Com a taxa básica de juros em 9,25%, a renda fixa está ganhando mais adeptos, e deve ficar assim pelo menos até o primeiro semestre de 2022. Investidores que buscam se proteger em ano eleitoral, da volatilidade dos mercados e a inflação em disparada, encontram nos ativos mais conservadores boas oportunidades.
Mas será que tudo o que brilha é ouro? Afinal, como diz o mercado, “a renda fixa nem sempre é fixa”. Então, como encontrar as verdadeiras oportunidades? O InvestNews consultou 6 especialistas em renda fixa que apontaram os melhores investimentos para 2022 e as melhores alternativas do mercado, além dos riscos que cada aplicação envolve.
Como a renda fixa remunera os investidores?
Antes de dar os primeiros passos na renda fixa, o investidor precisa entender que existem três formas de ser remunerado neste tipo de investimentos. O analista Eduardo Perez, da corretora NuInvest, explica que a primeira categoria de ativos são os títulos pós-fixados.
Neles, o investidor não sabe ao certo quanto vai receber no vencimento do título, porque a rentabilidade deste será corrigida por um indexador que acompanha a variação dos juros, seja a Selic ou o CDI (certificado de depósito interbancário). Então, se a Selic subir, o rendimento do título também aumenta.
A segunda forma de remuneração na renda fixa é por meio de algum índice de inflação, seja IPCA ou IGP-M com o acréscimo de uma taxa de juro real. Ou seja, juros pagos acima da inflação.
Estes títulos são conhecidos como híbridos ou indexados à inflação.
A terceira alternativa é por meio de uma taxa prefixada. O investidor concorda com uma remuneração fixa na hora de comprar o título e sabe de antemão quanto vai receber no vencimento.
Esta taxa não depende de mudanças de juros ou variação da inflação. Ela simplesmente não muda apesar das oscilações macroeconômicas. São os chamados títulos prefixados.
Quais são os principais investimentos de renda fixa?
Luciana Ikedo, assessora de investimentos e sócia na RV4 Investimentos, aponta que as aplicações em renda fixa se dividem em três categorias:
- Títulos do Tesouro: o investidor está emprestando seu dinheiro para o governo em troca de juros. Nesta categoria, é possível encontrar ativos como Tesouro Selic, Tesouro Prefixado e Tesouro IPCA+.
- Títulos de emissão bancária: exemplos são os CDBs (Certificado de Depósito Bancário), LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LCA (Letra de Crédito do Agronegócio). Ao comprar um CDB, o investidor empresta seu dinheiro aos bancos em troca de juros. Estes, por sua vez, utilizarão estes recursos para emprestar para empresas e clientes pessoa física ou jurídica. Os CDBs podem ser pós-fixados, híbridos ou prefixado. No caso da LCI, o investidor também empresta dinheiro aos bancos e os recursos são utilizados para operações lastreadas no financiamento imobiliário. Na LCA, o financiamento vai para o agronegócio. LCIs e LCAs também podem ser pós-fixadas, híbridas ou prefixadas. No entanto, estes ativos se diferenciam do CDB por serem isentos de Imposto de Renda.
- Títulos de emissão privada: nesta categoria estão as debêntures, instrumentos de dívida por meio dos quais as empresas se financiam no mercado de capital. O investidor que adquire uma debênture está emprestando seu dinheiro para a empresa emissora. Há também o CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários) e o CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), em que o investidor empresta seu dinheiro para companhias privadas que financiam negócios nestes segmentos.
Vantagens para iniciantes
Francis Wagner, CEO do App Renda Fixa, explica que pela baixa volatilidade e por contar com a garantia do Tesouro Nacional, o Tesouro Selic é um ótimo investimento para quem está começando. “É uma alternativa mais rentável que a poupança”, diz.
Além de ser um dos investimentos mais seguros do mercado, Wagner cita como vantagem a possibilidade de investir em frações de um título. Atualmente, é possível comprar 1% do seu valor unitário desde que seja superior a R$ 30.
