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Finanças

Agronegócio pode ser protagonista da economia em 2022, dizem analistas

Segundo especialistas consultados pelo InvestNews, é bom momento para investir no setor.

Pessoa segura saco de pano tendo ao fundo campo de colheita

Impulsionador do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, apontado por economistas como único motor da economia em 2022 e com o recorde de abertura de capital de empresas do setor na bolsa de valores brasileira em 2021, o agronegócio pode ser protagonista da economia neste ano, impactando positivamente os investimentos no setor, segundo especialistas ouvidos pelo InvestNews.

Regis Chinchila, analista da Terra Investimentos, explica que as perspectivas para o agronegócio brasileiro são favoráveis em 2022. Segundo ele, o mercado no Brasil, uma das principais economias do mundo no setor, promete se beneficiar dos preços das commodities neste ano, além da demanda consistente por alimentos, tanto no mercado interno quanto externo, que sustenta as perspectivas favoráveis para produção e preços agrícolas.

“O Brasil deverá continuar se destacando, com nova safra recorde de soja, recuperação dos volumes de milho e alta competitividade em proteínas animais. A expectativa de continuidade da retomada econômica mundial, aliada aos estoques globais apertados, deve seguir favorecendo o cenário para exportações de soja, milho e açúcar”, diz Chinchila.

Sérgio Berruezo, analista de research da Ativa Investimentos, aponta ainda que as tensões geopolíticas na Ucrânia, estiagem na região sul do Brasil, junto da depreciação do real, da perspectiva de um PIB baixo, com consumo recuando, desemprego alto e juros elevados fazem com que o agronegócio continue se destacando.

“Este cenário tende a ser ruim para empresas que têm demanda doméstica. E o agronegócio não é isso, é um business de exportação. Esses fatores fazem com que os produtos do agronegócio se valorizem”, afirma Berruezo.

Agronegócio na bolsa de valores do Brasil

Segundo dados da provedora de informações financeiras Economatica, atualmente, são 10 as empresas dos segmentos açúcar e álcool e agricultura com capital aberto na bolsa de valores brasileira, sendo que quatro delas fizeram seu IPO somente em 2021. Confira:    

EmpresaCódigoSegmentoInício na B3
AgrogalaxyAGXY3Agricultura23/07/2021
3tentosTTEN3 Agricultura 08/07/2021
Boa SafraSOJA3 Agricultura 28/04/2021
Jalles MachadoJALL3Açúcar e alcool05/02/2021
SLC AgrícolaSLCE3 Agricultura 14/06/2007
São MartinhoSMTO3 Açúcar e alcool 09/02/2007
Terra SantaLAND3 Agricultura 21/11/2006
BrasilagroAGRO3 Agricultura 28/04/2006
PomifrutaFRTA3 Agricultura 25/02/2005
AlipertiAPTI4 Agricultura 01/06/1998

Fonte: Economatica                                

Apesar disso, Berruezo avalia que o agronegócio é um setor subrepresentado na bolsa brasileira e que um dos motivos é a existência de outras formas de financiamento subsidiado ao agronegócio que, historicamente, tem suprido a vontade das empresas de captar recursos, além dos próprios créditos direcionados.

Outra questão, segundo o analista da Ativa Investimentos, é que o agronegócio brasileiro é muito fragmentado em suas cadeias.

Para este ano, Berruezo considera que este cenário de abertura de capital do setor não deve ganhar força, devido ao aumento de juros no Brasil, nos Estados Unidos, expectativa de PIB baixo, junto a um período de mais volatilidade, que é comum em anos eleitorais.

Já Chinchila considera que mais empresas do setor podem abrir capital na bolsa de valores do Brasil, pois é uma fonte importante para captações de recursos, gerando um negócio sustentável a longo prazo, mas que dependerá das condições econômicas do país e da modernização das empresas do setor que permitam uma estrutura financeira adequada para atrair investidores.

“Ano passado, grandes empresas do agronegócio fizeram IPOs. A expectativa para 2022 no agronegócio é positiva, mas precisamos monitorar de perto o cenário político e econômico atual, o que deve gerar volatilidade”, alerta o analista da Terra Investimentos.

André Ito, sócio da MAV Capital, acrescenta outro fator que pode ter impulsionado o movimento de novas empresas na bolsa de valores brasileira: reflexo da evolução do segmento. Segundo ele, as companhias estão investindo em governança, em transparência, e, naturalmente, passam a ter acesso a um novo “tipo de bolso”, que é o mercado de capitais.

Outras maneiras de investir no agronegócio

Além das ações de empresas do setor listadas na bolsa de valores brasileira, o investidor conta com outras opções para investir no agronegócio, como, por exemplo, o Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro) e a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA).

O Fiagro é uma modalidade nova de investimento. O primeiro fundo começou a ser negociado na bolsa de valores brasileira em 14 de outubro de 2021.

