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Finanças

De volta aos R$ 5: o que pode fazer o dólar voltar a cair?

Contrariando previsões de que permaneceria abaixo de R$ 5, dólar voltou a subir; especialistas apontam projeções.

Notas de dólar 02/08/2011 REUTERS/Yuriko Nakao

O dólar foi em direção contrária das previsões de que se manteria abaixo de R$ 5, e voltou a subir nesta semana. Especialistas apontam fatos internos, como a piora do ambiente político, como os principais fatores que puxaram a moeda nos últimos dias, embora a alta das commodities e outros pontos também contem. A dúvida agora é se elementos que poderiam levar a moeda de volta à tendência de queda, como o aumento da Selic e a retomada da economia, vão ser suficientes para reverter o cenário. 

O dólar subiu quase 4% nesta semana, para R$ 5,2538 – após chegar a passar de R$ 5,31 na máxima do dia na quinta-feira (8). A sequência de 8 altas seguidas veio após quase 10 dias de dólar abaixo de R$ 5. No ano, o dólar voltou a ter alta acumulada sobre o real, de 1,28%. Somente em junho, o avanço foi de 5,65%. 

O que está puxando o dólar

Veja abaixo os fatores que podem fazem com que o dólar suba ainda mais e, em seguida, quais podem permitir que a moeda volte a cair. 

Pressões de alta para o dólar

Cenário político

“A política dá o tom na elevação da moeda”, afirma Antonio Marcos Samad Júnior, sócio e gestor da mesa proprietária Axia Investing. Os desdobramentos da CPI da Covid 19, denúncias de corrupção na compra de vacinas, envolvimento do nome do presidente Jair Bolsonaro no caso das “rachadinhas” e pesquisas indicando a queda de popularidade trouxeram preocupação ao mercado.

Apesar de não enxergarem o impeachment como uma possibilidade real, investidores e analistas apontam preocupações como um eventual aumento de gastos do governo para tentar reverter um desgaste de imagem, além de atraso no andamento de reformas econômicas. 

“Todo esse ruído tem feito com que os investidores estrangeiros fiquem cada vez mais descrentes”, aponta Alison Correia, CEO da Top Gain. 

“É provável que a gente veja medidas populistas para tentar recuperar a imagem. Essas medidas impactam o câmbio porque impactam o quadro fiscal, no sentido de deterioração. Isso vai afastar os investidores, ou fazer com que eles exijam mais prêmio para se posicionar no real”, complementa Bruno Komura, estrategista de RV da Ouro Preto Investimentos. 

Crise hídrica

Ainda no cenário interno, os temores sobre a crise hídrica também são citados como pontos de apreensão para o mercado. Com preocupações sobre o nível dos reservatórios e prognósticos desfavoráveis para as chuvas, o mercado começa a vislumbrar a possibilidade de racionamento de energia. 

“E falar em racionamento não é somente para a população, isso acaba atingindo também produtores. E num ano em que a gente precisaria estar focando em aceleração, porque nós estamos vindo do pico de uma pandemia que paralisou o país e boa parte da produção em 2020. Isso também é um ponto negativo que começa a trazer incertezas para o crescimento e até para a própria estimativa do PIB”, diz Correia. 

Alta das commodities 

No cenário externo, a semana foi marcada por forte volatilidade nos preços do petróleo, com o mercado de olho na indefinição de países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep)

Correia explica que esse também pode ser visto como um elemento de alta do dólar. Isso porque, com o petróleo mais caro no mundo todo, os preços dos combustíveis tendem a subir, pressionando a inflação em diversos países. Nesse cenário, bancos centrais como o Federal Reserve (Fed), dos Estados Unidos, poderiam acelerar os planos de alta de juros, o que tornaria o mercado norte-americano mais atraente e elevaria a demanda por dólar.

“Existe a possibilidade de que outros países aumentem sua taxa de juros, fazendo com que cada vez fique menos interessante estar aqui no país”, explica o especialista. 

Pressões de baixa para o dólar

Alta da Selic

Os comunicados do Comitê de Política Monetária (Copom), como a ata da reunião de junho, e declarações de autoridades do Banco Central têm indicado ao mercado uma preocupação cada vez maior com a inflação. Com as expectativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subindo, o BC segue indicando que o ciclo de alta da taxa Selic vai continuar. 

Com juros mais altos, o Brasil tende a se tornar mais vantajoso para investidores, reduzindo a pressão sobre a saída de recursos do país e também atraindo capital externo. “O Banco Central tem adotado um tom mais ‘hawkish’ (favorável a alta de juros). Ele quer segurar mesmo a inflação e vai aumentar os juros para tentar conter essa subida. A ideia é deixar as expectativas de inflação para os anos seguintes bem ancoradas. Esse é um dos pontos mais importantes”, comenta Komura. 

