Siga nossas redes

Economia

O que esperar para a economia do Brasil em 2022? Veja 8 pontos

Economistas falam em alívio da inflação, mas renda em baixa, juros e desemprego devem frear a atividade.

Pessoas caminham em rua no centro do Rio de Janeiro 01/09/2020 REUTERS/Ricardo Moraes

“Caímos, voltamos para o mesmo lugar e agora estamos de lado”. A frase é do economista André Perfeito, que comenta como está se desenhando a trajetória da economia brasileira de 2020 a 2022: uma forte queda, o retorno ao patamar pré-crise e um período de crescimento fraco em seguida. 

Especialistas esperam que 2022 seja marcado ainda por dificuldades para a economia brasileira. Em um cenário de renda mais baixa, a expectativa do mercado é de um crescimento perto de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem, de acordo com o último Boletim Focus divulgado pelo Banco Central. 

“O ano de 2022 vai ser mais ou menos no mesmo ritmo que está acontecendo agora. A pancada da pandemia foi muito forte. O próximo ano é a continuidade praticamente deste ano de 2021”, prevê Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.

Os economistas explicam que diversos pontos ajudam a explicar por que as perspectivas são de fraqueza para a economia do Brasil em 2022. Veja abaixo os 8 pontos comentados por Perfeito e Vieira em entrevista ao InvestNews

  1. Inflação melhora, mas ainda atrapalha
  2. Selic segura a economia, mas pode ajudar?
  3. Trabalho e renda: cenário ainda difícil
  4. Afinal, o que esperar do consumo?
  5. O que vai ser da indústria?
  6. Agro e serviços devem se sair melhor
  7. E os investimentos?
  8. ‘Carrego’ estatístico

Inflação melhora, mas ainda atrapalha

O indicador oficial da inflação em 2021 no país, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), chegou aos dois dígitos em 12 meses em 2021, pressionado pelos preços de energia elétrica em razão da crise hídrica, aumento dos combustíveis, pressões das commodities, dólar elevado entre outros fatores. 

Para 2022, a expectativa é de algum alívio na alta de preços. “Já está começando a ter alguma coisa, e parte desse alívio vem do atacado, principalmente”, diz Vieira, citando por exemplo a “melhora das chuvas”.

“Apesar de que, pontualmente aqui no Brasil, a La Niña pode encher o saco em algumas regiões, mas, no geral, a chuva deve melhorar, o que reduz o impacto de habitação”, explica o economista.
 

“Esse cenário se completando agora, você já não vai mais ter inflação de habitação. É um ponto a menos. A inflação de alimentos (também) começa a dar um alívio e já está tendo globalmente os primeiros sinais de recuperação da cadeia de suprimentos. Muita coisa já chegou, já está funcionando. E isso a gente vê principalmente nos índices do atacado”, resume Vieira.


Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, espera crescimento fraco da economia (Foto: Divulgação)

“A gente provavelmente chegou em novembro nos picos de inflação. É muito provável que tenham sido os pontos mais altos” , complementa o economista.

Perfeito também acredita em melhora da inflação em 2022, “porque muitos desses choques tendem a não se repetir”, como a disparada de mais de 40% do preço do barril de petróleo que aconteceu em 2021. 

“Outro exemplo: a gente teve um problema no mundo em 2021 que foi o preço de frete ter explodido, entre outros motivos, porque teve uma desarticulação da marinha mercante por conta da pandemia. Eu acho que isso vai ser normalizado”, diz Perfeito, que também cita uma tendência de normalização da cadeia produtiva da indústria (a falta de semicondutores para a fabricação veículos fez os preços de carros dispararem, por exemplo). 

Além da dissipação dos choques que puxaram a economia em 2021, o economista também cita a baixa demanda dos consumidores como outro motivo para a expectativa de inflação mais comportada em 2022. “Lembrando que ‘a boa notícia é que está ruim’. O fato de a economia estar fraca é o que está segurando a inflação”, diz Perfeito. 

Mas Vieira aponta que ainda existem alguns pontos de atenção. “O petróleo ainda pode ser um problema de alguma maneira. Apesar dessa queda recente, ainda tem elementos que geram uma pequena complicação em termos de cenário porque você tem todo o problema internacional de energia, a questão das disputas entre os produtores. Isso tudo ainda é algo que chama atenção.”

Também “dependemos agora de uma pretensa estabilidade de câmbio, coisa que ainda não aconteceu”, complementa Vieira.

Selic segura a economia, mas pode ajudar?

O Banco Central tem sinalizado que, em meio a projeções do mercado de inflação em alta por mais tempo, a taxa Selic deve continuar subindo nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). A expectativa é que isso contribua para controlar o aumento dos preços, mas o efeito negativo que os juros mais altos devem ter sobre o crescimento da economia do Brasil em 2022 também está no radar. 

“A gente vê uma inflação muito forte, deteriorando a renda das pessoas, e por sua vez está forçando uma elevação dos juros muito forte. Então, uma diminuição do consumo somada à elevação da taxa de juros tende a construir uma economia mais frágil”, resume Perfeito.


