Começar a investir – seja no mercado financeiro, em ações, FIIs ou fundos de investimento, até a renda fixa, com CDBs, CRIs e LCAs, demanda conhecimento e experiência, sendo necessário ampliar as bases da educação financeira para além da economia, até o aprendizado a se investir.
Apenas no último ano, a B3 chegou a computar mais de 4 milhões de CPFs de investidores cadastrados na bolsa, em meio a uma preocupação crescente sobre o nível de conhecimento de pessoas físicas que acabaram de chegar ao mundo dos investimentos.
De olho neste crescimento, o InvestNews entrevistou analistas do mercado financeiro – profissionais certificados cujo trabalho é assessorar e tomar decisões de investimento – com as principais dicas de investimento para iniciantes. Confira abaixo tudo o que você precisa saber para se sair bem ao começar a investir.
1. Entenda a importância dos investimentos
Para se chegar a algum lugar, é preciso saber para onde ir. Pensando nisso, o assessor de investimentos da Miura Invest, Egon Schneider, sugere: “Faça um planejamento. É bom que o investidor trace uma meta para saber quanto investir mensalmente para que possa chegar aos objetivos”. Nesse planejamento, continua ele, é necessário ter respostas às seguintes perguntas:
- Quanto quero ter;
- Em quanto tempo;
- Qual rendimento eu espero obter;
- Quanto eu devo aportar mensalmente para que meu plano seja realizado.
Porque investir dinheiro?
Essa pergunta pode surgir em quem começa a se interessar por investimentos – seja porque recebeu uma grande quantia em dinheiro, seja porque começou a fazer seu planejamento de aposentadoria. Larissa Quaresma, analista da Empiricus, ressalta que os investimentos são o principal caminho para a independência financeira.
2. Aprenda a investir dinheiro
No começo da jornada, também é comum que o investidor não saiba onde se informar, e corra o risco de ingressar em esquemas de pirâmide ou perder a fortuna acumulada. Por isso, Schneider também sugere que o melhor caminho para o aprendizado é através das fontes oficiais:
“Hoje em dia, é normal encontrarmos muita informação na internet, grande parte sem uma fonte confiável. Todo investidor pode e deve se qualificar com cursos, se possível, em fontes oficiais. A B3, por exemplo, disponibiliza uma infinidade de cursos gratuitos em seu portal educacional”, cita ele.
3. Evite o erro comum do investidor iniciante: pular a reserva de emergência
Depois que se entendeu a importância de investir e começou a estudar investimentos, o próximo passo é construir a reserva de emergência. Ela deve ser o foco de todo investidor iniciante, antes mesmo da renda variável. Quaresma vai além e define que é o primeiro passo para a independência financeira.
“Quando começamos a guardar dinheiro, podemos ficar ansiosos para logo aplicá-lo em investimentos mais arriscados na busca de retornos maiores. Mas isso é um erro. O primeiro investimento deve ser a sua reserva de emergência, que te dará cobertura caso qualquer adversidade aconteça”, explica ela.
A analista vai além e define o que é necessário buscar em uma reserva de emergência.
“Esse dinheiro deve estar aplicado em um investimento seguro e de liquidez diária. Assim, você não precisa aceitar qualquer trabalho que aparece caso perca o emprego. Ou, mesmo que tenha um problema de saúde na sua família ou qualquer outro gasto emergencial inesperado, não ficará à mercê da boa vontade de ninguém”.
4. Trace seu perfil de investidor
Saber o seu perfil de investidor é essencial para conhecer em quais ativos, classes e em qual proporção vale a pena se expor. Esse perfil serve para orientar o investidor quanto ao principal aspecto do mercado de renda variável: a volatilidade. É o que explica Leonardo Ziolli, analista CFP e especialista de renda variável da SVN Investimentos:
“Tenha em mente que o mercado de ações traz volatilidade. Portanto, antes de iniciar no mercado de ações reflita sobre os potenciais riscos de volatilidade e como você reagiria em um cenário de queda das ações”.
5. Tenha visão de longo prazo
Com um perfil em mãos, é importante reforçar que qualquer plano para a renda variável, caso não seja trade – isto é, a profissão de operar o mercado, comprando e vendendo com lucro – deve ser de longo prazo.
Sobre isso, Ziolli ressalta que, apesar da volatilidade natural do mercado de ações, os frutos de se investir em empresas de bons fundamentos aparecem ao longo dos anos. “Portanto, ao comprar uma ação, mantenha uma mentalidade de sócio da empresa, onde o objetivo é colher frutos ao longo do tempo, seja por dividendos ou crescimento da empresa”.
6. Evite seguir ‘dicas quentes’
A visão de longo prazo vai ser bem útil para fugir do efeito manada de uma “dica quente”. O analista e influenciador professor Mira destaca no seu perfil que “a dica quente é aquela que quem viu já exerceu”.
