimos cinco anos.
O ano de 2020, que afetou o caixa e a lucratividade das empresas brasileiras, foi considerado atípico para as pagadoras de proventos. Mas apesar da crise, algumas companhias conseguiram manter seu histórico de bons dividendos.
Um levantamento feito pela Economatica Brasil para o Investnews apresenta as dez ações que tiveram o melhor retorno de dividendos de 2020. As companhias fazem parte de setores resilientes, entre eles energia elétrica, seguradoras e telecomunicações.
A companhia com maior retorno de dividendos foi a Indústrias Romi (ROMI3) que entregou 14,62%. Apesar de ser uma small cap – ação com menor liquidez no mercado – e o setor industrial ter desacelerado durante a pandemia, Madruga avalia que a companhia se fortaleceu com a estratégia de distribuição de lucro.
Mesmo na crise, a Indústrias Romi conseguiu aumentar as vendas e distribuir bons dividendos aos acionistas. Quem investiu em ROMI3 também se beneficiou da valorização das ações. Segundo o especialista, no auge da pandemia, as ações da companhia chegaram a ser negociadas a R$ 4,75 e fecharam 2020 negociadas a R$ 15,45.
Na segunda posição está a Copasa (CSMG3) com um dividend yield de 12,30% em 2020. Segundo Madruga, o setor de saneamento é por tradição um bom pagador de proventos, tendo em vista que atende uma necessidade básica dos brasileiros. O motivo de ter uma boa política de distribuição de lucro é a geração de caixa elevada e o baixo custo de investimento “Sem ter onde investir, o lucro das empresas retorna para o bolso dos acionistas”, explica ele.
Para 2021, o setor de saneamento é uma das principais apostas do mercado. Companhias como Sanepar (SAPR4) estão no radar dos especialistas. “A projeção é de 7,6% de dividend yield para 2021”, aponta Madruga.
O setor elétrico, seja de geração ou transmissão de energia, também não desaponta e já é conhecido há alguns anos como um dos principais pagadores de dividendos. A lógica é a mesma que a do setor de saneamento: geração elevada de caixa e poucos gastos fazem com que as companhias distribuam a maior parte dos lucros entre os investidores.
Em 2020, os destaques do setor foram a Eletrobras (ELET3), com um dividend yield de 11,81%, e a Taesa (TAEE11), com um retorno de dividendos de 10,30%.
Madruga explica que, em 2021, a projeção para estas companhias também é animadora. Com uma possível privatização, a Eletrobras melhoraria a sua gestão aumentando assim os seus lucros e em consequência seus dividendos.
Já a Taesa integra a maioria das recomendações das casas de análise para este ano. “Pela política da empresa acredito que ela possa chegar a distribuir 50% do seu lucro em 2021”, avalia o especialista.
E na quinta posição está uma companhia de telecomunicações, a Telefônica Brasil (VIVT3), que encerrou 2020 com um dividend yield de 8,62%.
Mais bem consolidada que as concorrentes do setor, a Telefônica se beneficiou com as mudanças durante a pandemia, com pessoas dependendo cada vez mais de telefonia celular e internet. “Com as companhias em home office em 2020, muitas pessoas aumentaram seus pacotes destes serviços e a Vivo teve bons lucros”, explica Madruga.
Para 2021, a realidade não deve ser muito diferente. Agora com a unificação das suas ações em ordinárias (VIVT3), o especialista projeta um histórico de distribuição de mais de 7% para este ano.
Confira as 10 melhores pagadoras de dividendos em 2020:
Boas pagadoras em 2021
Para 2021, a largada já foi dada. E com a Selic não chegando nem ao patamar de 5%, segundo as projeções do mercado, ações que pagam dividendos continuam sendo uma alternativa para o investidor menos arrojado começar na renda variável.
Segundo Guilherme Tiglia, analista de ações da Nord Research, as vantagens de investir neste tipo de ativo é que o retorno dos dividendos está cada vez mais atrativo. No caso das ações pagadoras de proventos, elas também podem valorizar, proporcionando ao investidor duas frentes de ganho. “O momento atual com a situação das contas públicas exige cautela, por isso é bom privilegiar a resiliência com companhias que devem sobreviver mesmo considerando um cenário difícil no futuro”, aponta Tiglia.
