O dólar encerrou em alta após passar de R$ 5,60 na máxima do dia nesta terça-feira (19), mesmo com intervenção do Banco Central para tentar frear o avanço da moeda sobre o real. O Ibovespa, principal índice da B3, caiu forte, na contramão do movimento majoritário dos mercados globais. O pessimismo do mercado vem em meio a continuados temores com a questão fiscal no país.
O dólar subiu 1,36%, a R$ 5,5944, após chegar a R$ 5,6114 na máxima do dia. O Ibovespa caiu 3,28%, aos 110.672 pontos depois de atingir a mínima de 109.947 pontos.
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Investidores temem que as discussões sobre o financiamento do Auxílio Brasil – versão turbinada do Bolsa Família – resultem no rompimento do teto de gastos, tido como âncora fiscal do Brasil, o que golpearia um já fragilizado cenário para as contas públicas no país.
A expectativa era de que o governo anunciaria nesta terça o lançamento do programa com parcelas de R$ 400, mas o evento foi cancelado no final da tarde.
Na segunda-feira (18), o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), sinalizou em entrevista ao site da revista Veja discussão de um programa social fora do teto de gastos públicos.
Lira defendeu que, diante dos impactos sociais provocados no Brasil pela pandemia de covid-19, não se pode priorizar a responsabilidade fiscal e o respeito ao teto de gastos em detrimento das necessidades da população mais vulnerável.
“O prêmio de risco tem que aumentar mesmo. O mercado está entendendo essas medidas como populismo fiscal, de cunho eleitoreiro“, disse Sérgio Goldenstein, chefe da área de estratégia da Renascença.
“Além disso, você está desmoralizando o teto de gastos. Por que o governo a ser eleito em 2022 precisará respeitar o teto de gastos se o de agora não respeita?”, questionou, avaliando ser muito difícil reduzir posteriormente valores do auxílio – atualmente, o debate está em torno de um aumento temporário do novo Bolsa Família.
O noticiário sobre a PEC dos precatórios, que pode ser votada em comissão especial da Câmara ainda nesta terça, também atraía atenção de operadores. A PEC é uma contrapartida para a criação do Auxílio Brasil.
Interferência do BC no câmbio
O dólar à vista havia alcançado R$ 5,57 pela última vez na quarta passada, dia 13, quando o Banco Central fez o primeiro de uma série de leilões de novos contratos de swap cambial no mercado. Nesta terça, porém, o BC mudou o instrumento e colocou no sistema US$ 500 milhões em moeda física, operação que não era realizada desde março.
Analistas não notaram pressão que chamasse atenção no mercado do casado (um tipo de cupom cambial de curtíssimo prazo) que justificasse uma oferta direta de liquidez, mas lembraram que o aumento dos lotes disponibilizados de contratos de swap cambial pressiona a taxa do cupom, que entra nos rendimentos do comprador do derivativo.
No dia anterior, o Bacen injetou no mercado US$ 1,2 bilhão via swaps, que não conseguiram impedir que o dólar fechasse em alta de mais de 1%.
“Diante dos riscos fiscais de rompimento disfarçado do teto de gastos, as intervenções do BC só vão conseguir transferir momentaneamente a pressão do câmbio para os juros. Na minha visão, o correto é deixar os preços refletirem livremente as escolhas políticas”, comentou Marcos Mollica, gestor no Opportunity.
As taxas de DI disparavam, com vencimentos chegando a subir perto de 30 pontos-base. Na curva de juros, o mercado voltava a colocar fichas em aumentos da Taxa Selic superiores a 1 ponto percentual.
O real tinha o pior desempenho de uma lista de apenas quatro divisas que perdiam para o dólar nesta manhã. Outros 29 pares se valorizavam, alguns dos quais de perfil próximo ao da moeda brasileira, como peso mexicano e rand sul-africano.
Reforma do IR
O dia também é marcado por atenções voltadas à reforma do Imposto de Renda. O relator no Senado, Angelo Coronel (PSD-BA), disse que deve retirar do texto a tributação de lucros e dividendos. Para ele, empresas podem recorrer à Justiça com essa medida, que, segundo o relator, não trará arrecadação para o governo.
Destaques da bolsa
As units da Getnet (GET11) subiam 17,88%, para R$ 9,10, única alta do Ibovespa. Na outra ponta do indicador, a Azul (AZUL4) liderou as quedas do dia, com recuo de 10,36%, seguida da Cielo (CIEL3), que teve baixa de 9,20%. Veja os destaques da bolsa de valores.
Bolsas mundiais
Wall Street
Os principais índices de ações dos Estados Unidos subiram com balanços trimestrais animadores de Johnson & Johnson e Travelers elevando o apetite por risco, depois que grandes bancos deram início à temporada de resultados corporativos do terceiro trimestre com o pé direito na semana passada.
O índice Dow Jones subiu 0,56%, a 35.457 pontos, enquanto o S&P 500 ganhou 0,74%, a 4.519 pontos. O índice de tecnologia Nasdaq avançou 0,71%, a 15.129 pontos.
Europa
Alguns balanços positivos e compras defensivas mantiveram um índice de referência para as ações da Europa no azul nesta terça-feira, ajudando a compensar perdas da sueca Ericsson e da gigante francesa de bens de consumo Danone após resultados mais fracos.
- Em LONDRES, o índice Financial Times avançou 0,19%, a 7.217,53 pontos.
- Em FRANKFURT, o índice DAX subiu 0,27%, a 15.515,83 pontos.
- Em PARIS, o índice CAC-40 perdeu 0,05%, a 6.669,85 pontos.
- Em MILÃO, o índice Ftse/Mib teve valorização de 0,25%, a 26.332,99 pontos.
- Em MADRI, o índice Ibex-35 registrou alta de 0,67%, a 8.996,30 pontos.
- Em LISBOA, o índice PSI20 valorizou-se 0,92%, a 5.670,98 pontos.
Ásia e Pacífico
As ações asiáticas tiveram alta nesta terça-feira, lideradas por nomes de tecnologia em toda a região e com os mercados chineses recuperando terreno perdido após dados econômicos decepcionantes.
- Em TÓQUIO, o índice Nikkei avançou 0,65%, a 29.215,52 pontos.
- Em HONG KONG, o índice HANG SENG subiu 1,49%, a 25.787,21 pontos.
- Em XANGAI, o índice SSEC ganhou 0,70%, a 3.593,15 pontos.
- O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em XANGAI e SHENZHEN, avançou 0,98%, a 4.922,72 pontos.
- Em SEUL, o índice KOSPI teve valorização de 0,74%, a 3.029,04 pontos.
- Em TAIWAN, o índice TAIEX registrou alta de 1,17%, a 16.900,67 pontos.
- Em CINGAPURA, o índice STRAITS TIMES valorizou-se 0,79%, a 3.199,01 pontos.
- Em SYDNEY o índice S&P/ASX 200 recuou 0,08%, a 7.374,90 pontos.
(*Com informações de Reuters)
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