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Negócios

De corretora cripto a unicórnio: como repetir a história do Mercado Bitcoin?

Para se tornar o 8º unicórnio mais valioso da América Latina, empresa contou com consultoria estratégica; IPO está descartado em 2021.

Uma “Cinderela” que virou “princesa”. Talvez este seja o caminho que toda startup deseja seguir para se tornar um unicórnio. Mas para transformar uma ideia inovadora em um negócio que vale mais de US$ 1 bilhão, é preciso mais que um “toque de mágica” e capacidade de sobreviver a diversas crises.

Pesquisas apontam que, antes dos 3 primeiros anos de vida de uma startup, é muito difícil saber se ela vai sobreviver. Em média, 80% delas quebram durante seu primeiro ano.

A luta pela subsistência pode até ser desleal. Nos primeiros anos de vida, a maioria das startups está focada no cliente e no desempenho operacional, porém não no produto nem na estratégia, aponta Romulo Perini, sócio-diretor da Play Studio, consultoria de inovação e venture building.

Enquanto alguns negócios morrem, outros usufruem da crise para criar estratégias robustas de negócios. Um exemplo disso é a corretora de criptomoedas Mercado Bitcoin, que recentemente se tornou o 8º unicórnio mais valioso da América Latina, com um valor de mercado de US$ 2 bilhões (R$ 10,4 bilhões), após receber um aporte de US$ 200 milhões do SoftBank.

Em 2013, quando surgiu, o Mercado Bitcoin se posicionava no mercado como uma corretora que negociava criptomoedas, principalmente bitcoin. Contudo, a dependência de uma moeda tão volátil com fortes mudanças na sua cotação complicava o faturamento da corretora e a previsibilidade do seu caixa.

Foi em 2017, quando ocorreu o período de “alt season” (temporada alternativa), que iniciou com a valorização da bitcoin, seguida pelo salto expressivo das altcoins e logo a queda de todos os criptoativos, que o Mercado Bitcoin soube que seria preciso profissionalizar a empresa para subsistir. Foi quando procurou a Play Studio para comandar a sua estratégia de crescimento.

De 2018 até hoje, o Mercado Bitcoin que conhecíamos passou por uma metamorfose, que iniciou desde o seu time de profissionais saltando de 67 funcionários para 500, além da sua base de clientes que chegou a 2,8 milhões. Se comparado ao número de investidores da bolsa brasileira, a base do Mercado Bitcoin representa 70%.

O salto também foi perceptível no volume de negociação. Desde a sua fundação até o final de 2020 foram R$ 20 bilhões em criptoativos. Contudo, só no ano de 2021, até maio, a corretora transacionou R$ 25 bilhões e ganhou 700 mil novos clientes.

Unicórnio

Em junho, o Mercado Bitcoin foi responsável por executar 2,64 milhões de operações na compra e venda de criptomoedas.

Para o segundo semestre, as metas são ambiciosas. Em entrevista ao InvestNews, Gustavo Chamati, co-fundador do Mercado Bitcoin e conselheiro do Grupo 2TM, holding controladora da plataforma, apontou que o objetivo é chegar a 700 funcionários e 4 milhões de clientes até o final do ano.

Bastante animado com os avanços da regulação do mercado de criptoativos e a procura pelos investidores, o Mercado Bitcoin até tentou abrir capital (IPO) na bolsa de valores. Contudo, Chamati releva que isso não deve acontecer mais no curto prazo. “Não teremos IPO em 2021”, garante.

Ele não nega que houve planos de ser a primeira corretora latino-americana a abrir capital, e que chegou a se organizar para isso. No entanto, quando chegou a rodada da Série B e o aporte do SoftBank, eles perceberam que ainda não estavam prontos para essa mudança. “Continuamos trabalhando no crescimento, mas sem nos preocuparmos com a dinâmica de uma companhia de capital aberto”, aponta.

Para o empreendedor que gostaria de trilhar o mesmo caminho, acompanhe a seguir como uma corretora de criptomoedas se transformou em um conglomerado com 7 negócios de investimento alternativo.  

