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Leilão do 5G: o que está em jogo e qual o impacto para as ações das teles?

Especialistas avaliam a importância da chegada da nova tecnologia após a disputa em novembro e os impactos para o setor.

5G

O leilão que possibilitará a chegada do 5G ao Brasil está marcado para 4 de novembro. A próxima etapa é o recebimento das licitações das empresas, em 27 de outubro. Após idas e vindas, com debates regulamentares e atrasos desde 2019, as expectativas sobre a nova tecnologia são positivas para o consumidor, empresas e investidores. Mas o que esperar das ações de telecomunicações na bolsa de valores?

Antonio Samad Júnior, sócio e gestor da mesa proprietária Axia Investing, explica que a entrada do 5G no país está atrasada no país há pelo menos 2 anos. “Era algo que precisava sair do papel. Antes tarde do que nunca. As nações mais avançadas já estão com velocidade de internet muito além da nossa”, diz. 

Leo Monteiro, analista de research da Ativa Investimentos, também avalia a chegada do 5G como positiva. “Quanto mais demora, mais para trás o Brasil tem ficado. O leilão vem para revolucionar por meio da internet das coisas, é uma mudança muito boa para o Brasil e já está na hora de acontecer”, afirma. 

Importância do 5G para o Brasil

Com o 5G, a conexão de internet móvel será mais rápida, ágil e econômica. Trata-se do mais recente padrão de tecnologia para redes móveis e de banda larga.

A tecnologia será a sucessora das redes 4G, que atualmente fornece conectividade para a maior parte dos dispositivos. Ao contrário das mudanças nas gerações 2G, 3G e 4G, o foco agora não será o aumento de taxas de transmissão, mas a especificação de serviços que permitam variadas aplicações.

O ministro das Comunicações, Fábio Faria, afirmou que o leilão permitirá colocar o Brasil dentro da economia digital mundial, trazendo melhorias para variados setores, como deixar o agronegócio mais conectado, aproximar a telemedicina da saúde, conectar e levar internet para 40 milhões de brasileiros que não possuem conexão em casa.

A expectativa é que, nas capitais e no Distrito Federal, o 5G começará a ser oferecido pelas vencedoras do leilão antes de 31 de julho de 2022.

Júnior afirma que, nos dias de hoje, há muita dependência tecnológica e o 5G vem em linha com todo o desenvolvimento que se observa e se projeta, com um mundo cada vez mais conectado.

Por dentro do leilão do 5G

De acordo com a Anatel, a disputa de novembro será a maior de radiofrequência da história do país. Além do valor de R$ 10,6 bilhões de outorga mínima, ainda estão previstos R$ 39 bilhões em investimentos.

Serão ofertadas quatro faixas de radiofrequências: 700 MHz, 2,3 GHz, 3,5 GHz e 26 GHz. Cada faixa será arrematada em um lote e o leilão será não arrecadatório, o que significa que boa parte do valor vai para investimento na ampliação da infraestrutura de telecomunicações no país.

As companhias que vencerem o leilão precisarão fazer diversos investimentos na área de comunicações, como atender com tecnologia 4G ou superior as áreas pouco ou não servidas com mais de 600 habitantes, como localidades e estradas.

Já no caso de municípios com mais de 30 mil habitantes, estão previstos atendimentos já com tecnologia 5G. O edital também estima recursos para a implementação de redes de transporte em fibra óptica na região norte e a construção da rede privativa de comunicação da administração pública federal.

Além disso, será preciso levar internet móvel de qualidade para escolas públicas de educação básica, bem como destinar recursos para a distribuição de kits a famílias de baixa renda inscritas no Cadastro Único para programas sociais que dependem de antenas parabólicas para terem acesso à TV aberta.

O banco UBS estima que algumas bandas terão alta demanda, enquanto outras nem tanto e que existem muitas combinações estratégicas possíveis neste processo. O banco acredita que a banda de 3,5 GHz será altamente disputada, como já foi sinalizado pelas três maiores empresas de telecomunicações do país em diferentes ocasiões.

Por outro lado, segundo o UBS, a de 2,3 GHz pode não ter muito uso devido às limitações de execução de equipamentos 5G. No entanto, a Anatel aumentou a atratividade dessa banda colocando quase nenhum limite de espectro, o que poderia reacender o interesse nacional de empresas.

O UBS avalia ainda que o leilão pode revelar outros ambiciosos players de demais regiões, o que pode alterar a dinâmica competitiva do mercado. 

Monteiro também acredita que o leilão pode trazer oportunidades para outras empresas, especialmente em algumas regiões específicas, com operadoras de menor porte conseguindo operar.