Segundo a B3, os Fiagros foram inspirados nos Fundos Imobiliários (FIIs) e ajudam a financiar o agronegócio ao possibilitar que o investidor direcione seus recursos para o setor, através de fundos que fazem aportes em propriedades rurais ou até cotas de outros títulos como CRAs (Créditos de Recebíveis do Agronegócio) e CPRs (Créditos de Produtos Agrícolas).

Os Fiagros são negociados no mercado de bolsa da B3, podendo ser acessados por meio das corretoras. Ou seja, para investir em Fiagro é preciso ter conta em uma corretora.

O patrimônio do fundo é dividido em cotas, que são colocadas à disposição para negociação no mercado à vista da B3. O investidor pode comprar uma ou mais cotas que, além de poderem registrar variação de valor, pagam dividendos mensais para quem tem esse ativo na carteira.

São três os tipos disponíveis: Direitos Creditórios (Fiagro-FIDC), Imobiliários (Fiagro-FII) e Participações (Fiagro-FIP). E, assim como os FIIs, os Fiagro são isentos do Imposto de Renda sobre os dividendos distribuídos aos investidores, porém, o investidor terá de pagar imposto caso faça a venda de uma cota que se valorizou.  

Outra opção é investimento no agronegócio é a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA), que é um título de renda fixa emitido por bancos destinado ao setor de agronegócio.

Esta modalidade de investimento é protegida pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), o que assegura até R$ 250 mil por instituição financeira e CPF, além de ser isenta de Imposto de Renda.

Um novo cenário se desenha para o agronegócio?

De acordo com a Secretaria de Comércio e Relações Internacionais (SCRI) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, as exportações do agronegócio alcançaram valores recordes para o mês de dezembro de 2021 e também para o ano passado. Foram US$ 9,88 bilhões, valor recorde para os meses de dezembro: 36,5% superior aos US$ 7,24 bilhões de 2020. Em 2021, o total exportado com o agronegócio resultou em US$ 120,59 bilhões, alta de 19,7%, em relação ao ano anterior

Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), no ano de 2021, o saldo da balança comercial total brasileira foi de US$ 61,2 bilhões, resultado do superávit de aproximadamente US$ 105,1 bilhões dos produtos do agronegócio e do déficit de cerca de US$ 43,8 bilhões nos demais produtos.

Ainda segundo projeções da CNA, o PIB do agronegócio deve crescer 9,37% em 2021 e até 5% em 2022.

Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, coordenador científico do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), explica que o agronegócio é um setor bastante integrado internacionalmente do ponto de vista das suas exportações, que representam em torno de 25% do seu PIB. Segundo ele, as exportações do agronegócio aproximam-se da metade do total brasileiro.

Para Barros, no mercado interno, a demanda deverá seguir relativamente fraca em conformidade com o crescimento muito baixo esperado para 2022. Mas, segundo o coordenador do Cepea, há, porém, um aspecto altamente relevante e, provavelmente, positivo para o agronegócio que se relaciona ao programa de transferência de renda, pelo fato de se estimar que 53% dos recursos transferidos foram dispendidos em alimentação, equivalendo a 20% do valor bruto de produção agropecuário do ano.

Em relação ao exterior, Barros aponta que as exportações deverão manter seu desempenho, mesmo que os preços internalizados sofram queda moderada. “São bem conhecidas e reconhecidas a competividade e a resiliência do agronegócio brasileiro. Essas características serão mais uma vez postas à prova diante do quadro preocupante do suprimento de insumos altamente dependentes de importação”, aponta.

Regis Chinchila, analista da Terra Investimentos, afirma que o crescimento acentuado da produção nas últimas décadas não tem sido acompanhado pelo investimento em logística e infraestrutura, o que resultou em um déficit da capacidade de armazenamento no plano nacional.

“A infraestrutura deficiente vem provocando impactos negativos em toda a cadeia logística do agronegócio, via perda e desperdício de alimentos, bem como no aumento dos custos de escoamento dos insumos agrícolas (custo do transporte dos produtos são 4 vezes maiores do que nos EUA e Argentina). Do ponto de vista econômico, essas ineficiências acarretam investimentos desperdiçados que podem aumentar o custo dos produtores e as despesas dos consumidores”, destaca Chinchila.

Desta forma, o analista da Terra Investimentos acredita que o setor precisará avançar cada vez mais no investimento em infraestrutura e financiamento para construção e expansão logística do agronegócio no Brasil.

Para Ito, o setor do agronegócio no Brasil consolidou-se como um dos mais eficientes do mundo graças ao significativo investimento em tecnologia no campo, modernização das empresas, ganhos de governança, melhores práticas ESG (Ambiental, Social e Governança) e, por fim, um melhor acesso a capital de terceiros.

Segundo o sócio da MAV Capital, tudo indica que o agronegócio deverá ampliar seu protagonismo e um dos vetores para essa nova onda de crescimento será a disponibilidade de recursos mais adequados para o financiamento do setor.

