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Onde investir seu dinheiro em 2021? 5 casas de análise respondem

De commodities a fundos imobiliários, próximo ano deve ser marcado por juros baixos, risco fiscal e o chamado ‘stock picking’.

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O ano de 2020 deve ser lembrado como um divisor de águas para o investidor brasileiro: juros no menor nível da história, volatilidade (seis circuit breakers) e a migração da renda fixa para a renda variável. Diante do cenário ainda imprevisível para a economia e o quadro fiscal do país, onde investir em 2021? Para responder a esta pergunta, o InvestNews consultou cinco casas de análise: Levante Investimentos, Nord Research, Inversa, Eleven Financial e Suno Research, para apontar os melhores investimentos para o próximo ano.

ESPECIAIS FIM DE ANO:

Após uma das piores crises dos últimos tempos, o mercado espera que a recuperação econômica seja impulsionada em 2021 pela vacinação em massa contra a covid-19 e a reabertura dos países desenvolvidos após a segunda onda da pandemia. Segundo projeção da Eleven Financial Research, a recuperação será puxada pelo cenário internacional, com a China como principal propulsor da retomada. O país asiático se consolidou como líder global nos últimos meses após a rápida recuperação do seu PIB (Produto Interno Bruto) e indicadores como as vendas do varejo.

Os Estados Unidos, com o democrata Joe Biden mais perto da presidência, também devem favorecer os mercados globais graças a sua política de estímulos econômicos que deve ajudar a acelerar o consumo americano. Entre as consequências, o mercado espera um dólar mais baixo e maior fluxo de investimentos estrangeiros ingressando em países emergentes como o Brasil. Para analistas, este seria o melhor dos mundos para a bolsa de valores local.

Olhando para a macroeconomia, o cenário parece otimista, com a projeção do Focus de um crescimento de 3,5% do PIB até o final de 2021. Bruce Barbosa, sócio-fundador da Nord Research, aponta que o Brasil voltou ao mesmo patamar do inicio de 2020, apenas com um bônus: a recuperação cíclica. “Mesmo se 2021 for ruim, será considerado um ano muito bom em relação à recuperação da pandemia”, diz.

Apesar do otimismo, o mercado deve manter a cautela com a piora do risco fiscal no próximo ano, de olho em como o descontrole das contas públicas pode impactar a dívida pública e, talvez, atrapalhar a retomada da economia. Estas incertezas são os maiores pontos de atenção, com potencial de impactar os ativos de riscos, como a bolsa de valores.

Mais um ano para a renda variável

Segundo as casas de análise, 2021 será caracterizado como mais um ano favorável para a renda variável. Enquanto com a ausência de recuperação do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), a renda fixa permanece apenas como alternativa para criar uma reserva de emergência ou uma reserva de oportunidade (dinheiro em caixa para comprar ativos baratos).

Isso porque os juros estão historicamente baixos (a Selic está em 2% ao ano) e, mesmo que voltem a subir, não devem voltar aos tempos antigos. Segundo o último Boletim Focus do Banco Central, a expectativa é de que os juros cheguem a 3% em 2021, enquanto a inflação medida pelo IPCA deve chegar a 3,34% no próximo ano. Assim, permanece o risco de os investimentos em renda fixa terem juro real negativo – quando o retorno de uma aplicação é menor que a inflação do período.

Com a morte confirmada do CDI (Certificado de Depósito Interbancário, indexador que acompanha a Selic), há um universo de oportunidades na renda variável, segundo as casas de análise consultadas. Algumas companhias negociadas na bolsa que apanharam na pandemia continuam bastante descontadas e devem retomar com força no próximo ano. A projeção da maioria das casas de análise é que o Ibovespa, principal indicador da B3, chegue aos 130 mil pontos em 2021, enquanto alguns mais otimistas já apontam 150 mil.

No entanto, neste fluxo de recuperação, nem todas as companhias devem voltar ao ritmo pré-crise. Por este motivo, Rafael Bevilacqua, estrategista chefe da Levante Investimentos, defende que 2021 será o ano do “stock picking”, termo designado como a escolha minuciosa das ações de empresas com potencial de valorizar acima da média do mercado.

“Não dá para esperar um movimento de forte alta generalizada da bolsa em 2021. O investidor precisará olhar para ações com qualidade, bastante descontadas no mercado, setores que ficaram para atrás”, explica.

Miniciclo das commodities

Uma alternativa de investimento apontada pela maioria das casas de análise procuradas pela reportagem são as ações de empresas ligadas a commodities. Segundo Flávio Conde, head de análise da Inversa Publicações, companhias cujos negócios têm relação com o petróleo, minério de ferro, frigoríficos e o setor de papel e celulose devem viver um “miniciclo de alta” nos próximos dois ou três anos. Isso graças à demanda vinda da China, principal parceiro comercial do Brasil, que está reaquecendo a economia global.