Júnior, da Axia, tem outra percepção. Ele acredita que não haverá grandes surpresas com o certame, com nenhum player diferente do esperado na disputa. “Por conta da dificuldade que alguns provedores menores têm apontado para conseguir participar do leilão, acredito que o 5G ficará na mão das grandes empresas de telecomunicações, das mesmas que já detêm a tecnologia 4G”, avalia.

Leilão 5G x empresas de telecomunicações

De acordo com o Ministério das Comunicações, o 5G fornecerá mais velocidade para a internet móvel, proporcionará maior conectividade entre dispositivos com menor tempo de resposta, além de permitir que mais dispositivos acessem a rede ao mesmo tempo.

Ainda segundo a pasta, a ideia é que o 5G promova a habilitação de outras tecnologias, como a inteligência artificial, e colabore para a redução de custos e  desperdícios. A tecnologia promete ser até 100 vezes mais rápida do que a atual.

Samad Júnior defende que, com a chegada da tecnologia, o setor de telecomunicações ainda tem muito a crescer na B3. “Cada vez mais caminhamos para um mundo que vai precisar de tecnologia. E, com isso, a fatia do segmento de empresas listadas na bolsa vai aumentar”, acredita.

O sócio e gestor da mesa proprietária Axia Investing explica que são poucas as companhias do setor na bolsa brasileira, que, para ele, são resilientes e têm receita recorrente, um serviço com muita demanda, independente do cenário macroeconômico.

Júnior avalia que as empresas vencedoras do leilão precisarão se capitalizar bem em um primeiro momento, pois o governo espera um robusto investimento em infraestrutura, de cerca de R$ 40 bilhões.

“Qualquer que seja a empresa ganhadora, ela terá que ter um desembolso de caixa grande. Em um primeiro momento pode até impactar o fluxo de caixa da companhia. Mas, para o médio e longo prazo, eu vejo com muito bons olhos quem conseguir sair na frente. Vai colher bons frutos por muitos anos”, defende.

Já Monteiro avalia que a chegada do 5G trará transformações principalmente na indústria, uma oportunidade para as operadoras conseguirem novos clientes. De acordo com o analista, as principais empresas de telecomunicação vão se beneficiar com a nova tecnologia, cada uma a sua maneira.

Impacto do 5G para as ações de teles

Além dos impactos positivos para as companhias do segmento com a chegada do 5G, os especialistas ouvidos pelo InvestNews avaliam que os ganhos podem ser vistos também nas ações destas companhias listadas na bolsa.

Júnior explica que, atualmente, as ações de empresas de telecomunicações estão em um momento mais difícil, mas não é por causa do setor em específico, e, sim, devido à conjuntura geral da bolsa de valores, afetada por outras variáveis sem relação com as empresas do segmento.

“Eu vejo este momento como uma oportunidade, principalmente para quem está fora do setor, que é resiliente. A chegada do 5G, com o desconto nos papeis destas empresas por causa da volatilidade com o cenário global, abre uma possibilidade para quem está fora da bolsa entrar em companhias bem posicionadas”, diz.

O sócio e gestor da mesa proprietária Axia Investing afirma ainda que, no curto prazo, é uma incógnita o que pode acontecer com as ações destas companhias, mas para quem tem um viés de médio e longo prazo, o cenário é positivo. “É interessante aproveitar este momento com o desconto que as ações vêm sofrendo nos últimos tempos”, pontua.

Já no caso de quem é acionista de ações de telecomunicações, Júnior defende o investidor continuar com os papéis e sugere a possibilidade, inclusive, de aumento de posição nestas companhias.

Monteiro, por sua vez, avalia que as ações do setor de telecomunicações acabaram sendo penalizadas recentemente devido ao adiamento dos principais eventos para o segmento que teriam que acontecer e foram postergados por causa da pandemia de covid-19.

Segundo ele, o impacto do leilão do 5G nas ações vai depender do que ficará definido após o certame, de qual empresa vai pegar a maior parte da operação. Porém, de acordo com o analista, a partir de novembro, será um bom momento para destravar valor das ações destas empresas.

“Para o investidor que está entrando em bolsa agora, os papéis de telecomunicações estão interessantes, justamente por não sofrerem tanta volatilidade em termos de operações, de receita e lucro. É um setor bem consolidado. Geralmente, essas empresas têm margens bem constantes, não perdem muita receita e não ganham muita despesa. É um setor que ainda está barato”, avalia.

TIM, Oi, Brisanet e Vivo: disputa acirrada?

A TIM (TIMS3) foi a primeira operadora a ter a aprovação do seu conselho de administração para participar no leilão do 5G. A empresa chegou a criar um living labs em 2019 para testar a tecnologia. Também fez pilotos de rede 5G Standalone em Brasília e Rondonópolis (MT), em maio, seguidos de testes da tecnologia em São Paulo e no Rio de Janeiro.