Metamorfose do Mercado Bitcoin

Em 2017, quando a euforia no mercado de criptomoedas começou, o bitcoin chegou a saltar muito de valor, negociado em torno dos US$ 18 mil. Na época, o Mercado Bitcoin queria surfar nessa onda de crescimento, mas não sabia como preparar a empresa.

Foi quando Roberto Dagnoni, diretor-executivo e CEO do Grupo 2TM, convidou a Play Studio para montar uma estratégia de expansão para o negócio. “Eles estavam em um ritmo de crescimento acelerado, com a equipe saltando de 70 para 120 funcionários, mas a empresa não tinha um norte definido”, comenta Perini, sócio-diretor da Play Studio.

Foi em 2018, quando o mercado de criptomoedas despencou e o bitcoin chegou ao patamar de US$ 8 mil, que o sinal de alerta acendeu. Não seria possível para o Mercado Bitcoin sobreviver para sempre a essas oscilações.

Sem dinheiro para gastar na época, eles ofereceram uma participação na companhia para a Play Studio em troca de uma consultoria e a implementação de um plano estratégico. Perini explica que esta modalidade é muito comum no universo das startups, mais conhecida como Sweat Equity, a troca de consultoria por participação no capital da empresa. Nesta modalidade, a Play Studio já desenvolveu seis startups desde 2014.

Transformados em sócios, a Play Studio assumiu a missão de montar um plano de transformação do Mercado Bitcoin, implementar a governança da companhia e colocar este em ação durante o período de 1 ano e meio. A metamorfose durou até 2020.

Romulo Perini, sócio-diretor da Play Studio

Para não ficar reféns da volatilidade do bitcoin, que seria capaz de ameaçar a existência da corretora, Perini explica que foram trabalhadas novas competências alinhadas a tendências do mercado financeiro, principalmente blockchain e tokenização de ativos reais em digitais. Isso abriu as portas de um novo universo para o Mercado Bitcoin, onde investidores de varejo teriam acesso a ativos que antes eram restritos a grandes players de mercado.

Foi assim que surgiu a primeira unidade de negócios, a MBDA, focada na tokenização de ativos. De precatórios (dívidas governo com pessoas) até consórcios vencidos, a empresa pegou estas dívidas reais em tokens e vendeu frações para os investidores com retornos estimados de 16% e 8,9% ao ano, respectivamente.

“Suponhamos que existia um consórcio no valor de R$ 1 milhão. Transformamos isso em 10 mil moedas digitais que eram vendidas a R$ 100 cada, para que qualquer pessoa compre uma fração”, explica Perini.

Além destes, foi criado o Vasco Token, uma forma de negociar com os melhores clubes de futebol brasileiro, por meio de Futecoins, e seguindo o Mecanismo de Solidariedade. Quando um clube revela um novo talento e vende o jogador para um novo clube, este pode continuar sendo vendido, mas o clube formador se beneficia com até 5% de cada transferência. Esse retorno também pode ser usufruído pelo investidor pelo Vasco Token.

Além do Vasco, o Mercado Bitcoin também negocia utility tokens (que representam o acesso a um produto ou serviço) e fan tokens onde os investidores podem adquirir direitos de voto para decisões internas dos seus clubes favoritos, ganhar ingressos, conhecer jogadores do PSG, Barcelona e outros clubes. Outro aposta do Mercado Bitcoin são as DeFi, conhecidos contratos de finanças descentralizadas associados ao sistema financeiro tradicional.