No site do Tesouro Direto, é possível encontrar duas opções no mês de dezembro: o Tesouro Selic com vencimento em 2024 e o Tesouro Selic com vencimento em 2027. O valor mínimo de compra é a partir de R$ 110.
Para o investidor que prefere aplicar em títulos bancários, Wagner aponta o CDB como opção interessante, que permite realizar investimentos a partir de R$ 1 em algumas corretoras e bancos digitais. “Para quem está começando, pode ser muito importante até para ganhar confiança nesse tipo de ativo”, defende.
Entre as vantagens de investir em CDBs, Wagner cita a garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) com um limite de proteção de até R$ 250 mil por CPF e conglomerado financeiro.
Desta forma, o investidor pode investir em bancos menores que apresentam um risco maior, por causa desta proteção. Outra vantagem é que alguns CDBs apresentam liquidez diária, com a qual o investidor não precisa esperar até o vencimento do título para resgatá-lo.
Para os investidores leigos, há ainda a alternativa de investir via fundos de renda fixa, delegando a gestão do investimento para o profissional que gerencia o fundo. Nesta categoria, o investidor não precisa conhecer todas as classes de ativos e tem seu risco minimizado.
Segundo Wagner, fundos de renda fixa apresentam baixa volatilidade, utilizam geralmente o CDI como benchmark (referência) e permitem investimentos com valores baixos. Além disso, estes fundos contam com uma carteira de ativos diversificados e a gestão de profissionais de mercado.
Rentabilidade da renda fixa: como calcular?
Para calcular quanto rendeu seu investimento na renda fixa, Eduardo Perez, analista da NuInvest, explica que existem três fórmulas.
A primeira é para encontrar seu percentual total de retorno no investimento. Para isso, o investidor precisará calcular a diferença entre o valor esperado no vencimento e o valor aplicado.
“Normalmente as taxas de rentabilidade são expressas ao ano e sem levar em conta o imposto de renda no vencimento”, afirma.
Cálculo da rentabilidade
Para este cálculo, tem a seguinte fórmula:
(Valor atual – Valor investido) / Valor investido” ou então: “(Valor atual / Valor investido) – 1”. Esse será o percentual total de retorno.
Suponhamos que o investidor tenha aplicado R$ 1.000 em um ativo de renda fixa e recebido R$ 1.200 em 2 anos. Seguindo a fórmula, teríamos: (1.200 – 1.000) / 1.000 = 0,20 ou 20% em 2 anos.
Estes 20% seriam o retorno total do investimento.
Mas como o ativo teve um vencimento de 2 anos, para calcular qual seria a taxa de retorno ao ano, o investidor precisaria fazer a equivalência, seguindo esta outra fórmula:
“[(1 + Rentabilidade total) ^ (1 / prazo total em anos) – 1] *100”
Adaptando os valores, teríamos: [(1+0,20)^(1/2)-1]*100 = 0,0954 ou 9,54% ao ano.
O investimento deu um retorno de 9,54% ao ano.
Existe ainda uma terceira fórmula para calcular a taxa equivalente de uma renda fixa isenta de Imposto de Renda comparada a um CDB, por exemplo. O cálculo é: “taxa de rentabilidade isenta / (1-alíquota de IR)”
Vale lembrar que na renda fixa existe uma tabela de Imposto de Renda regressiva, que vai de 22,5% até 15%, a depender do prazo. Quanto maior o tempo de resgate, menor o IR cobrado:
- Alíquota de 22,5% (até 180 dias)
- Alíquota de 20% (de 181 a 360 dias)
- Alíquota de 17,5% (de 361 a 720 dias)
- Alíquota de 15% (acima de 720 dias)
Exemplificando: se o investidor comprou uma LCI que paga 89% do CDI com vencimento em 2 meses, o cálculo seria 89% / (1-0,225) = 114,84%
Ou seja, a rentabilidade líquida dessa LCI seria a mesma de um CDB que paga 114,84% do CDI.