No entanto, o economista aponta um paradoxo: apesar da alta da Selic esfriar o consumo, ela pode ser benéfica para a economia de outra maneira, já que corrige distorções do período em que os juros permaneceram em mínimas históricas. 

André Perfeito, economista-chefe da Necton, fala sobre perspectivas para a economia do Brasil em 2022 (Foto: Divulgação)
André Perfeito, economista-chefe da Necton, fala sobre perspectivas para a economia do Brasil em 2022 (Foto: Divulgação)

“Uma taxa de juros muito baixa não necessariamente gera incentivo. Eu brinco que ‘foi a menor Selic que nunca existiu’ porque não adiantou de nada. Taxa de juro é que nem corda: serve para puxar, mas é inútil para empurrar”, diz Perfeito. 

“Estava disfuncional. É barato para alguém pegar dinheiro emprestado, mas 2% ninguém quer emprestar também. Por mais paradoxal que seja, elevar a taxa de juros pode encontrar um equilíbrio melhor para o mercado. Então, pode ajudar também um pouco a economia brasileira para 2022”.

Trabalho e renda: cenário ainda difícil

Não existem perspectivas de melhora no mercado de trabalho e na renda das pessoas em 2022, segundo os economistas ouvidos pelo InvestNews. Segundo as últimas divulgações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego caiu para 12,6% no trimestre terminado em setembro, mas essa redução ocorre em meio ao aumento do número de trabalhadores subocupados e informais. 

Os dados mostram que a informalidade responde por 54% do crescimento da ocupação no país. O rendimento real dos brasileiros encolheu e está no menor patamar desde 2012. 

“No curto prazo, o mercado de trabalho deve continuar deprimido. E, entre outras coisas, com o rendimento médio real das pessoas caindo. Não tem como imaginar para cima. Está crescendo a economia? Não. Então, por que vai subir? Não tem motivo”, diz Perfeito. 


“O que gera emprego é nível de atividade. Emprego é função de atividade. Se não tem atividade, não tem emprego. Não vai resolver o mercado de trabalho tão cedo. Você pode ter uma quantidade maior de pessoas empregadas, mas com uma renda menor”, complementa o economista.

Afinal, o que esperar do consumo?

Mercado no Rio de Janeiro com preço de frutas
Mercado no Rio de Janeiro 2/9/2021 REUTERS/Ricardo Moraes

As vendas no varejo brasileiro caíram pelo terceiro mês seguido em outubro e voltaram a ficar abaixo do patamar pré-pandemia, afetadas por inflação alta, renda parada e menor crédito, num indicativo do cenário mais difícil para consumo das famílias.

Apesar de um possível alívio na inflação em 2022 na comparação com 2021, não existem previsões de que o movimento seja forte o bastante a ponto de estimular uma volta pujante do consumo das famílias. 

“Pode ter uma melhora no ano que vem, e se reestabelecer isso tudo. Só que, para além disso, o estrago está feito na renda das pessoas”, diz Perfeito.


“Não é que vai ter deflação. Talvez não tenha inflação. Mas não vai voltar o nível de consumo. Basta ver os dados de massa salarial. Está lá embaixo em termos reais. Então, não tem como ficar otimista”, diz o economista, que acredita que “o consumo das famílias vai ficar estável ou cair” em 2022. 

Mas Vieira, por sua vez, afirma que, apesar dos juros elevados e da corrosão da renda das pessoas pela inflação, “você tem, por outro lado, perspectiva de que, de alguma maneira, vai rolar os bolsas-o-que-quer-que-seja, auxílios ou coisa parecida. Isso tem um impulsionador macroeconômico que não pode ser desprezado”, já que ajudaria a amortecer uma queda no consumo. 

Sobre esse ponto, Perfeito acredita que “algum impulso até pode ter”. “Mas não espero grande coisa, não”, diz. “A gente tem que lembrar que estão trocando Auxílio Brasil, mas tirando outras coisas. Não é exatamente que vai aumentar a quantidade de dinheiro na mão das pessoas. Na verdade, vai ter os R$ 400, mas não vai ter outros programas. Então, meio que fica elas por elas”.

O que vai ser da indústria?

Um dos setores com maior dificuldade de recuperação do baque da pandemia, a indústria ainda deve enfrentar desafios em 2022. A produção industrial brasileira iniciou o quarto trimestre ainda em dificuldades, com queda inesperada em outubro, com um recuo de 0,6% ante setembro, acumulando queda de 3,7% em cinco meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Mas Vieira aponta que existem alguns sinais positivos para o setor, “que tem que passar por um ciclo de recuperação dado o contexto que viveu nos últimos anos”. 

“No ano passado, viveu uma canibalização muito grande, o câmbio estava pior ainda do que neste ano em alguns períodos. Não tinha nada, a cadeia de suprimentos entrou neste ano também gerando problemas. A recuperação desse problema da cadeia de suprimentos agora já começa a dar sinais mais positivos em uma série de setores”, diz Vieira. 