Além da tokenização, que é a grande avenida de crescimento do Mercado Bitcoin, foram criadas outras soluções:

  • Meubank: carteira digital regulada pelo Banco Central, criada pela plataforma para evitar a dependência de bancos tradicionais, garantindo que os clientes transfiram recursos diretamente para o banco do Mercado Bitcoin. A solução ainda está em fase de testes.
  • Bitrust: uma custodiante de ativos digitais.
  • Clearbook: uma plataforma de equity crowfunding autorizada pela CVM para trabalhar na captação de recursos para startups que deve entrar em operação no segundo semestre.
  • Blockchain Academy: braço educacional do Mercado Bitcoin para formar profissionais e traders no mercado de criptoativos.
  • Mezapro: um balcão de operações para grandes clientes, levando o universo das criptomoedas às grandes tesourarias de empresas de capital aberto, gestoras e Family office, com uma movimentação de R$ 100 milhões desde 2018.
  • Gestora ParMais: em maio, o Mercado Bitcoin adquiriu a ParMais para desenvolver a gestão de portfólio e patrimônio como um produto para os clientes. O intuito é aproximar cada vez mais as criptomoedas do mercado tradicional.

Perini cita ainda o Gear Ventures, um fundo do Mercado Bitcoin destinado a investir em diversas startups em troca de participação.

To the Moon (2TM)

Depois de se tornar o primeiro unicórnio latino-americano de criptomoedas, inúmeros são os planos do Mercado Bitcoin para continuar se consolidando.

Gustavo Chamati cita a internacionalização da startup, levando todos estes novos produtos para mercados como Argentina, Colômbia e Chile, com o intuito de se tornar o maior player de criptoativos de toda América Latina, se adequando a legislação e dores de cada nação.

Ele também enxerga uma forte avenida de crescimento na tokenização de ativos e no Meu Bank. A plataforma de crowfunding Clearbook também deve integrar o leque de soluções neste segundo semestre.

E a Mezapro é uma das novas pupilas do Mercado Bitcoin, destinada ao mercado institucional, que segundo Chamati é muito diferente do que o investidor de varejo no mundo dos criptoativos. “Atendimento especializado, responsabilidade fiduciária, mais segurança, queremos replicar esse modelo no capital aberto como ocorreu nos Estados Unidos”, afirma.

Para isso, a Mezapro já conseguiu fisgar algumas grandes companhias negociadas na bolsa brasileira, contribuindo com operações de tesouraria. O executivo não quis relevar o nome, mas apontou que uma parceria com empresa de capital aberto será anunciada ao mercado nas próximas semanas.

Assim como o nome da holding que controla o Mercado Bitcoin indica, o objetivo da plataforma é chegar até a lua, em sentido figurado, como a conhecida hashtag #TotheMoon.

Para Chamati, a queda de mais de 50% do bitcoin não o preocupa mais. “Não representa um risco nem influencia nos nossos planos”, diz.

Fechar o ano com 700 funcionários e 4 milhões de clientes faz apenas uma parte do processo de crescimento. Segundo Perini da Play Studio, neste cenário um IPO poderia atrapalhar os planos de crescimento do Mercado Bitcoin.

Ele explica que quando as startups entram na bolsa isso aumentam a exposição do seu negócio, abrindo muitas informações para os concorrentes. A comunicação com os sócios se torna mais difícil, ampliando sua base também para os investidores. “Analistas pressionando, a necessidade de organizar um departamento de Relações com Investidores para monitorar o negócio, isso pode acabar desfocando uma startup do seu plano de crescimento”, aponta.

Embora ele não generalize, ele cita que muitas startups estrearam na bolsa ainda imaturas, principalmente as ligadas a produtos digitais e e-commerce. “Nem todas operavam no positivo, há muitos desafios de rentabilidade”.

Gustavo Chamati, co-fundador do Mercado Bitcoin e conselheiro do Grupo 2TM

Outras metamorfoses da Play Studio

O Mercado Bitcoin não foi a única startup transformada pela Play Studio. No guarda-chuva da companhia há outros players, tais como: a cerveja Praya, a startup Raízs, que distribui alimentos orgânicos, e a plataforma Torcedores. Em todas elas a Play Studio possui participação no equity.

Além de continuar desenvolvendo o Mercado Bitcoin, a companhia tem no seu radar novas oportunidades nos segmentos food tech, fintechs e healthtech, aproximando investidores anjos dos planos estratégicos.

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Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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