Quem orienta a se evitá-las é a analista da Empiricus, Larissa Quaresma. “O que mais tem nos investimentos são ‘as dicas do momento’ ou aquele amigo que te sugeriu ‘a criptomoeda da vez’. Devemos manter a nossa estratégia de investimentos, definida quando você montou a carteira que respeita seus objetivos e tolerância ao risco”.
Marcos Vitor, especialista de investimento da Mobills, concorda com o posicionamento. “Não há problema em ouvir a opinião de profissionais do mercado, o problema é segui-las cegamente. Por isso, estude os ativos por conta própria para que você tenha uma opinião bem fundamentada e convicta”.
Segundo ambos, há margem para aproveitar oportunidades, desde que bem embasadas e atendendo ao seu perfil de investimentos. Motivo pelo qual ele é uma das primeiras dicas a se seguir.
7. Busque boas empresas nas quais investir
Sejam empresas no formato de ações ou gestoras de fundos imobiliários, Nícolas Merola, estrategista da Inv Publicações, destaca que o investimento deve buscar sempre o fundamento da qualidade.
“Compre boas empresas, com boa visão de futuro, entendendo que nos próximos dez anos esse negócio ainda existirá, ou será maior do que ele é atualmente. É importante avaliar o preço desta ação, pois uma boa empresa comprada por um valor muito alto pode não ser um bom negócio”.
Acompanhe investimentos e o mercado
Além disso, ele destaca a importância de avaliar quem faz parte dessa empresa. A movimentação de cargos de diretoria, conselhos fiscais e outros movimentos de c-level são importantes para entender a administração da empresa.
Esses dados, disponíveis em relatórios e fatos relevantes, podem ser encontrados pelo investidor pessoa física nos sites das empresas ou em portais noticiosos do mercado financeiro.
8. Valorize a diversificação
Não deixar todos os ovos na mesma cesta é um ditado de prudência, e o mesmo ocorre com os investimentos. Neste ponto Schneider destaca as principais vantagens de uma carteira diversificada.
“É de senso comum que a diversificação reduz o risco, principalmente quando falamos em ativos descorrelacionados, assim pode-se montar uma carteira balanceada e ainda assim manter um retorno interessante”, diz ele.
Entretanto, o investidor deve tomar cuidado para não pulverizar suas ações: “Diversificar em vários setores, classes e países é uma das melhores formas de minimizar o risco da nossa carteira de investimentos”. diz Vitor. “Todavia, não podemos cair no erro de diversificar demais ao ponto da nossa rentabilidade ser afetada”.
Como montar uma carteira de investimentos?
Existem diversas maneiras de se orientar uma carteira de investimentos. Alguns portais disponibilizam carteiras recomendadas pagas, e outros, versões gratuitas. Por lei, tais carteiras têm que ser assinadas por um Analista CNPI.
No caso de desconhecimento ou de baixo capital, Schneider recomenda ainda o investimento em ETFs. “ETF é uma classe de investimento em forma de fundo e negociada na bolsa de valores. Quando o valor disponível para aplicação é baixo e não te permite a diversificação ideal entre ativos, pode ser interessante escolher um pacote de ativos”.
Alguns dos ETFs mais movimentados da bolsa são o BOVA11 (ETF do índice Ibovespa) e o SMALL11 (ETF de ações small caps).
9. Selecione boas corretoras e bancos para investir
Na hora de realizar os aportes, o que não pode faltar é uma verificação das credenciais do banco ou corretora pela qual você fará seu investimento. Essa instituição deve seguir alguns requisitos, como estar vinculada a Anbima, CVM ou Apimec, ter profissionais devidamente certificados e regulamentados para o ofício de assessores de investimentos e garantir que toda a documentação seja clara e direta.
Um fator bônus para se preocupar é com a declaração de imposto de renda gerada por essas instituições: quanto mais completa ela for, mais fácil será o trabalho de declarar seus impostos – algo que todo investidor tem como obrigação.
10. Busque assessoria qualificada
Todos os analistas citados foram unânimes nesse ponto: não existe vergonha em acionar um assessor de investimento, feio é investir sem saber.
“No passado, uma assessoria especializada para Renda Variável era um serviço caro e disponível apenas para grandes investidores”, afirma Ziliolli. “Porém, com a popularização do mercado de ações que vivenciamos nos últimos anos, esse serviço se tornou totalmente acessível”.
“O assessor de investimentos vai ser o profissional que passou em uma prova de certificação e vai te ajudar a lutar pelos seus objetivos”, assinala Schneider, concordando. “Ele respeitará seu perfil de investidor, além de esclarecer todas as possíveis dúvidas sobre as classes de investimentos disponibilizadas pela sua instituição”.
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