O Ibovespa, principal índice da B3, teve em março seu primeiro desempenho mensal positivo de 2021, subindo 5,99%. No lado positivo, as ações que mais se destacaram foram as dos setor de varejo alimentar, enquanto os papéis das varejistas online e as operadoras de planos de saúde ficaram no outro extremo.
Desempenho do Ibovespa
A bolsa brasileira encontrou certo otimismo no mês, apesar do turbilhão de notícias que impactaram a economia e política brasileira e em meio aos recordes diários de mortes pela covid-19.
Até quarta-feira (31), o Brasil registrava 317.346 óbitos desde o começo da pandemia, segundo dados do Ministério da Saúde, o segundo país do mundo com mais casos e mortes pelo coronavírus.
Contudo, os investidores mantiveram a confiança no processo de vacinação e que a reação da economia é apenas questão de tempo. De acordo com dados do ministério da Saúde, 14.322.996 pessoas já receberam a primeira dose da vacina, enquanto 4.150.441 já tomaram a segunda dose.
Segundo Eduardo Cavalheiro, gestor da Rio Verde Investimentos, este foi um dos motivos que ajudaram o bom desempenho do Ibovespa no período: investidores à procura de ações descontadas que esperam se beneficiar com a valorização futura.
Outro motivo que ajudou o Ibovespa, de acordo com o gestor, é que no meio dessa turbulência, a bolsa ainda parece ser um porto seguro. Isso se considerada a inflação elevada e o risco fiscal. “É uma tentativa de o investidor proteger seu patrimônio. Sem saber ao certo para onde vai a renda fixa, a bolsa ainda tem essa função”, afirma Cavalheiro.
Apesar de a Selic ter subido para o patamar de 2,75%, o próprio Roberto Campos Neto declarou recentemente que o Banco Central não vai necessariamente colocar o pé no acelerador para os juros subirem, e em maio deve manter a magnitude do aperto.
Neste contexto, algumas companhias na bolsa, conhecidas por ser boas pagadoras de proventos, entregam até 6% de retorno em dividendos (dividend yield), mais um motivo para estar posicionado em ações segundo o gestor da Rio Verde.
Mas também há risco e muita dificuldade que deixa incertos os caminhos do mercado. Entre estes, Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, cita o risco fiscal, que deu o sinal de alerta após a entrega do Orçamento 2021, que mais preocupa do que agrada pela possibilidade de furar o teto de gastos ou com contabilidade criativa dar lugar a crimes como o da pedalada fiscal.
Mesmo com o corte equivalente a R$ 10 bilhões em emendas pelo relator, o senador Marcio Bittar (MDB-AC), parece que a conta ainda não fecha e segundo Rodrigo Maia faltariam ainda R$ 25 bilhões para manter o teto de gastos.
Para Komura, a situação fiscal é complicada, principalmente pela agenda futura. Ele cita por exemplo, o novo auxílio emergencial, cujo pagamento será liberado em proporções menores, e a rolagem de dívida dos títulos do Tesouro em abril. “O problema é que, pela proximidade das eleições, muito político quer gastar dinheiro com projetos e melhorias para ter mais votos na reeleição, mas a questão fiscal do Brasil não ajuda”, diz.
Segundo o analista, apesar de todas as mudanças abruptas promovidas pelo governo de Jair Bolsonaro, entre elas uma reforma ministerial e a demissão da cúpula das Forças Armadas, a jogada foi aparentemente bem recebida pelo mercado que, entre um processo de impeachment e esperar até 2022 para um novo governo, prefere a segunda opção. “A instabilidade é menor para o mercado financeiro e a economia”, avalia.
Embora, muitos agentes financeiros estejam céticos até que ponto a aliança do governo com o Centrão vai vingar, não resta nada mais que esperar. Komura reforça que, na agenda liberal de reformas e privatizações de estatais ninguém acredita mais.
“Por isso vimos no curto prazo o Ibovespa muito volátil, oscilando entre 110 mil e 120 mil pontos, sem altas consistentes”, reforça Komura.
Em meio ao sobe e desce da bolsa brasileira, confira quais foram as ações com os melhores e piores desempenhos do mês de março:
Ações que mais subiram
Entre os destaques positivos do Ibovespa, teve destaque o varejo alimentar, que atraiu os holofotes nas últimas semanas, tendo como pano de fundo um melhor desempenho nas vendas e movimentações entre grandes gigantes do setor.
Muitos brasileiros que deixaram de comprar roupa, calçado ou até mesmo viajar passaram a gastar mais com supermercado. Provas disso são os bons resultados trimestrais das companhias do segmento em 2020.
A maior alta do mês foi do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) que valorizou 48,99% em março. Segundo Cavalheiro, da Rio Verde Investimentos, a forte alta foi fruto da cisão da sua operação de atacarejo Assaí.
Embora no começo houvesse um forte movimento de migração dos investidores para o Assaí (ASAI3), a cisão também ajudou o Pão de Açúcar a destravar seu valor no mercado. “Após a cisão, o GPA se tornou uma small cap e o investidor percebeu que o ativo estava muito barato para o potencial do grupo”, explica o gestor.
Reconhecendo o verdadeiro valor do Pão de Açúcar, o investidor foi às compras o que garantiu fortes ganhos para a companhia.
Outra empresa que não desapontou no varejo alimentar foi o Carrefour (CRFB3) que avançou 19,69% no período. A alta foi puxada principalmente pela notícia da aquisição do Grupo Big, dando lugar a um grupo com faturamento de R$ 100 bilhões, 137 mil funcionários e 876 lojas.
“Após a reprecificação do GPA, o investidor enxergou que o Carrefour também tem a rede de Atacadão e houve um reajuste dos preços para cima”, avalia Cavalheiro.