Por sua vez, Perfeito diz que “o que vai continuar indo muito mal é a indústria”. “Uma parcela cada vez menor do PIB vai continuar decrescendo. Porque você não tem um plano claro para a indústria. Especialmente se o real se fortalecer, que é uma das hipóteses que eu tenho para o ano que vem. Não é que vai se fortalecer muito, mas acho que tem mais chance de o real ficar forte do que fraco, porque a taxa de juros vai subir.”

A ideia é que o real mais forte, apesar de reduzir os custos da indústria com insumos importados, torna os produtos de fora mais competitivos no mercado brasileiro.

Agro e serviços devem se sair melhor

Campo de trigo
Campo de trigo 16/06/2020 REUTERS/Pascal Rossignol

Vieira comenta que um dos grandes impulsos positivos para o PIB do ano que vem pode vir da agricultura, em uma “recuperação muito possível”. “Um problema climático foi um dos grandes impactantes da agricultura lá atrás. E a reversão desse problema tende a ajudar a agricultura, que tende a ajudar o PIB também”, afirma o economista. 

Sobre esse tema, Perfeito diz que a “agricultura tende a continuar num patamar bom por conta do crescimento de Estados Unidos e China”.

Para o setor de serviços, as perspectivas também são mais positivas. Vieira atribui essa expectativa à melhora da situação da pandemia de covid-19.

“Muito do que está se falando da ômicron eu acho que dá uma perspectiva um pouco melhor. Porque a variante que não matou ninguém até agora é uma das melhores notícias que poderia existir. Porque começa a dar uma sinalização do início do fim dessa crise pandêmica. Vai todo mundo vacinar todo ano, que nem gripe, e vamos embora, vida normal. Só não se sabe ainda quando isso tudo vai acontecer”, diz Vieira.  

Perfeito complementa que o setor de “serviços vai impulsionar num patamar bom, ou estável pelo menos, por conta de questões microeconômicas”. “A crise da pandemia alterou profundamente os hábitos de consumo dos brasileiros. Acho que a gente vai consumir mais serviços”, aponta.

E os investimentos?

As perspectivas para os investimentos em 2022 dividem os economistas. Vieira acredita que a chamada “formação bruta de capital fixo” (FBCF), que é a maneira como o IBGE inclui os investimentos das empresas em bens de capital no cálculo do PIB, deve ser positiva no próximo ano. 

“Você tem uma série de investimentos que foram contratados em 2021 que são realizáveis em 2022, independente do cenário. É coisa contratada, como investimentos em infraestrutura que estão encaminhados para acontecer, e que dão perspectiva de um cenário ainda positivo para o próximo ano”, afirma Vieira. 


Já Perfeito acredita que “o que vai ser ruim além do consumo das famílias é o investimento”. “O empresário investe ou porque tem que aumentar a produção porque a demanda está muito elevada – o que não é verdade agora, a gente está com ociosidade na indústria -, ou porque quer tentar diminuir custo ou coisa do tipo. Com essa taxa de juro subindo e a demanda fraca, acho que vai ficar complicada a situação do investimento no Brasil.”

‘Carrego’ estatístico

Se o resultado do PIB em 2022 ainda deve sentir os efeitos econômicos da pandemia, os estatísticos também devem fazer diferença.

A questão é o chamado “carrego”, que é basicamente a herança estatística que os últimos trimestres de cada ano deixam para o início do seguinte. Quando o desempenho da economia nos últimos trimestres do ano é mais baixo que o resultado médio do ano todo, por exemplo, significa que o ano seguinte vai partir de um cenário numericamente mais difícil.

“Um deles é estatístico. Por conta da base deteriorada de 2020 para 2021 você tem um crescimento muito forte. Essa base cresce em 2021 e tem um carrego para 2022 que faz com que, estatisticamente, você tenha um crescimento menor. Isso a gente já sabe que vai acontecer”, explica Vieira sobre o caso de 2022. 

Foto ilustrativa com gráfico do PIB do Brasil e a variação em porcentagem.

‘Crescimento em V virou raiz quadrada’

André Perfeito espera um crescimento de apenas 0,3% do PIB no ano que vem. “Vale notar que 0,3% será sobre uma base também muito baixa. Estou com uma projeção de 4,3% neste ano, que praticamente é um crescimento zero em relação ao ano anterior. A gente está numa situação bastante delicada. Tenho falado bastante que o crescimento em V virou raiz quadrada”, diz o economista. 

Vieira também fala em crescimento “fraco” – mas, ainda assim, crescimento. “Não é que vai ser um crescimento maravilhoso, não, mas também não dá para ir na onda de muita gente que está falando em crescimento negativo, PIB negativo, crescimento zero. É um crescimento fraco, mas é um crescimento.”

Veja também:

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

Abra sua conta! É Grátis

Já comecei o meu cadastro e quero continuar.

Últimas