Vale a pena investir na renda fixa em 2022?
A opinião dos seis especialistas consultados pelo InvestNews é unânime: renda fixa não pode faltar na carteira do investidor em 2022, principalmente quando se fala em reserva de emergência.
Com o Brasil enfrentando inflação, volatilidade, problemas econômicos fruto da pandemia e ano eleitoral, a renda fixa surge como uma alternativa de proteção, aponta Pedro Albuquerque, analista de portfólios e advisory do Inter.
Cabe ao investidor decidir de qual risco quer se proteger e como usufruir melhor do cenário macroeconômico. Para aqueles que buscam ganhar com os juros em alta e se proteger da volatilidade, os títulos pós-fixados podem ser uma boa alternativa, afirma Albuquerque.
Já para os que preferem se proteger de uma inflação elevada, títulos atrelados ao IPCA são mais efetivos. “O ideal é balancear a carteira de maneira que o investidor consiga ficar tranquilo com oscilações de mercado e também ter uma rentabilidade significante”, reforça Eduardo Perez, da NuInvest.
Melhores investimentos em renda fixa para 2022
Veja a seguir os ativos favoritos apontados por cada especialista em renda fixa consultado pelo InvestNews:
Favoritos da Eleven Financial
Para Daniel Onaga, analista de renda fixa da Eleven Financial, diante do cenário incerto em 2022, a expectativa é que o mercado apresente forte volatilidade nos preços. Em consequência, o primeiro risco a ser mitigado seria o de liquidez. “O investidor deve fugir de investimentos de baixa liquidez que o impossibilitem resgatar seus recursos e realocá-los de acordo com situações de mercado”, defende.
Ele também aconselha ter em conta o prazo do título, preferindo títulos mais curtos, com prêmios atraentes e menos exposição às variações dos juros no mercado.
Seguindo estes fatores, o analista recomenda três ativos para investir em 2022:
- Tesouro prefixado com vencimento em julho de 2024: por se tratar de uma rentabilidade fixa, Onaga acredita que no cenário atual um prefixado com vencimento curto é interessante, porém se levado até o vencimento já que o preço e rentabilidade muda com as condições de mercado.
- Tesouro Selic com vencimento em setembro de 2024: no atual cenário de taxa de juros cada vez maior, o Tesouro Selic está atrativo, segundo o analista.
- Tesouro IPCA com vencimento em agosto de 2026: além da Selic, a inflação também está apresentando uma trajetória de alta e com a continuação das pressões inflacionários Onaga defende que é importante ter seus investimentos rendendo acima da inflação.
Ainda segundo o analista, por terem ampla liquidez e menor sensibilidade às variações nas taxas do que títulos mais longos, nada impede que conforme o cenário se torne mais claro, o investidor possa realocar seu portfólio em novos ativos.
Favoritos do Inter
Pedro Albuquerque, analista de portfólios e advisory do Inter, recomenda alguns investimentos com vencimento de até 5 anos, para que o investidor esteja disposto a segurar o título até o vencimento e aguentar a volatilidade.
Entre as alternativas sugeridas pelo analista, estão:
- Tesouro IPCA: títulos públicos emitidos pelo Tesouro atrelados à inflação, porque vão permitir que o investidor tenha um ganho real, superior à inflação no período.
- CDB pós-fixado: o investimento deve acompanhar a variação dos juros e ainda conta com garantia do FGC, permitindo ao investidor surfar na alta da Selic com segurança.
- Debêntures incentivadas: títulos de dívida emitidos por empresas privadas, mas que não contam com a proteção do governo ou do FGC. Os rendimentos tendem a ser maiores e são destinados para projetos de infraestrutura no Brasil. Estas debêntures incentivadas também têm isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas.