No caso da Vivo (VIVT3), a companhia realiza um experimento com o 5G em ondas milimétricas (mmWave) no Rio de Janeiro em parceria com a Nokia, após uma licença específica da Anatel. Os testes acontecem na frequência de 26 GHz, que também será oferecida no leilão. Além da mmWave, a Vivo tem uma rede comercial ativa com 5G DSS, que usa as frequências do 4G.

A Oi (OIBR3, OIBR4), por sua vez, demonstrou interesse em participar do leilão, especificamente na faixa de 26 GHz. O objetivo da empresa não é a prestação do serviço móvel, já que a sua unidade Oi móvel espera aprovações regulatórias para a venda do negócio para o consórcio firmado por Claro, TIM e Vivo. A intenção da companhia seria fornecer acesso fixo-móvel (FWA) de forma complementar à oferta de fibra óptica até a residência (FTTH). 

A Brisanet (BRIT3), que se apresenta como a maior do país entre os provedores independentes de internet de fibra óptica e que estreou em julho de 2021 na bolsa, também deseja entrar na disputa pelo 5G. A companhia tem interesse na faixa de 3,5 GHz. Segundo a empresa, a intenção é começar a oferecer internet móvel aos seus mais de 750 mil clientes da banda larga. Atualmente, a companhia oferece serviços de telefonia móvel no formato MVNO, com as redes da Vivo.

Outra novata na bolsa, a Unifique (FIQE3) também disse que está estudando opções para participar do leilão. Segundo a companhia, a nova tecnologia abre uma grande possibilidade de negócios. O interesse da operadora é em um lote da faixa de 3,5 GHz. A empresa estuda aquisição em sociedade com outra companhia, através de consórcio ou sozinha.

Júnior acredita que o acirramento entre as empresas do setor já existe hoje e que o 5G não vai mudar este cenário. “Obviamente vai trazer mais competitividade, mas para todas as empresas acaba sendo bom. Ter uma concorrência para o consumidor é bom, mas, sob o ponto de vista das empresas, ter uma tecnologia que vai atingir muito mais pessoas é positivo no curto e médio prazo”, considera.

O sócio e gestor da mesa proprietária Axia Investing também defende que todas as empresas do setor acabam sendo beneficiadas, pois, com uma nova tecnologia, o mercado cresce. Segundo ele, quanto mais pessoas contratam essa tecnologia, mais receita recorrente é gerada para as operadoras.

Outros setores da bolsa podem ser beneficiados?

A chegada da nova tecnologia ao país é tida como positiva como um todo, segundos os especialistas ouvidos pelo InvestNews. Afinal, em um mundo global e conectado, a cada dia é demandada mais conectividade e qualidade.

Júnior avalia que a chegada do 5G promoverá um impacto bom para todos os setores, por serem cada vez mais dependentes de tecnologia, mas que as empresas de telecomunicações ainda sairão na frente. “As companhias de telecomunicação vão se beneficiar diretamente, pois a demanda de fluxo desta tecnologia será direta para estas empresas”, avalia.

O sócio e gestor da mesa proprietária Axia Investing aponta que as empresas do setor de tecnologia continuarão se firmando neste processo e também se beneficiarão, mas ele não acredita que será uma virada de chave para elas, pois, de acordo com Júnior, são empresas já muito bem posicionadas em seus setores. Para ele, estas companhias podem acabar se beneficiando de forma indireta, como as empresas de e-commerce, por exemplo.

Já Monteiro destaca que o setor de indústria é um dos que também pode ser beneficiado com a chegada do 5G.

“Com essa nova tecnologia, é impossível não se falar da internet das coisas. Se o 3G e 4G ligaram pessoas através de videochamadas, por exemplo, o 5G vai ligar empresas. Então, a indústria e o agronegócio podem crescer muito, mas será uma revolução geral. É benefício para todos os setores”, pontua Monteiro.

Pontos de atenção para o investidor

Apesar de ser tido como um setor resiliente, investir em renda variável sempre requer atenção do investidor.

Júnior aponta uma possível volatilidade um pouco maior dos papéis das empresas de telecomunicações com a proximidade do leilão, mas ele aconselha, no entanto, que não é preciso se preocupar, pois quem investe nestes papéis e mira o médio e o longo prazo tende a se beneficiar com a chegada do 5G.

Leo Monteiro, analista da Ativa Investimentos, sugere que o investidor fique de olho em qual empresa vai levar a maior fatia do leilão e como pode ficar o marketshare do setor após o certame.

“Eu não vejo, a princípio, nenhum grande empecilho, mas são estes pontos específicos que o investidor pode acompanhar: algum possível agravamento da pandemia ou questões políticas. Mas, no geral, vai ser uma mudança muito boa para o setor e o Brasil como um todo. O leilão pode impulsionar os papéis, sim, e não vejo sentido quem tem ações destas companhias se desfazer delas agora”, conclui.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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