Desta forma, empresas exportadoras de minério de ferro e aço, entre elas a mineradora Vale (VALE3) e siderúrgicas como a CSN (CSNA3), Usiminas (USIM5) e Gerdau (GGBR4) e Gerdau Metalúrgica (GOAU4) devem ter um bom desempenho em 2021. Segundo Eduardo Guimarães, especialista em ações da Levante Investimentos, a China vai continuar “comendo” minério de ferro da Vale, o que garantirá o crescimento do setor de siderurgia, que por efeito deve aumentar o preço do aço no mercado interno.

No lado do petróleo, com a recuperação da cotação dos barris de Brent (Londres) e WTI (EUA), que voltaram a ser negociados acima de US$ 40, as petrolíferas guardam um futuro promissor, especialmente a PetroRio (PRIO3) considerada pelo mercado como a “nova Petrobras” por seu endividamento baixo e a eficiência em comprar campos maduros e otimizar a produção por meio de “clusters”, reduzindo custos. A companhia é uma das opções da Nord Research e da Levante Investimentos para o próximo ano.

Olhando para o setor de papel e celulose, Klabin (KLBN11) e Suzano (SUZB3), além da retomada chinesa, se beneficiam pela reabertura econômica global. Conde explica que os EUA e Europa são grandes consumidores de papelão, tendo em vista que muitas mercadorias são enviadas em caixas deste material. No Brasil, o crescimento do e-commerce puxado por Amazon e Magazine Luiza (MGLU3), devem contribuir também com a compra do papelão para as encomendas. Este fluxo beneficia a Klabin, que por sua vez também favorece a Suzano, fabricante de celulose, matéria-prima do papel.

Ainda segundo a Levante Investimentos, estas companhias vivem um momento ”morro acima” e têm uma tendência positiva no longo prazo, não se limitando apenas aos ganhos de 2021.

Segundo Raphael Figueiredo, analista técnico da Eleven Financial, companhias ligadas ao mercado de proteína como os frigoríficos Minerva (BEEF3), JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3) estão se consolidando, o que foi perceptível nos balanços do 3º trimestre, e têm um grande mercado consumidor lá fora. “Olhando para esse ritmo de atividade global, o mercado de proteína é uma boa alternativa para a carteira”, apontou em live.

Ações que ficaram para trás

Além das commodities, a Levante destaca como alternativas interessantes companhias do setor de saúde, que devem consolidar seu crescimento por meio de aquisições e estão em um bom setor para se posicionar em meio ao envelhecimento da população brasileira. Uma companhia citada por Guimarães, é a Rede D’Or (RDOR3) que abriu capital recentemente e já está entre as 10 maiores empresas da bolsa de valores.

No mercado doméstico, ele cita também o setor de construção civil voltado para o segmento de média e alta renda. O varejo de alimentos com companhias como Pão de Açúcar (PCAR3) e Grupo Matheus (GMAT3) e o setor de infraestrutura, com destaque para companhias de saneamento básico.

Bevilacqua, que também faz parte da Levante, acrescenta às recomendações três setores: bancos, varejo físico e shoppings. Para o especialista, companhias como Multiplan (MULT3), Iguatemi (IGTA3) e brMalls (BRML3) estão ainda descontadas e devem permanecer no raio do investidor.

Flávio Conde, da Inversa, também enxerga boas possibilidades nos bancos e shoppings. Entre as recomendações da casa estão companhias aéreas e o setor de turismo, além das commodities. Segundo o head de análise, as aéreas foram as primeiras a sofrer na pandemia e devem ser as últimas a se recuperar totalmente. A previsão da casa é que no mês de julho de 2021, a receita seja semelhante a julho de 2019. “Mas a recuperação será forte e o mercado já está precificando isso desde agora”, avalia.

Veja também: GOLL4 E AZUL4: as ações das aéreas vão decolar?

Bruce Barbosa, da Nord Research, enxerga nas locadoras de automóveis como Localiza (RENT3) e Movida (MOVI3) oportunidades de valorização pela recuperação do setor. Mesmo com a fusão da Localiza e Unidas, que pode criar uma empresa quatro vezes maior que a Movida, ele está confiante porque a compra deve provocar a competitividade no setor beneficiando o investidor e forçando a Movida a reagir mais rápido.

Em relatório, Barbosa anunciou as suas três ações favoritas para 2021: Unidas (LCAM3), MRV (MRVE3) e PetroRio (PRIO3). “Compramos empresas que são ótimas hoje, estão em uma dinâmica de resultados consistente e negociam a preços baixos”, apontou.

Fora do olhar comum, a Suno Research aposta em três companhias um pouco diferentes das escolhidas pelas outras casas de análise. A companhia de alimentos M. Dias Branco (MDIA3), a elétrica Alupar (ALUP11) e a Telefônica Brasil (VIVT3) integram as suas recomendações para 2021.

Renda passiva também é opção

Para os investidores mais conservadores, que estavam acostumados com poucas oscilações da renda fixa, os especialistas recomendam começar na renda variável por meio de duas alternativas: ações que pagam dividendos e fundos imobiliários.