Retomada da economia

Um fator que pode motivar um otimismo do mercado em relação ao real é a recuperação da economia. Segundo o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do BC, considerado uma “prévia” do Produto Interno Bruto (PIB), a atividade econômica acumula uma expansão de 4,77% até abril. O ritmo da recuperação, no entanto, perdeu força.

“Enquanto a maioria das economias lá fora já está se recuperando, aqui a gente está muito dependente da vacinação, que está num ritmo baixo ainda. Mas eu acredito que agora, no segundo semestre, com a chegada de mais doses de vacinas de várias empresas, a gente comece a engatar numa retomada”, prevê Komura. 

“Pensando nesse cenário de retomada, ainda tem uma grande oportunidade no mercado brasileiro. Apostando nisso, muitos investidores vão vir, e isso vai ser bastante benéfico para o real.”

Juros nos EUA

As pistas sobre o rumo dos juros nos EUA nunca deixam o radar do mercado brasileiro. E, nos últimos dias, as indicações foram de que as taxas, que seguem quase zeradas por lá, não devem ser elevadas antes do esperado. 

A ata da última reunião do Fed, por exemplo, apontou que as autoridades avaliam que a meta de expansão da economia norte-americana ainda não foi atingida. Além disso, “a percepção dos investidores foi de que o Federal Reserve ainda vê a inflação como um fenômeno transitório”, comenta Samad. 

Se as expectativas se confirmarem, os juros nos EUA seguirão inalterados por mais algum tempo enquanto a Selic segue subindo no Brasil. Isso aumenta o chamado diferencial de juros, tornando o Brasil um mercado potencialmente mais vantajoso para investidores – o que ajuda atrair dólares para o país e evitar a saída de recursos. 

Reforma tributária também no radar

Os especialistas citam ainda a reforma tributária como um ponto importante no direcionamento do comportamento do câmbio nos próximos meses, mas dizem que não é possível avaliar no momento se pode influenciar positiva ou negativamente. 

Apesar de o projeto não ter sido bem aceito pelo mercado inicialmente, declarações posteriores sobre o tema do ministro da Economia, Paulo Guedes, foram bem recebidas. 

“Guedes colocou a reforma tributária de uma forma estranha, que não foi bem aceita pelo mercado. Agora ele até voltou atrás, sinalizando que, sim, existe a possibilidade de mexer nas opções que ele tinha colocado, o que acalmou um pouquinho os ânimos, mas ainda tem muita incerteza por trás”, comenta Correia. 

“Acabou não agradando o mercado, mas ainda tem muito a ser discutido, ainda vai ter bastante alteração”, concorda Komura, para quem a reforma tributária tem potencial de se tornar um fator de baixa para o dólar sobre o real. 

Alta x baixa do dólar: Quem ganha?

Entre os analistas ouvidos pelo InvestNews, não há consenso sobre a tendência para o dólar para o médio e longo prazo.

Para Samad, “com a economia entrando nos eixos e juros mais altos, a expectativa é de que o real se valorize frente ao dólar”. “Os ativos brasileiros ainda estão ‘baratos em dólar’. Qualquer sinal de melhora no ambiente político pode atrair o capital estrangeiro para o Brasil, pressionando a moeda norte-americana para uma cotação abaixo dos R$ 5”, diz ele. 

Komura também acredita que, para o médio e longo prazo, “o real tende a se valorizar contra o dólar”. Uma das justificativas é a expectativa de que o BC se mantenha rigoroso na alta da Selic para tentar conter a inflação. A outra são as reformas econômicas. 

“Por mais que não ocorram do jeito que o mercado espera agora neste ano ou até no ano que vem, esse é um tema do qual não tem como escapar. É inevitável a gente ter que discutir algumas mudanças que são duras para vários participantes do mercado, mas que vão ter que ser implementadas para o Brasil não ter um descontrole fiscal de longo prazo”. 

Mas Komura ressalva que, “no curto prazo, neste ano e no ano que vem, provavelmente a gente vai ver bastante volatilidade por causa da eleição, preocupação em relação a orçamento, furar teto de gasto. De vez em quando a gente vai ver estresse no câmbio, como a gente está vendo agora”. 

Por sua vez, Correia acredita que a tendência para o dólar é de alta. “Não existem fundamentos, não existe cenário, não existe contexto para se imaginar que a tendência do dólar aqui no país seja para baixo. Acredito que, com toda essa turbulência política, todas essas questões internas, essa questão inflacionária, essa questão de commodity, as eleições se aproximando, a probabilidade e a movimentação é muito mais plausível de ser para o dólar ir para cima, e não para baixo”, diz ele.

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Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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