Isso sem contar que o Carrefour se tornou líder absoluto do varejo alimentar, fazendo da inovação uma aliada. Recentemente o grupo foi o primeiro a anunciar as primeiras lojas autônomas no Brasil.
O segundo melhor desempenho de março foi da petroquímica Braskem (BRKM5). A ação subiu 31,73%. A companhia vem apresentando bom desempenho desde fevereiro acompanhando também um bom ciclo para o petróleo e a alta do dólar. “O spread entre o preço do produto da Braskem e o preço do petróleo é muito bom, operacionalmente a companhia passa por um momento favorável”, aponta Cavalheiro.
Em março, a Braskem subiu com os investidores monitorando o início do processo de venda da companhia do grupo Odebrecht. Outra novidade foi que o seu braço no México, a Braskem Idesa, retomou o seu contrato com o governo para fornecimento de gás.
Ainda entre as maiores altas do mês, se destacraam as companhias do “kit saída do covid-19”. São empresas boas, com sólidos fundamentos, mas que foram muito prejudicadas pela pandemia. Cavalheiro afirma que elas estão muito descontadas e, por este motivo, se tornaram oportunidades para os investidores, que já enxergam uma retomada da economia e saíram às compras. São estas as companhias do setor de shoppings e a CVC Brasil (CVCB3) que teve alta de 27,97%.
As 10 ações que mais subiram em março:
Ação | Alta mensal |
Pão de Açúcar (PCAR3) | 48,99% |
Braskem (BRKM5) | 31,73% |
CVC Brasil (CVCB3) | 27,97% |
BR Malls (BRML3) | 20,76% |
Marfrig (MRFG3) | 20,04% |
Multiplan (MULT3) | 19,93% |
Carrefour (CRFB3) | 19,69% |
Taesa Unit (TAEE11) | 19,39% |
Iguatemi (IGTA3) | 18,84% |
Equatorial (EQTL3) | 18,49% |
*Dados: Investing.com
Ações que mais caíram
No lado oposto do Ibovespa, dois setores se destacaram entre as principais quedas: o varejo online e os planos de saúde.
Para Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, o tombo das varejistas Magazine Luiza (MGLU3) e B2W (BTOW), que recuaram 20,44% e 18,65%, respectivamente, está relacionado ainda ao movimento de rotação de setores, apesar da piora da pandemia, e principalmente pela volta dos juros mais altos, que acaba prejudicando empresas de tecnologia e e-commerce.
Ele destaca que a desvalorização também é um efeito direto da aquisição do Grupo Big pelo Carrefour. O varejo alimentar, por se tratar de um setor de forte recorrência dos consumidores, acabou atraindo também Magazine Luiza e B2W, que tentaram encontrar um lugar no mundo supermercadista. No entanto, nessa briga acirrada, o Carrefour acabou levando distância das concorrentes. “Essa consolidação pode dificultar que ambas as companhias atraiam clientes. Agora é questão de observar como as varejistas online vão se saindo“, aponta Komura.
Apesar da desvalorização, na visão do analista, Magazine Luiza (MGLU3) continua sendo uma boa companhia, e pode ser umaoportunidade de entrada para o investidor por estar muito descontada no momento, negociada no patamar de R$ 20,24 até o fechamento de 31 de março.
No caso da B2W (BTOW3), mesmo com o anúncio da companhia de uma possível fusão com a operação das Lojas Americanas (LAME4), Komura destaca que o formato de reestruturação das companhias ainda não ficou claro para o mercado, o que acabou impactando nos preços das ações.
Ainda entre as maiores baixas, a Qualicorp (QUAL3) ocupa a 3ª posição entre os piores desempenhos de março. A companhia desvalorizou 10,07%.
Segundo o analista, esta queda tem a ver com a volta da sinistralidade nos planos de saúde, que afeta principalmente companhias verticalizadas. Operadoras como Qualicorp, Hapvida e Intermédica investem na verticalização da saúde, ou seja, oferecem os serviços estritamente necessários na tentativa de enxugar custos.
Em 2020, muitas pessoas usaram menos o plano de saúde, focando apenas em atendimentos pela covid-19, mas em 2021 Komura afirma que a procura por procedimentos eletivos intensificou, elevando os custos para estas companhias.
Outro motivo que provocou a queda foi a desistência de muitos brasileiros pelo plano de saúde privado, com o aumento do desemprego e a crise econômica. Algumas companhias, principais fontes de receita destas operadoras, também acabaram cancelando ou reduzindo os planos de saúde para os funcionários.
Com a perda de clientes e a volta da demanda represada de serviços e consultas, sofrem Qualicorp, Hapvida e NotreDame.
“A fusão entre Hapvida e NotreDame ainda é lenta e depende da aprovação do Cade, o que acaba segurando a performance das ações”, acrescenta Komura, como motivo da queda do segmento.
Nesta quarta-feira (31), a Qualicorp (QUAL3) divulgou seu balanço. A companhia reportou lucro líquido de R$ 67,6 milhões para o quarto trimestre de 2020
Confira as 10 maiores quedas do mês de março*
Ação | Queda mensal |
Magazine Luiza (MGLU3) | -20,44% |
B2W Digital (BTOW3) | -18,65% |
Qualicorp (QUAL3) | -10,07% |
Lojas Americanas (LAME4) | -8,96% |
Klabin (KLBN11) | -7,96% |
Suzano (SUZB3) | -6,86% |
Totvs (TOTS3) | -5,49% |
Hapvida (HAPV3) | -4,31% |
NotreDame (GNDI3) | -3,55% |
YDUQS (YDUQ3) | -3,50% |
*Dados: Investing.com