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Economia

Crise bancária lá fora não deve adiantar corte da Selic, dizem economistas

Apesar de integrantes da Fazenda apontarem expectativa, especialistas apontam peso maior sobe expectativas de inflação.

Enquanto o cenário de juros altos nas principais economias é apontado como o “vilão” que fez eclodir a crise bancária que tem assustado os mercados financeiros, as expectativas sobre os próximos passos dos bancos centrais ganharam ainda mais atenção. No Brasil, integrantes do governo chegaram a falar em corte adiantado da taxa Selic, mas especialistas veem essa possibilidade com desconfiança. 

Segundo fontes do governo que falaram anonimamente à agência Reuters, o debate sobre a antecipação do corte da Selic ganhou força no Ministério da Fazenda após a quebra do SVB nos EUA e a crise do Credit Suisse na Europa. Parte da equipe econômica avalia ser possível uma antecipação do afrouxamento monetário pelo Banco Central. 

Após a divulgação da crise no SVB, no fim da semana passada, houve uma diminuição dos juros futuros locais. A taxa dos contratos de DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2024 estava em 13,16% na última sexta-feira (10) e caiu para 12,96% nesta quarta-feira (15), em meio à expectativa de que o BC poderá ser levado a reduzir a Selic mais rapidamente do que o esperado.

Nesta quinta-feira (16), as taxas dos contratos futuros de juros voltaram a avançar, em um movimento de correção. No fim da tarde, a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2024 estava em 13,035%.

Porém, também há quem acredite que os juros futuros estão caindo pela redução das taxas no exterior, por paridade, não por uma antecipação do mercado financeiro em relação aos movimentos do BC diante desse novo cenário. 

Entre os economistas, a avaliação é de que o impacto da crise bancária no exterior sobre os rumos da Selic deve ser pequeno. “É claro que sempre estamos sujeitos a mudanças de cenário, principalmente com as incertezas sobre o setor bancário no exterior, mas neste momento é pouco provável que o Copom antecipe o início de afrouxamento monetário”, diz Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

Thiago Calestine, economista e sócio da DOM Investimentos, avalia que “o BC obviamente olhou para o que aconteceu com o SVB, mas olha muito mais para as expectativas de inflação para tomar as decisões”.

“Isso (a crise) obviamente está no radar do BC, mas como os bancos aqui no Brasil são bem mais saudáveis que lá nos EUA por ter uma concentração bancária maior, melhores índices de Basileia e de mobilidade, isso faz com que a estrutura bancária brasileira seja mais resiliente que a americana. Então, o BC olha para isso, mas está muito mais preocupado com as expectativas de inflação interna do que qualquer outra coisa”, acrescenta Calestine.

Na mesma linha, Fernando Bento, CEO e sócio-fundador da FMB Investimentos, aponta que “a crise bancária internacional é desinflacionária, porém há outros fatores relevantes que impactam a decisão do Copom”. 

“Em particular vemos uma desancoragem das expectativas inflacionárias pelos participantes do mercado. O BC deve precisar de mais tempo para enxergar melhoras neste tema antes de baixar os juros”, diz Bento.

Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos, acredita que “é difícil imaginar hoje os juros caindo no Brasil porque estamos tendo uma inflação por demanda, ou seja, criação de empregos e aumento real de salário”.

“A única forma de combater uma inflação por demanda é aumentando os juros. Com isso, é muito difícil imaginar que o Brasil cortará juros a não ser que o Fed tome uma decisão muito drástica por lá, o que eu duvido”, diz Brasil.

Corte da Selic já na semana que vem é improvável 

Prédio do Banco Central em Brasília 29/10/2019 REUTERS/Adriano Machado

Segundo os relatos de integrantes da Fazenda à Reuters, não há expectativa de que um corte de juros ocorra já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana que vem. Mas a pasta vai observar os sinais no comunicado do BC sobre o que poderá ser feito nos encontros seguintes do colegiado.

O mercado também não precifica cortes já na próxima reunião. Segundo dados da B3 sobre contratos de opção de Copom, considerando a expectativa do mercado, a probabilidade de manutenção da taxa Selic em 13,75% na reunião da semana que vem é de 92,5%. Também é vislumbrada uma possibilidade de corte de 0,25 ponto, mas a probabilidade é bem menor, de 7,2%.

Para a reunião de maio, porém, as projeções estão bem mais divididas: 60% de chance de manutenção, 19,32% de corte de 0,25 ponto e 16,14% de queda de 0,5 ponto.

“A curva de juros futuros não mostra qualquer chance, no momento, de redução na reunião da próxima semana, com alguma probabilidade de ocorrer no comitê de maio. Entretanto, a maioria no mercado ainda tem a expectativa de que o Copom só começará a reduzir a Selic em junho, quando pode ser mudada a meta de inflação”, comenta Nishimura. 

Expectativas do governo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros membros do governo têm feito diversas críticas ao patamar da Selic. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na estar “preocupado” com o mercado de crédito brasileiro, e qualificou como “muito forte” a virada dos juros no Brasil.

De acordo com Haddad, a redução da taxa de juros pelo Banco Central estava “programada” para acontecer no início deste ano, o que acabou não ocorrendo. Segundo ele, quando o governo soltou o primeiro pacote de medidas econômicas, a expectativa era de que contribuísse para a decisão do BC de baixar a taxa básica de juros Selic.

Mesmo nesse cenário, no entanto, o mercado não espera que os juros caiam mais cedo que o projetado. Ainda assim, as tensões entre o governo e o BC seguem no radar.

Lucas Almeida, sócio da AVG Capital, aponta que “o Banco Central tem sido pressionado constantemente por membros importantes do Governo Federal na tentativa de fortalecer uma narrativa de recessão/crise e questionar as decisões do comitê sobre os juros e a meta da inflação”.

“Os novos temores de uma recessão no Brasil e uma possível crise no mercado de crédito adicionam mais pressão aos membros do Copom e geram mais dúvidas sobre a trajetória dos juros nos próximos meses. O último Caged apontou o encerramento de 431 mil novos postos em dezembro e confirmou a desaceleração da geração de empregos no último trimestre do ano passado”, comenta ele.

Juros lá fora

Nesta quinta-feira, o Banco Central Europeu(BCE) elevou as taxas de juros em 50 pontos-base, como prometido, ignorando a forte turbulência no mercado financeiro gerada pela crise bancária.

O Federal Reserve, banco central dos EUA, se reúne na próxima semana para decidir o rumo da taxa de juros. Investidores estão divididos, com parte das expectativas se concentrando em um aumento menor da taxa de juros na comparação com movimentos anteriores, a 0,25 ponto percentual. No entanto, há quem veja possibilidade de pausa nos aumentos. 

Mas a maioria dos economistas espera que o Fed continue seu ciclo de alta de juros em resposta à inflação alta. De acordo com economistas consultados pela Bloomberg News, o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) dos EUA elevará a taxa básica em 0,25 ponto percentual em sua reunião de 21 a 22 de março, e fará mais dois aumentos iguais nas reuniões seguintes. Isso elevaria os juros de referência dos EUA para uma faixa de 5,25% a 5,5%.

“A taxa de juros americana, ainda mais com esses últimos acontecimentos, duas quebras de instituições importantes, é muito difícil que essa taxa vá para 6%. 5,5% é bem factível como taxa terminal”, opina Calestine.

( * com informações da Reuters)

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