Enquanto os juros e a inflação continuarem subindo, o analista aconselha aos investidores ficarem de fora de títulos prefixados, evitando retornos negativos.
Favoritos da NuInvest
Para Eduardo Perez, analista da NuInvest, as melhores alternativas para 2022 são:
- Tesouro Selic 2024: menor risco de crédito e oscilação. O ativo serve também como alternativa para formação da reserva de emergência.
- Tesouro IPCA+ 2026: se beneficia com a alta da inflação em um prazo relativamente curto e ainda remunera um prêmio em juros além do IPCA.
- CDBs de liquidez diária que entreguem pelo menos 100% do CDI: oferecem liquidez e rentabilidade. Entre as alternativas, Perez recomenda o CDB do Banco Br Partners, que rende 110% do CDI, com vencimento em 27 de novembro de 2022. O ativo pode auxiliar a capturar o movimento de alta da Selic.
- LCIs e LCAs híbridos com vencimento até 2023: oferecem prazos relativamente curtos e se beneficiam caso a inflação permaneça elevada.
- Fundos de renda fixa indexados à inflação de curto prazo: é o caso do Fundo ARX Elbrus FI Infraestrutura, que pode garantir ganhos acima da inflação e isentos de Imposto de Renda. O fundo tem um prazo de resgate de até 31 dias.
Favoritos do App Renda Fixa
- Tesouro IPCA: remunera acima da inflação, ou seja, um retorno em juros reais. A recomendação de Francis Wagner é pelo Tesouro IPCA+ 2026 que apresenta menos volatilidade.
- CDBs com liquidez diária: tais como o CDB do Banco BMG, que remunera 110% do CDI.
- CDBs sem liquidez diária: CDB do Banco Bari, remunera 130% do CDI com vencimento em 2 anos.
- LCAs e LCIs: garantidos pelo FGC e sem cobrança de Imposto de Renda. Entre estes, LCI do Banco Bari, com rendimento de 110% do CDI e vencimento em 2 anos. E LCA do Banco Sofisa, também com vencimento em 2 anos e rendimento de 110% do CDI.
- Fundos de renda fixa: para investidores com perfil de risco moderado. O fundo SPARTA DEBENTURES INCENTIVADAS FI RF CP, segundo ele, permite aplicações a partir de R$ 1000, isento de imposto de renda, com taxa de administração de 0,8% ao ano. O fundo tem prazo de resgate D+32, ou seja, não é uma boa alternativa para reserva de emergência, aponta Wagner.
- Outro fundo, para perfis mais conservadores, segundo ele, é o TG LIQUIDEZ I FIRF, também com aplicação a partir de R$ 1000. O fundo tem taxa de administração de 0,31% ao ano e sua performance tem superado o CDI nos últimos meses.
Favoritos da RV4 Investimentos
Segundo Luciana Ikedo, assessora de investimentos e sócia da RV4, as melhores oportunidades na renda fixa para 2022 estão em ativos que acompanhem a Selic ou o CDI, para pegar carona na alta dos juros. Entre estes, CDB, LCI, LCA e Tesouro Direto.
E nos ativos indexados à inflação, que deve continuar pressionada no 1º semestre de 2022.
Favoritos da Suno Research
Vinicius Romano, especialista em renda fixa da Suno Research, aponta que considerando o cenário econômico atual, os títulos pós-fixados, que seguem Selic ou CDI, são os mais interessantes porque passam a render mais com o aumento da taxa de juros.
No caso dos CDBs, Romano cita algumas campanhas feitas por corretoras de oferecer CDBs com rendimento de 200%, 300% do CDI com prazo limitado de até 3 meses. “Sempre bom ficar de olho, o investidor pode encontrar opções interessantes de bons emissores e protegidos pelo FGC”, diz.
Segundo o analista, é possível encontrar oportunidades também em títulos prefixados curtos, com vencimento de até 3 anos e títulos indexados à inflação de médio prazo, com vencimento de até 5 anos.
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