Ito, no entanto, aponta que a falta de acesso ao crédito de longo prazo por parte dos pequenos e médios produtores é um dos principais gargalos para que a expansão do agronegócio brasileiro seja ainda mais pujante, mas, segundo ele, esta conjuntura vem mudando com a tendência de desintermediação bancária e o crescimento do mercado de capitais que, cada vez mais, passa a cumprir seu papel no Brasil como financiador do setor produtivo no longo prazo.

“O protagonismo do agronegócio vem aumentando no PIB e a tendência é que se mantenha ou possa expandir. Os outros segmentos da economia acabam sendo atingidos pelo reflexo da pandemia e da inflação e o agronegócio acaba sofrendo um pouco menos nesses cenários e, ainda com preços das commodities como estão,  e a maioria delas são dolarizadas, a tendência é que a representatividade no PIB continue significativamente alta”, diz Ito.

É bom momento para investir no agronegócio?

Chinchila considera que as ações ligadas ao agronegócio continuam atrativas pelo potencial de crescimento, geração de valor e diversificação em 2022, em um ano que promete ser de alta volatilidade pelo cenário político incerto devido às eleições presidenciais, aumento na taxa de juros e inflação elevada.

O analista da Terra Investimentos destaca que o agronegócio apresenta algumas características interessantes quando se pensa em diversificação de carteira de ações. Segundo ele, de certa maneira, é possível considerar o setor como mais defensivo para a carteira de investimentos,  ou com uma volatilidade teoricamente menor, já que não tem correlação com a economia interna, mas, sim, aos ciclos globais.

“Investimento no agronegócio é uma excelente forma de diversificação de retorno. A dinâmica econômica do setor não está relacionada diretamente com o desempenho do mercado financeiro. Terras para plantio de culturas tradicionais (milho, soja e algodão) possuem geração consistente de caixa e, portanto, ótima forma de trazer previsibilidade na distribuição de rendimentos”, avalia Chinchila.

Sérgio Berruezo aponta, no entanto, que, assim como todos os setores da bolsa de valores, o investimento em ativos do setor de agronegócio também tem vantagens e desvantagens.

Segundo o analista, a vantagem do agronegócio sobre outros setores é o fato de ele estar ligado a uma cadeia global e, com isso, o investidor “escapa” de fatores como o cenário de juros alto e PIB baixo, por exemplo. Outra vantagem, segundo Berruezo, é o setor estar ligado a uma moeda forte.

Por outro lado, entre as desvantagens, de acordo com o analista  da Ativa Investimentos, está o fato de serem empresas de commodities. Assim, da mesma forma que o clico está bom em algum momento, por outro, pode se reverter, como, por exemplo, com o risco dos preços dos fertilizantes.

“As empresas costumam concentrar as compras de fertilizantes em uma vez só, então, as flutuações de curto prazo não tendem a impactar muito o resultado delas, mas se tiver uma tendência a um prolongamento de altas ou preços elevados isso pode ser ruim. A questão da Ucrânia também coloca risco, pois 40% do gás consumido na Europa vem da Rússia. Se colocarem sanção contra a Rússia, encarece o gás e fertilizantes nitrogenados, feito a partir de gás natural. Então, isso tudo pode impactar negativamente”, alerta Berruezo.

André Ito considera como positiva a perspectiva para investimento em ativos do agronegócio.

“O ano de 2022 é desafiador por causa do cenário politico-eleitoral, mas é um bom momento para investir em ativos do setor. Se o investidor procurar o produto certo, ele tende a entregar rendimentos maiores ao investidor e tem o benefício de poder fazer investimento que tenha um tratamento fiscal mais favorável, como em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e em Fiagro”, afirma Ito.

O sócio da MAV Capital alerta, no entanto, que vale a pena investir em ativos relacionados ao agronegócio, mas sempre respeitando o perfil de investimento de cada investidor. “É um setor muito representativo dentro do PIB e que tem que estar refletido na carteira dos investidores”, destaca Ito.

O que avaliar e como escolher ações do agronegócio?

Berruezo  recomenda que, para quem deseja investir em ações do setor, é preciso considerar, de forma geral, os principais fatores quando se analisa empresas e ações de outros segmentos, como: escolher empresa com histórico solido de gestão, de gestores com boa reputação, de companhias com possuam bom alinhamento com acionistas, empresas que não sejam muito alavancadas, que tenham vantagens competitivas, sejam fortes e mais eficientes que conseguem produzir por hectares uma produção maior que os competidores.

“Isso tudo pode ser uma forma de investir nestas empresas. Antes de investir, é importante entender o que a empresa faz, pois, no agronegócio, nem sempre é fácil de compreender, já que existem safras diferentes. É muito importante estudar bastante para entender antes de investir”, alerta o analista de research da Ativa Investimentos.

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Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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