Entre as companhias escolhidas pelo analista para 2021, que podem dar retorno de acima de três vezes a taxa de juros, estão:
- Itaúsa (ITSA4): a holding vem entregando um retorno sobre patrimônio (ROE) acima de 15% nos últimos anos, consistentemente mais lucrativa que o índice Ibovespa, que beira na casa dos 10% a.a. O yield esperado de dividendos para 2021 é de 7,5% ao ano, mais do que 3 vezes a Selic.
- AES Brasil (TIET11): uma das maiores companhias no segmento de geração elétrica no Brasil, a empresa está se beneficiando pela diversificação do seu portfólio em energia renovável. AES Brasil tem contratos longos e capacidade de honrar o pagamento de proventos. O yield esperado de dividendos para 2021 é de 8% ao ano
- Banrisul (BRSR6): considerado um banco tradicional focado no varejo e agronegócio, o yield esperado de dividendos para 2021 é de 7% ao ano
Ainda entre as melhores pagadores de dividendos para 2021, a Suno Research destaca duas companhias:
A primeira é a Telefônica Brasil (VIVT3). Segundo a casa de análise, pode ser o melhor dividend yield do mercado neste ano. Tudo graças à estratégia de expansão da companhia aliada a sua boa gestão financeira e operacional. “A companhia está bem posicionada para distribuir generosos proventos. Nos últimos trimestres, houve um esforço para controlar custos e despesas e aumentar o faturamento”, apontou a casa de análise em relatório.
E a segunda é a Taesa (TAEE11), uma das principais companhias do setor de energia, focada no segmento de transmissão. Segundo a Suno, a vantagem da companhia frente às concorrentes é que ela trabalha exclusivamente neste nicho. Então mesmo que pouca energia seja utilizada ou exista pouca demanda no mercado, a companhia continua com receita. A alta do IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), índice de inflação, também beneficia a Taesa, que tem sua receita corrigida por ele.
A Economatica Brasil também apontou suas candidatas, segundo um levantamento que considerou uma metodologia 100% quantitativa.
A amostra escolheu companhias nas quais o lucro dos nove meses de 2020 é pelo menos 75% do lucro acumulado em 2019. A expectativa é que a política de distribuição de lucros em 2021 seja equivalente ou superior à 2020.
Segundo a Economatica Brasil, a ação com melhor dividend yield projetado para 2021 é a Enauta Participações (ENAT3).
O lucro da companhia em 2019 foi de R$ 215 milhões e, nos nove meses de 2020 (até o terceiro trimestre dos balanços), a empresa registrou R$ 244 milhões de lucro – um salto de 13,23% comparado com o ano anterior.
Em 2020, o dividend yield da companhia foi de 7,14%. Considerando que o lucro de 2020 foi superior ao de 2019, se a Enauta mantiver sua política de distribuição em 2021, retorno projetado para este ano será de 9,64%. Veja outras companhias:
Boas pagadoras de dividendos em 2021, segundo Economatica:
Companhia | Segmento Bovespa | Dividend yield projetado 2021 % |
Enauta Participações (ENAT3) | Petróleo e gás | 9,64% |
Taesa (TAEE11) | Energia elétrica | 9,63% |
Wiz S.A (WIZS3) | Corretora de Seguros | 8,32% |
Cyrela Commercial Properties (CCPR3) | Exploração de imóveis | 6,80% |
AES Brasil (TIET11) | Energia Elétrica | 6,37% |
Transmissão Paulista (TRPL4) | Energia Elétrica | 6,26% |
Cyrela (CYRE3) | Incorporações | 6,16% |
CPFL Energia (CPFE3) | Energia Elétrica | 5,53% |
Camil (CAML3) | Alimentos Diversos | 5,27% |
Porto Seguro (PSSA3) | Seguradoras | 4,37% |
- As 10 ações que pagam dividendos acima da Selic