Segundo Guilherme Tiglia, analista de ações da Nord Research, as vantagens de investir neste tipo de ativo é que o retorno dos dividendos (conhecido como dividend yield) está cada vez mais atrativo. No caso das ações pagadoras de proventos, elas também podem valorizar, proporcionando ao investidor duas frentes de ganho. “O momento atual com a situação das contas públicas exige cautela, por isso é bom privilegiar a resiliência com companhias que devem sobreviver mesmo considerando um cenário difícil no futuro”, aponta Tiglia.

Além disso, dividendos ainda oferecem a vantagem de serem livres de Imposto de Renda, além de costumarem gerar retornos acima da taxa Selic, atualmente no patamar de 2% ao ano. Entre as companhias escolhidas pelo analista para 2021, que podem dar retorno de acima de três vezes a taxa de juros, estão:

  • Itaúsa (ITSA4): a holding vem entregando um retorno sobre patrimônio (ROE) acima de 15% nos últimos anos, consistentemente mais lucrativa que o índice Ibovespa, que beira na casa dos 10% a.a. O yield esperado de dividendos para 2021 é de 7,5% a.a, mais do que 3 vezes a Selic.
  • AES Brasil (TIET11): uma das maiores companhias no segmento de geração elétrica no Brasil, a empresa está se beneficiando pela diversificação do seu portfólio em energia renovável. AES Brasil tem contratos longos e capacidade de honrar o pagamento de proventos. O yield esperado de dividendos para 2021 é de 8% a.a.
  • Banrisul (BRSR6): considerado um banco tradicional focado no varejo e agronegócio, o yield esperado de dividendos para 2021 é de 7% a.a.

Ainda entre as melhores pagadores de dividendos para 2021, a Suno Research destaca duas companhias:

A primeira é a Telefônica Brasil (VIVT3). Segundo a casa de análise, pode ser o melhor dividend yield do mercado no próximo ano. Tudo isso graças à estratégia de expansão da companhia aliada a sua boa gestão financeira e operacional. “A companhia está bem posicionada para distribuir generosos proventos. Nos últimos trimestres, houve um esforço para controlar custos e despesas e aumentar o faturamento”, apontou a casa de análise em relatório.

E a segunda é a Taesa (TAEE11), uma das principais companhias do setor de energia focada no segmento de transmissão. Segundo a Suno, a vantagem da companhia frente as concorrentes é que trabalha exclusivamente neste nicho. Então mesmo que pouca energia seja utilizada ou exista pouca demanda no mercado, a companhia continua com receita. A alta do IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) também beneficia a Taesa, que tem sua receita corrigida por este índice.

E se você não é muito chegado em ações, existe outra alternativa para ganhar dividendos em 2021: os fundos imobiliários (FIIs). Bastante descontados em 2020, os ativos devem seguir a lógica dos “últimos serão os primeiros” e valorizar com força na retomada econômica.

Segundo Flávio Conde, da Inversa, a queda dos fundos imobiliários foi muito exagerada durante a pandemia. Ele afirma que as pessoas acreditaram que o novo normal seria o home office, mas isso não vai acontecer porque nunca houve condições tão favoráveis e juros tão baixos para o financiamento imobiliário quanto nesta crise. Desta forma, além das pessoas financiarem a casa própria, há investidores que decidem realocar os recursos da renda fixa em compra de imóveis físicos e também em fundos imobiliários.

Saiba mais: Fundos imobiliários: o que você precisa saber para investir

Por este motivo, o ativo se torna uma boa opção para quem quer receber dividendos e ainda usufruir da recuperação do mercado. A Suno cita entre as suas recomendações 3 FIIs: HGRU11 (FII CSHG Renda Urbana), IRDM11 (FII Iridium Recebíveis Imobiliários) e HSML11 (FII HSI Malls).

Se você não tem, é bom comprar

Por último, mas não menos importante, as casas de análise consideram as ações small caps (representadas pelo índice SMLL) como os ativos com melhor desempenho para 2021. Muitas destas pequenas companhias ainda estão bastante descontadas e são ótimas oportunidades de crescimento, segundo eles. Por serem companhias de menor porte, há muito espaço para a valorização em comparação com empresas grandes da bolsa. Em consequência, os retornos para o investidor também são maiores.

Na Easynvest, o analista Murilo Breder lançou recentemente uma carteira com oito small caps de diversos setores. A escolha dos ativos foi feita com base em bons fundamentos e com potencial de valorização de 20% a 30% em 2021.

Para os investidores que buscam se proteger da variação cambial e ter acesso a setores fortes e promissores, os especialistas recomendam investir também em ações estrangeiras e BDRs.

Para quem gosta de ativos considerados descorrelacionados – que costumam ir bem quando todos os investimentos estão ruins – uma opção é aplicar entre 5% e 10% do patrimônio em criptomoedas. “Estes são ativos resilientes que acumularam ganhos acima de 100% em 2020, provando o seu valor”, diz Conde da Inversa.

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